O arroz, junto com o feijão e a carne, forma o prato mais tradicional e preferido de boa parte dos brasileiros. No caso do arroz, o pico de consumo médio por pessoa ao ano foi na década entre 1991 e 2000, com 47 quilos, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que acompanha o consumo desses alimentos no País há mais de 60 anos.
No ano passado, a situação começou a mudar e a quantidade apresentou queda e chegou a 34 quilos - o menor índice desde o início da série histórica. Alcido Wender, pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, destaca que nas décadas de 1960 a 1970 existiam famílias mais numerosas e com mais filhos. "Havia o hábito de fazer a comida em casa. No entanto, os tempos mudaram. No ambiente urbano, a vida é mais corrida. Em toda a esquina das cidades há uma opção de comida mais rápida sendo oferecida e, neste caso, sem o arroz", acrescenta.
O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Denis Dias Nunes, destaca que a entidade mostra preocupação com a realidade atual do setor em um contexto de excesso de produção e consequente preços baixos de remuneração aos produtores, o que inviabiliza a atividade em muitos casos. "A Índia entrou forte nas exportações de arroz. Temos outros fatores, como o dólar instável devido às políticas econômicas, instabilidade política nos Estados Unidos, juros ainda altos e estoques elevados", comenta.
Com relação a ações para enfrentar a crise no mercado de arroz, Nunes menciona orientações para redução da área plantada, de acordo com a realidade de cada produtor, já que os estoques de passagem serão grandes, além de intensificar e apoiar as estratégias de exportações. A Federação propõe ainda a fiscalização, por parte do governo federal, das importações de arroz que não atendam à legislação fitossanitária brasileira. Nunes diz que a Federarroz defende a realização de campanhas de incentivo ao consumo de arroz e orientações constantes aos produtores ligados à entidade.
O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Lindonor Peruzzo Júnior, afirma que o arroz registrou um pequeno crescimento de vendas em volume nos últimos três meses, na casa do 1,5%. "Este aumento de vendas deve-se a uma deflação forte e atípica sobre o produto, que registrou uma queda de preços de cerca de 24% no período", comenta o dirigente supermercadista.
Ontem, o primeiro levantamento do ciclo 2025/2026 da safra de grãos divulgada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta que o arroz no Rio Grande do Sul mantém a liderança, mesmo com queda na produção. O Estado continua como o maior produtor de arroz do País. No entanto, a queda no preço do grão no mercado deverá resultar em retração de 3,1% na área plantada e de 10,5% na produção, estimadas, respectivamente, em 938,1 mil hectares e 7,8 milhões de toneladas.
Apesar das baixas, a expectativa é positiva. Com reservatórios em níveis satisfatórios, além da previsão de alta radiação solar e dias quentes nos meses de janeiro e fevereiro, o desenvolvimento das lavouras deve ser favorecido durante as fases de floração e enchimento de grãos. Até o momento, 18% da área prevista já foi semeada.
A cesta básica de alimentos de setembro divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostrou que o preço médio do arroz agulhinha diminuiu em 25 das 27 cidades pesquisadas, com destaque para Natal (-6,45%), Brasília (-5,33%) e João Pessoa (-5,05%). A alta foi registrada em Vitória (1,29%). Em Palmas, o preço médio não variou. Apesar do bom desempenho das exportações, o recorde de produção da safra 2024/2025 manteve elevado o excedente interno, o que pressionou as cotações para baixo. O preço do arroz acumulou queda em todas as capitais, com variações entre -32,47%, em João Pessoa, e -17,77%, em São Paulo.