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Publicada em 15 de Julho de 2025 às 18:16

Fluidez entre físico e digital é vital para varejo crescer

Um dos grandes desafios é a coexistência de um público de diversas gerações que tem diferentes formas de ver a vida e de consumir

Um dos grandes desafios é a coexistência de um público de diversas gerações que tem diferentes formas de ver a vida e de consumir

/TÂNIA MEINERZ/JC
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Karen Viscardi
Com seis gerações consumidoras, formadas por pessoas exigentes e informadas, de múltiplos perfis e necessidades de produtos e serviços, e que transitam entre o físico e o virtual, muitas vezes ao mesmo tempo. Essa descrição de compradores demonstra o tamanho do desafio do varejo. Por outro lado, nunca o lojista teve tantas ferramentas disponíveis, seja de gestão ou para conhecer, atrair e ajudar a fortalecer o relacionamento com seu consumidor.
Com seis gerações consumidoras, formadas por pessoas exigentes e informadas, de múltiplos perfis e necessidades de produtos e serviços, e que transitam entre o físico e o virtual, muitas vezes ao mesmo tempo. Essa descrição de compradores demonstra o tamanho do desafio do varejo. Por outro lado, nunca o lojista teve tantas ferramentas disponíveis, seja de gestão ou para conhecer, atrair e ajudar a fortalecer o relacionamento com seu consumidor.
O cenário é complexo: consumidores vão dos baby boomers, ainda ativos no mercado, até os emergentes da geração Beta, definidos como nativos da Inteligência Artificial. Essa geração, que começa a surgir agora, já nasce em um contexto em que a IA faz parte do dia a dia. Já os Alfas (ou Gen A, a partir de 2010) não diferenciam o físico do digital, enquanto os Z (nascidos entre 1996 até 2012) são nativos digitais por excelência. Este público intergeracional tem diferentes formas de ver a vida e de consumir. Neste contexto, os mais jovens influenciam os mais velhos. Os da faixa Z e da Alfa influenciam as demais a partir de informações que obtêm mais naturalmente nas redes sociais, por exemplo.
Os nascidos no grupo Z, hoje, detêm grande poder de persuasão e representarão 50% do potencial de consumo até 2027. São jovens que trabalham, muitos inclusive em atividade extra além de CLT, e que têm outra relação de consumo, privilegiando propósito e sustentabilidade.
"A Geração Z quer renda e ter seu próprio negócio, serem líderes de si mesmos. Buscam cada vez mais uma segunda atividade da qual são os donos. Pelo volume e tendência, é com eles que as marcas irão falar, geração Z é tendência", detalha o coordenador estadual de varejo do Sebrae-RS, Fabiano Zortéa.
É preciso considerar a convivência entre diferentes gerações, cada uma com comportamentos de consumo próprios. "O lojista precisa ser efetivo ao atender o público jovem focado no online, mas também manter coerência com a experiência oferecida na loja física", explica o professor Vinícius Brasil, coordenador do Laboratório de Experiências de Consumo (Labex), e um dos responsáveis pela pesquisa O consumidor gaúcho. O professor Brasil alerta para a importância de manter consistência no posicionamento e na linguagem da marca em todos os canais, já que o cliente pode transitar entre eles com facilidade. "Não à toa vemos empresas criando marcas para dialogar com públicos específicos", diz. Um exemplo é a Renner, que lançou a Youcom para se conectar com os jovens.
Com a crescente diversidade geracional entre consumidores e o avanço acelerado da IA, os varejistas enfrentam o desafio de entregar experiências integradas e personalizadas tanto no ambiente físico quanto no digital. Embora a IA já esteja sendo amplamente utilizada no varejo, ainda há baixo conhecimento por parte do consumidor sobre a sua presença, detalha o professor. "É baixo o percentual de quem tem consciência se foi atendido por Inteligência Artificial ou não. A IA já está confundindo as pessoas", afirma o coordenador do Labex. Apesar do crescimento da adoção dessas tecnologias, as avaliações dos consumidores em relação ao atendimento por IA ainda são insatisfatórias, o que representa um desafio para o setor.
Iniciativas como a da startup Mark, parceira do Labex, surgem como soluções tecnológicas para varejistas de menor porte. A empresa oferece uma plataforma que integra todos os processos de venda e gestão, uma alternativa para quem não dispõe de grandes estruturas tecnológicas. "É o robô do empreendedor", resume Brasil. A Mark, inclusive, é o sistema que opera por trás da loja-conceito do Sebrae no shopping Praia de Belas, em Porto Alegre.
A Mark entrega uma estrutura de comércio unificado, conceito que vai além do omnichannel. Permite que as operações física e digital funcionem como um único sistema, oferecendo recursos de e-commerce, controle de estoque, CRM, emissão de notas fiscais e programas de fidelidade. "Hoje, o varejo precisa muito mais do que ter loja física e um site. Precisa de integração total, da frente ao fundo do balcão", destaca Fernanda Fernandes, que está à frente da empresa junto com o sócio Rômulo Raffin.
 

