Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 25 de Agosto de 2025 às 18:37

Anúncio do BNDES divide empresas exportadoras para os EUA

Setor do alumínio reforça temor com a intensificação do desvio de comércio e com a concorrência desleal

Setor do alumínio reforça temor com a intensificação do desvio de comércio e com a concorrência desleal

LEO RAMIREZ/AFP/JC
Compartilhe:
Caren Mello
Caren Mello
Entidades representativas de empresas impactadas pelo tarifaço norte-americano estão divididas quanto à liberação de linhas de crédito pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Enquanto algumas acreditam que o auxílio será importante, outras, principalmente as que têm os Estados Unidos como principal mercado, consideram o apoio insuficiente. Pelo chamado Plano Brasil Soberano, serão oferecidos R$ 40 bilhões para em quatro linhas, duas de investimentos e duas de capital de giro.
Entidades representativas de empresas impactadas pelo tarifaço norte-americano estão divididas quanto à liberação de linhas de crédito pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Enquanto algumas acreditam que o auxílio será importante, outras, principalmente as que têm os Estados Unidos como principal mercado, consideram o apoio insuficiente. Pelo chamado Plano Brasil Soberano, serão oferecidos R$ 40 bilhões para em quatro linhas, duas de investimentos e duas de capital de giro.
O Sindicato da Indústria Madeireira do Rio Grande do Sul (Sindimadeira RS) recebeu com reservas o anúncio, e ainda está avaliando a medida. Para pequenas e médias empresas, o financiamento seria positivo. Porém, aquelas que mais dependem do mercado norte-americano não seriam beneficiadas. “Linhas de crédito sempre são bem-vindas, mas, neste momento, não são de grande valia para a maioria das empresas, cujo faturamento alto depende muito dos Estados Unidos”, ressaltou o presidente Leonardo De Zorzi, para quem o setor é o mais atingido com o tarifaço. Conforme o dirigente, não há tempo hábil para equilibrar as perdas. Além disso, a contrapartida seria a manutenção dos empregos, o que é incerto no atual cenário.
“O setor madeireiro de floresta plantada tem uma forte ligação com os Estados Unidos. Aqui no Estado, mais de 30 empresas têm mais de 75% de faturamento ligado àquele mercado. Não temos como mudar esse cenário de uma hora para outra”, destacou. O presidente defende o avanço nas negociações entre os países. “Não é simples, mas a solução passa pelo diálogo. Essas medidas vão ter pouca valia”, conclui.
No setor de elétrica e eletrônicos, há incerteza. Do total de exportações pelas empresas brasileiras, 27% têm como destino os Estados Unidos, representando US$ 1 bilhão. No Rio Grande do Sul, cerca de 20% chegam aos norte-americanos. De acordo com o diretor regional da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Régis Haubert, ainda não há informações suficientes sobre o anúncio. O dirigente destaca as garantias para os financiamentos, como a manutenção de empregos e o equilíbrio fiscal, que, com certeza, estão sendo impactadas. Além disso, o processo de liberação pode levar até 90 dias. “Por outro lado, é possível tomar dinheiro para aumentar a produção, investir em tecnologia ou melhorar o parque fabril. Cada empresa vai ter que achar o melhor para o seu momento”, destaca.
Haubert entende que o ideal seria uma solução através de negociação, o que poderia minimizar as perdas. A Associação está organizando uma missão aos EUA para sensibilizar os compradores norte-americanos, que também estão sofrendo com a medida.
A Associação Brasileira do Alumínio (Abal) entende que os avanços contribuem para minimizar os efeitos mais imediatos, embora algumas medidas ainda dependam de regulamentação, como a elevação do percentual do programa Reintegra. Em nota, a entidade destacou que ainda não é possível avaliar quais as estratégias cada uma das empresas irá adotar. Entretanto, a Associação reforça as preocupações com a intensificação do desvio de comércio e concorrência desleal. “Não se observa, nas medidas propostas, mecanismos voltados à proteção das empresas que vendem nacionalmente e que serão afetadas com as novas dinâmicas de fluxo internacional, fator relevante para garantir condições equilibradas de competitividade”, diz a nota. A Abal ressalta ainda que os mecanismos atuais, como a aplicação de medidas antidumping e compensatórias, são positivos, mas prazos e procedimentos nesse momento devem ser céleres.
 

Abicalçados vê necessidade de mais medidas de proteção ao emprego

Os esforços do governo federal foram vistos como positivos pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), mas ainda seriam necessárias medidas de proteção ao emprego. O presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, destaca que as linhas de crédito ajudam, mas não resolvem os graves problemas ocasionados pelo tarifaço. “Como uma atividade intensiva em mão de obra, que emprega diretamente mais de 290 mil pessoas, necessitamos de medidas de proteção ao emprego. A empresa que deixa de atender seu principal mercado internacional, não vai conseguir manter empregos com mais dívidas a pagar, mesmo com juros abaixo do mercado”, avalia. O executivo ressalta que se o setor não consegue manter as exportações, também não conseguirá cumprir os compromissos estabelecidos pelos empréstimos.

Na semana passada, Ferreira levou demandas de proteção ao emprego para o governo federal. Entre as medidas sugeridas, estão a suspensão do contrato de trabalho por até 90 dias; a possibilidade de prorrogação dos prazos de redução de jornada e salário e de suspensão do contrato pelo Executivo; e o pagamento ao empregado, com recursos da União, entre outros.
A Associação das Indústrias de Móveis do Estado (Movergs), que representa mais de 2,4 mil empresas e mais de 34 mil postos de trabalho, avaliou como positivas as linhas de crédito, que ajudam a dar fôlego aos empresários. As empresas poderão ser beneficiadas com aumento do capital de giro, investimento em inovação e busca por novos mercados. De acordo com a entidade, o mercado norte-americano é relevante, sobretudo para aquelas companhias que têm no país seu destino externo.
O setor teve um faturamento nominal em 2024 de R$ 13,65 bilhões (representa 15,2% do faturamento brasileiro, sendo o segundo maior fabricante do País). O RS vende para mais de 120 países, com um volume de US$ 261.1 milhões, conforme números de 2024. Neste primeiro semestre de 2025, o volume de vendas foi de mais de US$ 117,5 milhões, sendo que os EUA representam 16,2% desse montante, cerca de 19 milhões de dólares. “O setor é forte, resiliente e vai trabalhar para reduzir esse impacto”, diz a entidade.

Notícias relacionadas