A tarifação de 50% sobre produtos importados do Brasil a partir de 1º de agosto, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, instaurou um clima de tensão e incerteza. A medida extrapola o campo econômico, e o Brasil deve ser firme para garantir a soberania nacional. Entretanto, o governo brasileiro deve ponderar os prós e contras em cada passo e declaração para não agravar ainda mais o baque na balança comercial, já que Trump adiantou que responderia com mais tarifas a possíveis retaliações.
Os Estados Unidos são o segundo principal parceiro comercial do Brasil, perdendo apenas para a China. Desde 2009, os brasileiros importam mais do que vendem aos norte-americanos, derrubando o argumento de Trump de que os EUA ficam "no prejuízo" nessa relação comercial. De janeiro a junho deste ano, as exportações dos Estados Unidos ao Brasil somaram US$ 20 bilhões, enquanto importamos US$ 21,7 bilhões em produtos norte-americanos, o que evidencia que o saldo é mais desfavorável para o lado brasileiro.
Até o momento, o governo brasileiro tem agido com cautela, avaliando as opções para reverter, ou ao menos minimizar, o tarifaço. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cogita recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC). Não será a primeira vez que o Brasil irá por esse caminho, tendo obtido vitórias e derrotas tanto em contestações que apresentou quanto naquelas em que foi alvo.
Outra alternativa é aplicar a Lei da Reciprocidade, sancionada em abril e aguardando regulamentação. O texto permite a adoção de retaliações contra países ou blocos que aplicarem barreiras comerciais, legais ou políticas contra o Brasil por meio de sobretaxas na importação de bens e serviços ou suspensão de acordos ou obrigações comerciais.
Os exportadores gaúchos esperam que, assim como ocorreu com outros países, o governo dos EUA negocie e reduza o valor da tarifação. O Rio Grande do Sul repete o cenário nacional, e tem os norte-americanos como o segundo principal destino de suas exportações. No ano passado, a exportação de produtos do Estado aos EUA somou US$ 1,8 bilhão.
Até 1º de agosto, data prevista para a entrada em vigor da nova tarifa, ainda há tempo para que os dois países dialoguem e construam um acordo que resguarde seus interesses comerciais. Se mantida a cobrança de 50% sobre as importações, o prejuízo não será exclusivo do Brasil, mas afetará também os consumidores e empresas norte-americanos, que pagarão mais caro por produtos essenciais.