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Publicada em 18 de Novembro de 2025 às 12:57

Reforma tributária desafia cadeia florestal gaúcha e exige planejamento na transição, aponta especialista

Advogado Alexandre Rossato Ávila destaca que as cadeias produtivas longas tendem a sentir mais as mudanças

Advogado Alexandre Rossato Ávila destaca que as cadeias produtivas longas tendem a sentir mais as mudanças

DUDU LEAL/DIVULGAÇÃO/JC
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Osni Machado
Osni Machado Colunista
A reforma tributária e seus impactos diretos sobre a competitividade da cadeia florestal dominaram o debate realizado na manhã desta terça-feira (18) na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), em Porto Alegre. Empresários, especialistas e representantes do setor participaram do encontro “Silvicultura e Reforma Tributária: como o IBS e a CBS afetam o seu negócio”, que trouxe uma análise técnica do advogado e ex-juiz federal Alexandre Rossato Ávila sobre as novas regras e os desafios que o segmento enfrentará a partir da fase de transição que se inicia em 2026.
A reforma tributária e seus impactos diretos sobre a competitividade da cadeia florestal dominaram o debate realizado na manhã desta terça-feira (18) na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), em Porto Alegre. Empresários, especialistas e representantes do setor participaram do encontro “Silvicultura e Reforma Tributária: como o IBS e a CBS afetam o seu negócio”, que trouxe uma análise técnica do advogado e ex-juiz federal Alexandre Rossato Ávila sobre as novas regras e os desafios que o segmento enfrentará a partir da fase de transição que se inicia em 2026.
Promovido pelo Sistema Fiergs, por meio do Comitê de Base Florestal e Moveleira (Combase) e do Conselho de Assuntos Tributários, Legais e Cíveis (Contec), o evento reuniu lideranças para discutir os efeitos das mudanças sobre uma das cadeias produtivas mais relevantes do Estado. Ávila, especialista em Direito e Economia dos Sistemas Agroindustriais, conduziu a palestra.
Ávila destacou, em entrevista ao Jornal do Comércio, que “a reforma veio para ficar”, reforçando que o processo de implementação já está em curso. Ele detalhou o calendário da transição: a CBS passa a ser cobrada em 2026, com alíquota inicial de 0,9%, enquanto o IBS começa em 0,1%. A partir de 2028, a CBS substitui definitivamente PIS e Cofins, ao passo que o IBS terá implantação gradativa até 2033. Segundo o especialista, o período exigirá forte adaptação do setor. “As empresas terão de trabalhar com dois sistemas ao mesmo tempo, o que demandará investimentos operacionais e integração de processos”, alertou.
 
A incerteza, afirma Ávila, é hoje o principal fator de apreensão entre empresários. Ele reforçou que os impactos variam conforme o porte, o modelo de negócio e a posição na cadeia produtiva. “Ninguém sabe ainda se vai pagar mais ou menos. É preciso sentar e fazer contas”, disse. Segundo ele, cadeias longas tendem a sentir mais as mudanças, especialmente por conta das operações com alíquotas reduzidas, isenções e alíquota zero, que alteram a dinâmica de créditos e débitos em cada etapa.
Um dos pontos centrais, segundo ele, foi a diferença entre vendas destinadas a contribuintes e ao consumidor final. “Quem vende para outras empresas contribuintes gera créditos; quem vende para o consumidor final, não”, explicou Ávila, ressaltando que essa distinção pode impactar diretamente a competitividade — sobretudo entre empresas enquadradas no Simples Nacional, que deverão reforçar o planejamento tributário.
Mesmo com as incertezas, Ávila avalia que, no médio e longo prazo, os efeitos estruturais da reforma tendem a ser positivos. “A reforma deve simplificar o sistema e reduzir discussões judiciais intermináveis. Acredito que vai dar certo e que será melhor para o Brasil”, afirmou.
O coordenador do Combase e diretor da Fiergs, Leonardo Souza De Zorzi, destacou que o setor de base florestal representa cerca de 6% do PIB gaúcho e enfrenta um cenário de dupla pressão: a transição tributária e os efeitos do tarifário imposto pelos Estados Unidos, que afetou as exportações. “É uma situação frágil, mas estamos buscando sensibilizar o governo e acelerar negociações”, disse. Ainda assim, demonstrou otimismo quanto ao potencial de investimentos, citando o anúncio da empresa chilena, Compañía Manufacturera de Papeles y Cartones (CMPC), que prevê US$ 5 bilhões para ampliar operações no Rio Grande do Sul.
A diretora-executiva da Fiergs, Ana Paula Werlang, reforçou que a entidade está mobilizada para orientar o setor no período de adaptação. “A reforma tributária gera desconforto porque estabelece novas regras, e ainda há insegurança. Mas estamos aqui para orientar, representar e correr atrás do que é importante para o setor”, afirmou, lembrando ainda do papel da Fiergs nas articulações internacionais, como a participação recente na COP 30 – (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), que está sendo realizada em Belém, Pará, no período de 10 a 21 deste mês.
O encontro terminou com a avaliação de que a cadeia florestal e moveleira gaúcha, embora pressionada por fatores internos e externos, segue organizada e ativa para enfrentar o período de transição. A expectativa é de que o diálogo contínuo entre indústria, governo e especialistas contribua para ajustes mais sólidos e maior preparação competitiva nos próximos anos.

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