As oportunidades para o setor atacadista com o uso das tecnologias e da Inteligência Artificial foram listadas pela engenheira Martha Gabriel, durante painel no 1º Fórum Atacadista. Professora de Inteligência Artificial da PUC-SP, Insper e Fundação Dom Cabral, Martha, autora de best-sellers sobre gestão na era digital, fez o fechamento do evento promovido pelo Sindiatacadista na sede da Fecomércio.
Falando sobre o tema “Competitividade no Mercado Digital: como a digitalização, automação, e-commerce, IA e o uso estratégico de dados estão transformando o setor atacadista”, Martha reforçou a importância de as empresas abraçarem as oportunidades disponibilizadas pelas tecnologias. “O empresário deve estar no presente resolvendo pendências e prevendo as tendências do futuro. Com a tecnologia, os processos serão acelerados e impactados os lucros de quem souber implementá-la”, exemplificou. Citando o austríaco Peter Drucker, a especialista alertou para o fato de que “o maior perigo em tempos de turbulência não é a própria turbulência, mas agir com a lógica do passado”.
Tendo participado de 10 TEDx, a palestrante lembrou que neste cenário de ritmo acelerado de transformações, a primeira habilidade é conhecer as regras de cada novo jogo que se apresenta. “Se não entender, se não enxergar as oportunidades e as ameaças, não vai avançar”, alertou.
A palestrante lembrou que hoje temos oito tipos de tecnologias juntas, e uma alavancando a outra. “Se nos negócios até agora só replicávamos o que deu certo, esse não é mais o melhor caminho. Tudo está tão rápido, que startups estão morrendo antes de ir para o mercado. Precisamos nos antecipar”, avisou.
O primeiro passo para entender o que está acontecendo em termos de mudanças no mundo é entender como os modelos de negócios serão impactados. “Se não entendermos, não enxergaremos nem as oportunidades, nem as ameaças”, disse, ao lembrar que passamos 99,88% da nossa evolução em um mundo lento, desde a caça e coleta, passando pela agricultura até a era industrial. O ritmo era de décadas para um avanço, hoje os processos levam um dia.
A pandemia foi uma ferramenta de aceleração desses processos, conectando todo mundo e criando uma infraestrutura digital que não existia. Em função dessa infraestrutura, houve uma aceleração de várias tecnologias que já existiam, mas ainda não eram disseminadas.
Em 2021, lembrou Martha, o mundo começa a usar blockchain, as criptomoedas, NFT, token economy, metaverso, ondas que passaram mas ainda continuam importantes.
O mesmo aconteceu com a IA, que existia há muito tempo, mas, em 2022, passa a ter uma interface chat, dando acesso a qualquer pessoa. “Existiram muitas startups que nasceram nessa era da IA, há 2 ou 3 anos, mas morreram antes de ir para o mercado porque a IA já estava fazendo o que elas queriam fazer. Isso comprova que, para um negócio dar certo, a gente tem que aprender a antecipar, não pode só mais reagir. Isso aconteceu no bug do milênio. Quem não se preparou? Eu pergunto: quanto do seu budget para o próximo período está sendo locado em coisas que já existem, e quanto em oportunidades”, incitou.
Para saber o que pode surgir como tendência, a especialista citou a heurística, usada por todos os institutos de futurologia. Dentro da metodologia, o Cone de Futuros, criado por Joseph Voros, é uma ferramenta de planejamento estratégico que ajuda a visualizar e criar cenários futuros. Com o avanço do uso da IA, por exemplo, a Albânia já começa a projetar a substituição de um governo tradicional por um governo por IA, de forma a combater a corrupção. “Buscamos sinais de mudança no presente e, quanto mais o mundo for acelerado, mais é aberto esse cone de Voros”, explicou.
Digitalização, armazéns e preços inteligentes vão acelerar negócios e aumentar o lucro
Referência nacional em inovação, Martha citou pontos a serem afetados pela IA nos negócios. A IA permite automações avançadas. Armazéns inteligentes permitirão estoques just in time, rastreabilidade precisa, que eliminará erros, e sustentabilidade, em função da economia. Deu, como exemplo, o Empire State Building, em NY, que foi reconfigurado para se tornar smart, o que provocou uma economia de US$ 1 milhão por ano só em energia. Já a possibilidade de preço inteligente permite comparativos entre fornecedores, o que ajudará na competitividade. Além disso, a chamada IA Preditiva, já usada na indústria, prevê problemas de produção.
Outro uso da tecnologia está na rastreabilidade, que pode integrar e monitorar toda a cadeia produtiva, evitando retrabalho ou erros. “O atacadista poderá criar seu armazém físico no mundo digital, monitorar lá o negócio, fazer simulações e experiências, e trazer os dados para o mundo físico, tudo mais ágil e com menos erros”, destacou.
Martha citou a IA para o preço inteligente e controle de preço de fornecedores. A IA faz esse trabalho, aumentando a competitividade e lucro. “A IA ajusta o preço e o desconto conforme a demanda, com precisão e velocidade”, diz.
A especialista também citou a digitalização dos processos, e plataformas de B2B, que trazem experiências semelhantes a B2C. “É forte a tendência do self-service e omnichannel. Os pedidos vão migrar para o online”, garantiu. Para ela, a forma como as empresas se conectarão com o mercado permitirá a criação de cadeias de suplementos inteligentes.
A previsão é de uso em larga escala de Blockchain, Metaverso industrial, Digital twins e IoT (internet das coisas). Para a especialista, o blockchain será o futuro para qualquer tipo de transação, uma vez que dá transparência, rastreabilidade e segurança. “E a tradetech é a digitalização dos processos financeiros de comércio. Tudo o que puder ser digitalizado será”, disse, referindo-se a nova onda de inovação no comércio, chamada de Quarta Revolução Industrial.