Plataforma unifica sistemas das operações

/TÂNIA MEINERZ/JC
A solução de Unified Commerce da Mark, que em português é traduzida como comércio unificado, coleta dados reais e automatiza ações, que passam a ser baseadas no comportamento de compra do cliente, permitindo a criação de promoções hiperdirecionadas, por exemplo. Outro diferencial é a nota fiscal integrada, sem precisar usar o sistema TEF, o que reduz custos para o lojista. A plataforma é capaz de mapear o comportamento do consumidor e prever necessidades.
"Se um cliente compra determinada ração a cada 30 dias, a plataforma pode avisar quando está acabando e sugerir uma nova compra", exemplifica a proprietária Fernanda Fernandes.
Por meio de parcerias com a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) e com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Mark atende marcas em diferentes estágios de desenvolvimento, desde negócios em fase inicial até empresas estruturadas que buscam aumentar produtividade e receita. "Mais do que tecnologia, oferecemos estrutura e inteligência de mercado", comenta Fernanda. Entre os serviços complementares oferecidos pela Mark estão: gestão de assinaturas, programas de fidelidade, clubes de vantagens e funcionalidades, como campanhas de indicações, ideais para negócios como petshops, clínicas, farmácias e lojas de moda, entre outros. O modelo de negócios da empresa é baseado em comissão sobre o faturamento, que varia dependendo do segmento, tíquete médio e volume de vendas. "Não cobramos mensalidade. Ganhamos junto com o lojista", reforça Fernanda.
 

Couro descartado com design autoral embarca na tendência de personalização

Para o diretor da Panvel, o cliente é omni, ou seja, varia suas compras entre o digital e a loja física, com um comportamento híbrido

Para o diretor da Panvel, o cliente é omni, ou seja, varia suas compras entre o digital e a loja física, com um comportamento híbrido

