Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 20 de Outubro de 2025 às 16:53

Retomada do polo naval em Rio Grande não deve sair em 2025

Expectativa de geração de mais de mil empregos diretos no polo naval poderá ser concretizada somente no próximo ano

Expectativa de geração de mais de mil empregos diretos no polo naval poderá ser concretizada somente no próximo ano

Matheus VIeira/Ecovix/Divulgação/JC
Compartilhe:
Gabriel Margonar
Gabriel Margonar
O Estaleiro Rio Grande, símbolo do auge e da crise da indústria naval gaúcha, vive uma nova fase de expectativa: desde a assinatura do contrato entre o Consórcio Maré Nova – formado pelas empresas Ecovix e Green Port – e a Transpetro, em fevereiro deste ano, o local vem se preparando para a construção de quatro navios do tipo Handy Max.
O Estaleiro Rio Grande, símbolo do auge e da crise da indústria naval gaúcha, vive uma nova fase de expectativa: desde a assinatura do contrato entre o Consórcio Maré Nova – formado pelas empresas Ecovix e Green Port – e a Transpetro, em fevereiro deste ano, o local vem se preparando para a construção de quatro navios do tipo Handy Max.
A projeção inicial era de que as obras tivessem início no segundo semestre de 2025, com a contratação de trabalhadores para a construção de quatro navios. Seria um marco na retomada do polo naval. Entretanto, houve atraso no crongrama, e não haverá grande movimentação no local neste ano.
Agora, a nova projeção para o início das obras é em março de 2026. Na primeira semana de outubro, uma comitiva da Transpetro e da Petrobras esteve em Rio Grande, Região Sul do Estado, para inspecionar o estaleiro e acompanhar o andamento da preparação.
No fim do mês, representantes da Ecovix, da Green Port e da Transpetro seguirão à Noruega, onde participarão de reuniões com a Kongsberg Maritime, empresa responsável pelo projeto técnico dos navios. Depois desses encontros, serão emitidos os primeiros desenhos oficiais, abrindo caminho para a montagem das embarcações.
"É um projeto complexo que estamos conduzindo com um time muito qualificado de profissionais nacionais e internacionais, afinando os últimos passos para começarmos a construção", explica Robson Passos, representante do consórcio.
A expectativa é que os trabalhos gerem mais de mil empregos diretos no polo naval de Rio Grande, chegando a 1,4 mil no pico da produção, entre o segundo semestre de 2026 e o primeiro semestre de 2027. Considerando os efeitos indiretos, a prefeitura de Rio Grande estima que o impacto total ultrapasse quatro mil postos de trabalho.
O primeiro navio deve ser entregue até o fim de 2027 e o investimento total aproximado é de US$ 278 milhões (aproxidamente R$ 1,5 bilhão pelo câmbio atual). As embarcações terão capacidade para transportar entre 15 e 18 mil toneladas de porte bruto e serão projetadas para reduzir em até 30% as emissões em relação aos navios atuais da frota da Transpetro.
O novo cronograma difere do divulgado em junho pelo diretor operacional do Estaleiro Rio Grande, Ricardo Ávila, que, na época, previa o início das obras ainda nesse ano.
Para parte dos trabalhadores, a postergação reacendeu a frustração. "O contrato foi anunciado em fevereiro, e até hoje vivemos só de expectativa. Muitos profissionais voltaram para Rio Grande achando que já haveria trabalho, e não há", diz Sadi Machado, tesoureiro do Sindicato dos Metalúrgicos (Stimmmerg).
Segundo Machado, a única atividade em curso é o desmanche de plataformas da Petrobras adquiridas pela Gerdau, com baixo potencial de contratação. "Foi feito barulho, mas quem realmente constrói ainda espera a oportunidade."
O secretário municipal de Desenvolvimento, Inovação e Economia do Mar de Rio Grande, Vitor Magalhães, reconhece a ansiedade, mas acredita que a cidade está diante de uma oportunidade rara de retomada industrial. "Ver o estaleiro voltando às grandes obras é motivador. Nossa prioridade é garantir que o maior número possível de rio-grandinos tenha emprego digno. Estamos em diálogo constante com a Ecovix para facilitar o que for necessário", afirma.
Magalhães explica que a prefeitura articula parcerias para capacitar mão de obra local e organizar rodadas de negócios entre fornecedores da cidade e a empresa, de modo que o impacto econômico vá além da geração direta de empregos. "Queremos que as empresas de Rio Grande também se beneficiem, fornecendo produtos e serviços para o estaleiro com qualidade e preço competitivo. Essa engrenagem é que vai consolidar o retorno do polo naval", acrescenta.
Para a Ecovix, o momento é de consolidação técnica e logística antes da largada. A empresa mantém cerca de 220 funcionários atualmente, focados em ajustes estruturais, configuração de maquinário e preparação das equipes. O cronograma prevê que, à medida que os blocos de produção comecem a ser montados, as contratações cresçam gradualmente até o pico de 2026.
Agora, com o horizonte de novos contratos e a retomada do polo naval, Rio Grande tenta deixar para trás o ciclo de altos e baixos que marcou sua economia na última década. "A indústria naval tem um peso enorme na cidade. Quando ela se move, toda a economia se move junto", resume Magalhães.

Notícias relacionadas