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Publicada em 27 de Agosto de 2025 às 17:52

Justiça Federal determina retorno da Moratória da Soja

Decisão judicial mantém Moratória da Soja ativa até inquérito do Cade

Decisão judicial mantém Moratória da Soja ativa até inquérito do Cade

Luiz Henrique Magnante/Embrapa/JC
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Agências
A Justiça Federal concedeu na segunda-feira (25) um mandado de segurança contra a suspensão da Moratória da Soja e chamou a decisão dada pela superintendência-geral do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) há uma semana de "desproporcional" e "prematura". Agora, a moratória segue ativa até que um inquérito administrativo que corre no órgão de regulação decida sobre uma suposta formação de cartel de compra no setor e de violações à legislação ambiental.
A Justiça Federal concedeu na segunda-feira (25) um mandado de segurança contra a suspensão da Moratória da Soja e chamou a decisão dada pela superintendência-geral do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) há uma semana de "desproporcional" e "prematura". Agora, a moratória segue ativa até que um inquérito administrativo que corre no órgão de regulação decida sobre uma suposta formação de cartel de compra no setor e de violações à legislação ambiental.
A moratória vigora no País há quase duas décadas e serve para que grandes exportadoras, associações e organizações ambientais barrem a compra de soja produzida em áreas do bioma amazônico desmatadas após 2008.
Na semana passada, o Cade acatou pressão de entidades setoriais ligadas ao agronegócio que viam na moratória uma constituição de barreira comercial e abuso de poder econômico sobre grandes tradings de soja.
Para a juíza Adverci Rates Mendes de Abreu, da 20ª Vara Federal Cível do Distrito Federal, a decisão da superintendência-geral do Cade não tem efeito suspensivo automático e deveria ser submetida ao plenário do órgão.
Pelo rito, mais órgãos são incluídos no julgamento e dão pareceres técnicos sobre o tema, como o Ministério Público Federal, a AGU (Advocacia-Geral da União) e o Ministério do Meio Ambiente. Só depois da análise das argumentações é que os conselheiros do Cade tomam uma decisão sobre o assunto.
"A Moratória da Soja, vigente desde 2006, possui natureza voluntária, é integrada por diversos entes públicos e privados, e vem sendo reconhecida como instrumento de fomento ao desenvolvimento sustentável. Em sede de cognição sumária, afigura-se desproporcional e prematura a sua desarticulação imediata por meio de decisão monocrática, desacompanhada de debate colegiado e sem enfrentamento concreto dos argumentos técnicos oferecidos no procedimento originário", afirmou Abreu.
O julgamento da moratória ainda não foi marcado no Cade. Até lá, segundo a decisão da Justiça Federal, a medida volta a vigorar no país.
A decisão proferida nesta segunda acatou pleito da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), que reclamava do despacho monocrático do Cade. Para a entidade, a decisão da Justiça reconheceu a necessidade de aprofundamento do debate sobre a moratória e mostrou que o pacto setorial tem legalidade.
A moratória surgiu em meio a uma forte pressão internacional, principalmente da Europa, quando denúncias do Greenpeace e de outras entidades mostraram que a expansão da soja estava ligada ao avanço do desmatamento e a violações ambientais.
Para evitar a perda de mercados compradores e sofrer boicotes, as empresas se comprometeram a monitorar por satélite e por auditorias independentes toda a produção da Amazônia e a criar uma lista de fazendas consideradas irregulares.
Assim, qualquer produtor enquadrado nessa lista ficava automaticamente impedido de vender sua safra para mais de 30 tradings que assinaram o pacto, entre elas gigantes como Cargill, Bunge, ADM, Amaggi e Louis Dreyfus.
Empresas e setores contrários à autorregulação ambiental, como a Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso), a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e a Comissão de Agricultura do Senado, argumentavam que, ao agir de forma conjunta e padronizada, as exportadoras estariam impondo regras próprias aos produtores, extrapolando exigências do Código Florestal.
Elas também afirmam que, na prática, associações privadas estão substituindo o papel do Estado na definição de regras ambientais, além de atuar nas negociações entre produtores e compradores.
Na semana passada, quando a superintendência suspendeu a moratória, a Aprosoja em Mato Grosso do Sul classificou a decisão como um "marco histórico na defesa da livre concorrência e da produção legal no campo". O Greenpeace, que defende a moratória, classificou a decisão do Cade como um ataque político, que favorece quem mais lucra com a destruição da Amazônia.

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