A entrada em vigor na quarta-feira (4) da tarifa de 50% sobre aço e alumínio importados pelos Estados Unidos é uma oportunidade para o governo brasileiro explorar novos mercados e também exercer suas habilidades de negociação, defendendo o retorno do acordo bilateral de 2018. Na ocasião, o produto brasileiro era exportado dentro de cotas, sem tarifas adicionais. O aumento da semana passada sucede o decreto assinado pelo presidente Donald Trump em fevereiro deste ano impondo tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio do país e faz parte das medidas protecionistas adotadas pelo governo norte-americano.
Até o momento, o único a passar incólume por essa taxação foi o Reino Unido, cuja capacidade de produção é insuficiente para atender a demanda norte-americana. Em dezembro de 2024, por exemplo, os ingleses exportaram menos de mil toneladas de aço para os EUA.
O Brasil exportou no ano passado 3,4 milhões de toneladas de placas de aço (produto semiacabado) das 5,6 milhões de toneladas compradas pelos Estados Unidos. Um possível rompimento nas relações comerciais entre os dois países pode trazer prejuízos aos dois lados, mas a balança tende a pesar mais para as indústrias norte-americanas que têm as siderúrgicas brasileiras como principais fornecedoras de matéria-prima para produzir.
A siderurgia tem importante papel na economia do Brasil. No ano passado, de acordo com os dados do Instituto Aço Brasil, foi responsável pela geração de 126.888 postos de trabalho. Uma queda brusca nas exportações para os Estados Unidos pode impactar na operação das siderúrgicas nacionais e levar ao corte de vagas.
O setor vem convivendo com a queda nas vendas desde a adoção da alíquota de 25% nas importações, o que deve ser agravado pela nova tarifa. Outro problema é que, para manter os negócios com compradores norte-americanos, siderúrgicas brasileiras acabaram baixando os preços. Isso levou a uma redução na margem de lucro, mas foi a alternativa para conseguir competir com fabricantes do sudeste asiático.
A decisão dos Estados Unidos impõe desafios à siderurgia brasileira, mas também é uma oportunidade para que o setor busque novos mercados e não dependa tanto de um só país. Para o governo, é momento de exercitar a diplomacia e garantir os interesses do Brasil, preservando a indústria nacional, garantindo empregos e protegendo a economia.