Os protestos realizados por produtores rurais às margens de estradas em diferentes pontos do Rio Grande do Sul desde maio são o grito de socorro de um setor que acumula sucessivas perdas econômicas devido a eventos climáticos extremos. A estiagem que atingiu o Estado no início do ano afetou a produção de grãos, hortaliças e frutas, a qualidade dos pastos e a criação de animais.
De acordo com levantamento divulgado pela Farsul em fevereiro, devido às secas registradas entre 2020 e 2024, o agronegócio amargou um prejuízo de R$ 106,bilhões, chegando a R$ 118,8 bilhões quando corrigido pelo IPCA. Com a enchente de maio do ano passado, foram mais R$ 4 bilhões em perdas.
A mobilização dos produtores rurais ocorre por meio de piquetes nas rodovias com interrupção do trânsito a cada meia hora e distribuição de panfletos aos motoristas. Os manifestantes apresentam sua pauta de reivindicações com a defesa da securitização das dívidas contraídas nos últimos anos, permitindo o parcelamento em um prazo maior. Outro ponto defendido é a possibilidade de abertura de novas linhas de crédito, viabilizando assim o plantio das próximas safras.
Recentemente, o Conselho Monetário Nacional (CMN) autorizou as instituições financeiras a prorrogarem, a seu critério, o pagamento por até três anos de todas as parcelas de contratos agrícolas com vencimento em 2025. Já a renegociação foi limitada a 8% do saldo das parcelas das operações de custeio.
As medidas aprovadas recentemente na portaria publicada pelo CMN frustraram os produtores, que pleiteiam um prazo de até 20 anos para regularizar os pagamentos. Falhou o governo em não ouvir atentamente as reivindicações feitas por diversas entidades ligadas ao agronegócio e ao ignorar os efeitos da alternância entre escassez de chuva e inundações, uma realidade cada vez mais frequente no Rio Grande do Sul, apresentando resoluções que possam contribuir efetivamente para solucionar a crise financeira enfrentada pelos no campo.
Diante desse cenário, é urgente que o governo federal reveja sua postura e proponha soluções condizentes com a gravidade da situação. Novas reuniões entre representantes do agronegócio e da União podem trazer alternativas que atendam às demandas do setor. A saúde financeira do campo não é apenas uma questão econômica, mas também de segurança alimentar para todo o País.