O acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia (UE) apresentado pela Comissão Europeia na quarta-feira ganha um peso ainda maior em tempos turbulentos no comércio mundial. O tratado prevê a redução gradual de tarifas de importação e exportação entre os dois blocos e envolveu 25 anos de negociações, concluídas em dezembro do ano passado. Para o Brasil, um dos países mais afetados pelo tarifaço aplicado pelo governo dos Estados Unidos, o acordo entre os dois blocos representa uma importante alternativa para reduzir a dependência das exportações aos norte-americanos.
O Mercosul e a União Europeia formam um contingente estimado em 700 milhões de consumidores. O tratado foi dividido em duas partes: uma voltada a questões comerciais e outra a assuntos diversos, dentre eles direitos humanos, clima e regulação digital. As questões comerciais deverão ser submetidas à aprovação no Conselho Europeu e no Parlamento da União Europeia, sem necessidade de unanimidade.
Os demais temas serão analisados pelos parlamentos de cada país europeu, o que demandará mais tempo. Já no Mercosul, o texto final do acordo deverá ser aprovado pelos parlamentos dos países-membros do bloco, composto por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. A entrada em vigor poderá ser feita de forma conjunta ou bilateral, envolvendo a UE e apenas um dos países do Mercosul.
Do lado sul-americano, serão beneficiadas as exportações de frutas, café, carnes, açúcar, etanol, suco de laranja e setores industriais como autopeças, máquinas e químicos. Já os países europeus poderão ampliar as vendas de automóveis, equipamentos industriais, itens farmacêuticos e vinhos.
Embora os avanços sejam favoráveis, a parceria entre Mercosul e UE enfrenta algumas resistências. Um dos principais críticos é a França, que teme os impactos ao setor agrícola do país. Além disso, os franceses avaliam que questões como o combate efetivo ao desmatamento e o uso de agrotóxicos não são tratadas da mesma forma pelos integrantes dos dois blocos econômicos. Por outro lado, a Alemanha, maior exportador europeu, é favorável à ratificação do acordo por avaliar seu potencial para amenizar os impactos do tarifaço dos Estados Unidos também sobre os europeus.
O acordo entre Mercosul e União Europeia é uma oportunidade de aproximação histórica entre dois mercados estratégicos. É preciso garantir que as resistências políticas e os impasses ambientais não inviabilizem a parceria e que possa, dessa forma, se reverter em ganhos para os dois blocos.