/TÂNIA MEINERZ/JC
Ao transformar materiais descartados em peças de design autoral, a Re,sí ateliê se consolida em um modelo de negócio baseado na sustentabilidade. A marca gaúcha nasceu há cinco anos do desejo de produzir manualmente e de repensar a lógica de consumo na moda — uma das indústrias mais poluentes do mundo.
"Nosso propósito é repensar a forma de produção, principalmente na moda. A sustentabilidade faz parte da minha história e da minha formação. Não tem mais como pensar o mundo de outra forma", afirma a designer e proprietária, Amanda Py.
A Re,sí trabalha com retalhos de couro reaproveitado, o que permite criar peças exclusivas, com design cuidadoso e preços acessíveis. "A gente acredita que todo mundo poderia e deveria ter um produto de design com valor justo", diz. Embora a sustentabilidade seja central, o design é o que mais atrai o público: "Hoje, o motivo da compra é mais o desejo e o design do que a questão sustentável, mas nosso compromisso com isso não muda".
Mesmo que o apelo ambiental seja um fator determinante para a geração Z, hoje o maior público consumidor da marca é formado por mulheres acima de 30 anos. "Acho que a gente atinge por causa da presença digital e também por influencers queridos que usam e postam por conta própria. Assim, acabamos atingindo mais gente do que o nosso público específico, mas não é um produto que o jovem consome mais", revela.
As peças da re,sí são criadas em um modelo de slow fashion, sem estoques, com produção manual sob demanda. Toda a operação — da criação à confecção — acontece no mesmo espaço, onde a loja funciona no térreo e a produção no andar de cima. "O cliente pode subir, ver o couro, escolher. O desenvolvimento nunca é fechado só em mim. Todo mundo participa: equipe e até clientes."
A marca tem dois best-sellers: a pochete Pitanga, presente desde o início, e sua versão maior, a Guaraná. A cada semana chegam novos produtos, mas a lógica é guiada pela matéria-prima disponível no mercado. "Não criamos couro novo, compramos pronto e aproveitamos ao máximo."
A loja física funciona de forma integrada ao atendimento digital feito via Instagram e WhatsApp — também tocado pela equipe. "Temos uma comunicação muito afetiva. Somos muito indicados, é uma pessoa que vira cliente e recomenda para amigo. E entendemos que as pessoas buscam no online o mesmo acolhimento da loja física." O site da marca, que ficou fora do ar após a enchente, será relançado em agosto com novo layout.
Mesmo com pandemia e enchentes, a Re,sí segue crescendo, inclusive no setor corporativo. "A gente perdeu muito, mas isso nos fortaleceu. A gente criou uma conexão com as pessoas que vai além do produto e da venda. Tenho uma comunidade que me incentiva, tanto clientes quanto fornecedores e colegas de trabalho. É isso que nos permitiu seguir mesmo nos momentos mais difíceis", ressalta Amanda.
Na enchente de 2024, a empresa foi atingida diretamente, o que fez a proprietária trocar de endereço, saindo do bairro Floresta e migrando para o bairro São João.
O fortalecimento da marca entre os consumidores fez crescer as vendas da Re,sí, que começou a atingir novos públicos. O canal de vendas corporativas se ampliou.
Este ano, já produziram brindes para Sicredi, Itaú, Banco do Brasil, Hospital Moinhos de Vento, entre outros.
O carro-chefe são os pequenos acessórios feitos com sobras de couro, como marcadores de taça, chaveiros e identificadores, que também acompanham as compras como brindes, reforçando o propósito de gerar o mínimo de resíduos. A personalização é outro diferencial, especialmente em datas como o Dia dos Professores. "Gravamos o nome do cliente ou do presenteado, letra por letra, à mão. É um processo muito querido, que reforça o valor afetivo das peças", diz a empreendedora.
 

Dicas para consumo consciente, digital e local

Fabiano Zortéa, consultor de varejo do Sebrae-RS, cita as adaptações necessárias

Fabiano Zortéa, consultor de varejo do Sebrae-RS, cita as adaptações necessárias

UILLIAN VARGAS/DIVULGAÇÃO/JC
Questões sociais, ambientais e a ascensão de novas gerações vêm transformando profundamente a forma como os brasileiros consomem. O consultor de varejo do Sebrae-RS Fabiano Zortéa observa que o fortalecimento da compra local e o uso híbrido de canais refletem uma mudança de mentalidade influenciada pela crise climática e pelas novas formas de se relacionar com marcas. Segundo ele, "o cuidado com o entorno nunca foi tão importante".
A Geração Z, protagonista na transformação digital do consumo, já nasce com um olhar mais atento à sustentabilidade e valoriza marcas transparentes, especialmente as que estão no bairro. "Eventos climáticos criam um sentimento de comunidade. A cada três dias de chuva entramos em alerta, e as pessoas cuidam umas das outras. Isso se reflete também no consumo", pondera.
Confira as dicas a seguir preparadas por Zortea.
Atender ao desejo por consumo local e sustentável
Há preferência crescente por compras locais pelas gerações mais jovens. Valorizam sustentabilidade, transparência e conexão no bairro. É preciso se adaptar ao consumidor consciente e engajado.
Equilibrar presença física e digital
Consumidores esperam uma experiência fluída entre o ambiente físico e o digital. É necessário manter o mesmo tom de voz, atendimento e disponibilidade em todos os canais. Um bom atendimento presencial não compensa resposta demorada no WhatsApp.
Oferecer conveniência e agilidade
O tempo das pessoas se tornou um recurso valioso. Mais da metade dos consumidores acham que comprar dá mais trabalho do que gostariam. O desafio é tornar a experiência fácil e conveniente.
Acompanhar o comportamento multigeracional
Seis gerações consomem de formas diferentes, mas os mais jovens, como as gerações Z e Alfa, influenciam os mais velhos. O varejo precisa entender essas dinâmicas e adaptar sua oferta.
Falar com a Geração Z, que já tem poder de compra
Estima-se que essa geração será responsável por 50% do consumo até 2027. Eles têm múltiplas fontes de renda, querem empreender e valorizam marcas que dialogam com seus valores.
Especializar-se em nichos
O pequeno varejo, em especial, deve buscar relevância ao se especializar em públicos específicos, em vez de tentar competir com grandes marcas em escala e preço. Pesquisa de mercado direcionada ajuda a entender e servir melhor o nicho escolhido.
Integrar inteligência artificial para facilitar decisões de compra
Aplicações de IA, como resumos de avaliações de clientes, ajudam os consumidores a tomarem decisões com mais rapidez e segurança. Incorporar essas tecnologias é um passo importante para acompanhar as expectativas.
Analisar não só a jornada de compra, mas a jornada de vida
Entender os momentos em que o consumidor tem mais ou menos tempo disponível e como isso influencia sua escolha entre o físico e o digital é fundamental para oferecer soluções adequadas ao estilo de vida atual.
 

