O mercado de apostas online tem mobilizado cada vez mais os brasileiros. Somente de janeiro a julho de 2024, 25 milhões de pessoas passaram a fazer apostas esportivas em plataformas eletrônicas - média de 3,5 milhões ao mês.
É um mercado que movimenta bilhões de reais, mas que, por outro lado, tem endividado uma parcela significativa da população, impactando na vida cotidiana e gerando protestos de setores como varejo e de bancos.
Pesquisa do Instituto Locomotiva mostra que 86% dos apostadores brasileiros têm dívidas e 64% estão com o nome sujo. Pelo menos 1,3 milhão ficaram inadimplentes apenas no primeiro semestre de 2024 devido às apostas online.
Outro dado estarrecedor vem do Banco Central: de que beneficiários do Bolsa Família gastaram, via Pix, R$ 3 bilhões em bets somente em agosto - 20% do valor destinado ao programa. Dos 20 milhões de beneficiários, 5 milhões fizeram apostas. O valor médio gasto por pessoa foi de R$ 100,00.
No geral, foram identificados R$ 21,1 bilhões em apostas - levando em conta todos os apostadores e bets que o BC conseguiu identificar -, mas o montante pode ser maior.
As bets, como são chamadas, são liberadas no País desde 2018, via leis, e o fenômeno cresce desde então, com canais televisivos e redes sociais veiculando publicidade. Há estimativas de que cerca de 2 mil sites de apostas esportivas atuem atualmente no Brasil.
Em 2025, novas normas sobre jogos online entram em vigor. As casas de apostas terão de pagar 12,5% de imposto sobre os lucros que auferirem na banca, dos quais 2,5% serão dedicados ao tratamento da ludopatia - o vício em apostar. Também mudam as regras gerais para a publicidade, hoje considerada ostensiva.
Já a partir do próximo mês, por demanda de varejistas e do setor bancário, o governo federal irá proibir o uso de cartões de crédito no pagamento de apostas. O problema para o varejo é considerado tão grave que a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo ingressou com uma ação no Supremo Tribunal Federal contra a lei que regulamenta jogos online.
Entre os argumentos está o de que as apostas vêm desencadeando de forma proporcional o endividamento das famílias, levando parte significativa da sociedade a um comportamento financeiro de altíssimo risco, e prejudicando consideravelmente a economia doméstica, o comércio varejista e o desenvolvimento social.
Diante dos recentes dados, não se pode deixar de levar em conta que é preciso evitar que a parte mais vulnerável da população consuma sua renda com as apostas.