Até o final do ano, a meta da Randoncorp - marca adotada pelas empresas Randon em maio - é colocar no mercado 50 carretas 100% elétricas. Um projeto inédito no mundo e totalmente desenvolvido, ao longo de três anos, no Sul do Brasil, demonstra o papel estratégico no desenvolvimento de novas tecnologias que pode ser considerado um símbolo do que o Rio Grande do Sul passa a representar no caminho de internacionalização da empresa originária da Serra Gaúcha. Atualmente a oitava maior empresa do mundo no seu setor, a meta é fechar 2023 entre os seis principais players mundiais.

"Somos uma empresa com 74 anos, mas com uma jovialidade que se traduz nas inovações, e é isso o que a nova nomenclatura da empresa representa. Ao longo dos últimos anos, muita coisa mudou na empresa. De uma fabricante de semirreboques, que hoje respondem por 35% da nossa produção, passamos a ser uma desenvolvedora de tecnologia de vanguarda. Estamos cada vez mais internacionalizados, mas a nossa base e onde desenvolvemos a maior parte dos nossos produtos, com a maior parcela dos investimentos, continuará sendo o Rio Grande do Sul. Todos os nossos eixos de negócios têm o Estado com algum nível de protagonismo", aponta o CEO da Randoncorp, Sérgio Carvalho.

Com sede em Caxias do Sul, a Randoncorp mantém mais de 50 operações ao redor do mundo, em 120 países, com 16 mil colaboradores, sendo 13,5 mil no Rio Grande do Sul. Para todas as operações, a perspectiva é investir em 2023 _ sem considerar aquisições e pesquisa _ até R$ 370 milhões, o que equivale a 7% a mais do que os R$ 346,8 milhões de 2022. De acordo com Carvalho, a maior parte será destinada a operações no Rio Grande do Sul. Entre aportes anunciados e em execução _ incluindo aquisições no Estado _, a Randoncorp desembolsa pelo menos R$ 125 milhões no Rio Grande do Sul.

Parte deste recurso serão os R$ 60 milhões a serem investidos ao longo dos próximos cinco anos na nova unidade de produção para tecnologias de eletromobilidade, da Suspensys _ o braço responsável pelos sistemas de eixos e suspensões da Randoncorp _, a Suspensys E-Mobility, inaugurada em abril em Caxias do Sul. Este é o coração da produção das novas carretas elétricas, com uma estrutura fabril inédita na América Latina.

"No passado, sempre olhávamos para a Alemanha para ver o que tinha de mais moderno no universo dos transportes, das carretas e dos semirreboques. Agora, o que eu vi foi um fabricante europeu apresentar um projeto bem básico e inferior de carreta com tração elétrica. O nosso projeto, que começamos a desenvolver em 2019, pesa a metade do deles e é mais inteligente. A tecnologia desenvolvida no Rio Grande do Sul é vanguarda no mundo", garante o gestor.

De acordo com Sérgio Carvalho, o objetivo deste projeto era reduzir o consumo de combustíveis fósseis na operação logística, com uma economia média de 25% de diesel a cada viagem com a tração elétrica na carreta.

A busca de soluções para os transportadores envolve ainda aporte de R$ 10 milhões neste ano para ampliação da linha de produção, com previsão de conclusão em outubro, na Frasle Mobility _ outro braço da Randoncorp _, também em Caxias do Sul. É lá que a empresa desenvolve os produtos da marca Composs, que são componentes mais leves para veículos pesados, que chegam a reduzir o peso em até 60%.

"A indústria tem alta demanda por essas soluções com materiais compostos, mas a fibra de carbono chega a custar 300% a mais do que o aço. Nós temos conseguido desenvolver essa solução com tecnologia própria e mais barata", aponta o CEO da empresa.

O resultado é uma parceria já firmada com a fabricante de caminhões Iveco.

Boa parte das novas tecnologias colocadas em prática pela Randoncorp tem origem no seu Centro Tecnológico, em Farroupilha, considerado um dos maiores e mais modernos do Estado. E lá, a empresa tem executado seus investimentos na mudança de matriz energética. Foi concluído um investimento de R$ 7,2 milhões em uma usina fotovoltaica, com 2,3 mil painéis solares.

Também na Serra, inicia este ano, com prazo para entrega em 2024, o aporte de R$ 17 milhões na implantação da caldeira verde na fábrica da Frasle Mobility. É o resultado da substituição do gás natural por componentes recicláveis para gerar o vapor às prensas que operam na produção de autopeças, pastilhas e lonas.

O movimento de internacionalização da Randoncorp é mercado pelas aquisições no Brasil e no Exterior. E o Rio Grande do Sul não fica fora deste processo, demandando mais de R$ 30 milhões. A empresa consolidou no começo deste ano a compra da empresa desenvolvedora de softwares, DBServer, com sede em Porto Alegre. Em 2021, já haviam sido adquiridos 80% da empresa desenvolvedora de processos de automação industrial Auttom, que atua em soluções para as operações do grupo e também para outras empresas. Neste ano, os demais 20% foram incorporados pela Randoncorp.

A empresa fechou 2022 com a maior receita líquida consolidada na sua história, chegando a R$ 11,2 bilhões _ 23% a mais do que em 2021 _, e no primeiro trimestre deste ano, repete o bom momento, R$ 2,7 bilhões em receitas _ 7,3% a mais do que no mesmo período do ano passado. O relatório trimestral da Randoncorp atribui os números principalmente à atuação internacional. Algo que, de acordo com Sérgio Carvalho, representa novas oportunidades também para a produção nacional da empresa, com um planejado incremento nas exportações.

"Adquirimos, por exemplo, a Hercules, que produz carretas nos Estados Unidos, e curiosamente, pela primeira vez exportamos carretas produzidas aqui justamente para os Estados Unidos", conta ele.

As exportações e vendas de produtos das operações no Exterior respondem hoje por 20% do faturamento da Randoncorp. Um volume que deve ser ampliado nos próximos anos, com o crescimento das vendas de componentes de unidades daqui para fábricas do mesmo grupo em outros países.

FICHA TÉCNICA:
Investimento: R$ 125 milhões
Estágio: Em execução até 2027
Empresa: Randoncorp
Cidades: Farroupilha, Caxias do Sul e Porto Alegre
Área: Indústria