Varejo com alma e sustentabilidade é aposta de empreendedora que se inspirou em Nova York

Fabi Nunes criou uma marca para vender joias de ouro de 18k de segunda mão

Fabi Nunes criou uma marca para vender joias de ouro de 18k de segunda mão

Cristiano Andujar/Divulgação/JC
Com autenticidade e propósito como pilares, a Brizza Joias nasceu em 2024 da união entre sustentabilidade e sofisticação. Fundada por Fabi Nunes e Leandro Ouriques, a marca surgiu durante uma imersão do Sebrae-RS, quando acessaram o mercado norte--americano de second hand, em português, segunda mão. “Queríamos circularidade e uma proposta de valor real. Um produto amado por alguém pode e deve viver uma nova história”, conta Fabi.
Especializada em joias de ouro 18k second hand, a Brizza tem conquistado espaço em Porto Alegre e Florianópolis, seus principais mercados, com uma proposta de luxo consciente e experiência afetiva. Em março, a marca passou por um rebranding — antes chamada de Brida — e adotou o nome atual, ampliando a estratégia e reforçando o conceito de slow retail (em tradução literal, varejo lento).
As joias são garimpadas por meio de recommerce de clientes, marketplaces de desapego e leilões. “Trabalhamos com autenticidade, buscamos ourives e tecnologias para certificar ouro e pedras. Cada peça tem uma história e carrega um valor simbólico”, explica. A rastreabilidade é prioridade, assim como a transparência na origem das peças. A sustentabilidade vai além do discurso. A cada joia vendida, a marca planta uma árvore na Amazônia, em parceria com a Quimea Brasil. E o impacto é mensurável: uma única peça reaproveitada economiza 6 mil litros de água e evita a emissão de 40 kg de CO2.Estes são os indicadores para produzir uma nova joia.
Sem loja física tradicional, a Brizza aposta no social commerce. As vendas ocorrem no Instagram, WhatsApp e, mais recentemente, TikTok- aberto em maio e que é uma tendência como canal de vendas. “Queremos um atendimento customizado, direto e afetivo. Usamos IA para criar descrições de produtos, automatizar atendimentos e planejar o futuro da marca”, explica Fabi. Foi criado um agente em IA para Brizza, um mentor interno, um chatbot treinado com linguagem personalizada que atende os clientes sem que percebam que é uma inteligência artificial. A experiência é o centro da estratégia. As joias acompanham aromas personalizados, playlists com a música favorita do cliente e carta da marca, criando momentos de pausa e conexão.
“Queremos que cada compra seja uma experiência sensorial e emocional. É sobre valorizar a a autenticidade ea beleza da mulher”, destaca Fabi. A atuação da Brizza se inspira em benchmarks como The Real Real(brechó de luxo norte-americano),além de lições extraídas nas imersões internacionais com o Sebrae durante a NRF Retail’s Big Show, promovida pela National Retail Federation, maior associação de varejo do mundo.
Lá, Fabi trouxe ensinamentos de Lee Peterson e Kevin Arvir. “Entendemos que o varejo não acabou, mas sim o varejo sem alma, sem conexão emocional e sem propósito.” Segundo relatório da GlobalData para a especialista em revendas ThredUp, as vendas globais de roupas usadas aumentaram 18% no ano passado, para US$ 197 bilhões, e a previsão é de que cheguem a US$ 350 bilhões em 2028.“É um setor em ascensão que une propósito, economia e inovação. E nós queremos fazer parte disso, criando uma marca que não apenas vende, mas transforma a relação das pessoas com o consumo”, afirma Fabi.

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