Temas como a implementação da reforma tributária, as eleições de 2026, o impacto negativo das apostas online (bets), o endividamento dos brasileiros e a armadilha dos empréstimos consignados foram discutidos durante o Tá na Mesa Federasul, nesta quarta-feira (5). O painel "Os desafios do Rio Grande do Sul e do Brasil" reuniu lideranças do varejo, do setor supermercadista e de transporte e logística no Palácio do Comércio, em Porto Alegre. O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL/POA), Irio Piva, ressalta que os desafios do Rio Grande do Sul foram agravados por eventos como a tragédia climática de 2024, que exigiu uma recuperação de espaço perdido para competir igualmente com o resto do Brasil. Ele destaca a necessidade de melhoria na infraestrutura do Estado e na educação. O presidente da CDL POA criticou as apostas nas bets e o crédito consignado, ao argumentar que as apostas drenam recursos para fora do Brasil e criam dependência, enquanto o crédito consignado é uma "armadilha" que oferece liquidez temporária.
O presidente da Federasul, Rodrigo Sousa Costa, destaca que é necessário mobilizar a sociedade gaúcha, porque, segundo ele, o Estado perdeu a capacidade produtiva. "Estamos com um êxodo de profissionais no Rio Grande do Sul", destaca. O presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga e Logística do RS (Setcergs), Delmar Albarello, destaca a falta de gestão governamental e planejamento. Ele argumenta que o Brasil atingiu o "fundo do poço" na administração pública, onde o gasto supera a arrecadação e não há foco em infraestrutura, a base essencial para o crescimento de qualquer país. "É urgente que a iniciativa privada e as entidades empresariais assumam um protagonismo maior, pois não se pode mais depender do governo federal", acrescenta. Para as próximas eleições, Albarello propõe que os gestores políticos se aproximem mais do setor privado, "ouçam o paciente" e priorizem o profissionalismo em vez de ajustes partidários.
Ivonei Pioner, presidente da Federação Varejista do Rio Grande do Sul, destaca a elevada carga tributária e a necessidade de atualizar o Simples Nacional e compreender o impacto da reforma tributária nas micro e pequenas empresas, que representam a maioria no País. O dirigente aponta ainda a escassez de mão de obra devido à influência de benefícios sociais (Bolsa Família). "O modelo atual do governo federal é focado em benefícios sociais e crédito, o que acaba resultando em um crescimento do endividamento da população", acrescenta. Para 2026, segundo Pioner, é necessário que o futuro governo tenha um olhar mais estruturante para a logística e o incentivo empresarial, porque, conforme o dirigente, a riqueza é gerada por quem investe e trabalha.
Lindonor Peruzzo Júnior, presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), cita a preocupação com a alta da taxa Selic, que, segundo ele, inibe investimentos e paralisa a economia. O dirigente supermercadista destaca a necessidade de regulamentação das bets com impostos mais altos. Peruzzo defende ainda uma reforma do Bolsa Família para que o benefício seja transitório e não desincentive o trabalho formal, abordando a escassez de mão de obra no mercado.
Sobre a reforma tributária, Paula Dahmer, presidente do Sindicato das Empresas Contábeis do Rio Grande do Sul (Sescon/RS), afirma que não é apenas um "assunto de contador", mas sim algo que impactará diretamente a precificação, o custo do produto e toda a cadeia produtiva. A dirigente do Sescon/RS expressa preocupação com o aumento de impostos para muitos setores e destaca a falta de preparo, especialmente entre as pequenas empresas, que parecem "cegas para o assunto". Além disso, ela liga o tema da reforma ao cenário político, salientando a importância de representantes eleitos que tenham os interesses do empresariado e da sociedade em pauta, especialmente porque o período de transição da reforma se estenderá até 2033, coincidindo com futuras eleições.
Vilson Noer, presidente da Federação das Associações Gaúchas do Varejo (AGV), por sua vez, aponta a fragilidade da infraestrutura e os fatores climáticos como problemas que prejudicam diretamente a economia gaúcha, além de destacar a perda de posição do Estado no ranking nacional de ambiente de negócios. Noer aponta que o varejo sofre com os desvios de renda causados por fatores como juros altos, as apostas online e os empréstimos consignados, que retiram o poder de compra do consumidor. "Temos outros desafios que incluem a necessidade de adaptação do mercado à nova geração de trabalhadores, a alta informalidade da economia brasileira e a falta de liberdade econômica, que engessa o desenvolvimento do Brasil", acrescenta.