Os juros altos não interferem no projeto da Bolsa de Valores que está em desenvolvimento no Rio de Janeiro, a Base Exchange, diz o CEO da iniciativa, Claudio Pracownik. Em tese, momentos de aperto monetário como o atual podem desestimular investimentos em renda variável, como ações de empresas, incentivando opções de renda fixa, com retorno já definido.
A Selic está em 15% ao ano, e as projeções do mercado financeiro sinalizam por ora taxa básica de juros de dois dígitos em 2026, 2027 e 2028, segundo o boletim Focus, do Banco Central (BC). Apesar disso, Pracownik afirma que a competição com a paulista B3, a única Bolsa em operação no Brasil, tende a atrair mais capital para o País nos próximos anos.
"Não estamos no pior volume (de negociações) da história. Com o volume atual, tenho bastante dinheiro para ganhar em uma disputa. Então, o que está acontecendo não afeta o meu business plan (plano de negócios)", afirma o executivo.
"Nossas projeções são, mesmo com as taxas de juros atuais, de que a concorrência trará maior volume de capitais. É isso que acontece em qualquer lugar do mundo quando a concorrência entra", acrescenta.
O projeto da Bolsa de Valores no Rio foi anunciado pelo prefeito carioca Eduardo Paes (PSD) no segundo semestre do ano passado. O Mubadala, fundo soberano de Abu Dhabi, está por trás da iniciativa.
Inicialmente, falava-se que a operação poderia começar já em 2025. O projeto, porém, ainda está em fase de aprovação junto aos órgãos reguladores: a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o BC. De acordo com Pracownik, agora há expectativa de que as negociações de ativos comecem no segundo semestre de 2026.
"A gente está cumprindo os ritos adequados", diz o executivo, que também é CEO da Flowa (ex-ATG), empresa que fornece tecnologia para a Base Exchange. "Pelo tamanho (do projeto no Rio), era de se esperar que houvesse uma demora um pouco maior na aprovação. Os órgãos reguladores têm tido um escrutínio muito forte, no sentido de botar uma barra alta. Isso é importante para o País", completa.
Segundo o CEO, a Base vai trabalhar com ativos como ações, aluguel de ações, ETFs (fundos de índice), BDRs (recibos depositários de ações), negociação de cotas de fundo e fundos de investimento. Pracownik compara a possível disputa com a B3 a uma competição de restaurantes italianos que têm lasanha em seus respectivos cardápios.
"A gente vai estar com os mesmos ativos para vender. Vai ser possível encontrar Petrobras lá e aqui, Vale lá e aqui. O cardápio é o mesmo", afirma o CEO. "Agora, o atendimento, o preço do prato e a rapidez de servir vão gerar uma satisfação distinta entre o usuário de um restaurante e o do outro. É nisso em que a gente está apostando."
Base é um acrônimo para Brazilian Stock Exchange (Bolsa de Valores Brasileira). A sede da operação fica em um prédio entre os bairros do Flamengo e do Catete, na zona Sul do Rio. Havia expectativa de que o projeto pudesse se instalar no centro da cidade, mas isso não está nos planos no momento. A região central abrigou a antiga Bolsa do Rio, a BVRJ (Bolsa de Valores do Rio de Janeiro), inativa desde 2002. "A gente vai ficar aqui (zona Sul) até ter lucro suficiente para poder investir em outra localização, se for o caso. Não vamos gastar dinheiro antes de recebê-lo", diz Pracownik.
Folhapress