Se tudo transcorrer dentro do previsto, o município de Candiota, na Campanha Gaúcha, deve passar a contar com a produção de hidrogênio verde até 2028. O combustível renovável será produzido a partir da energia solar e os painéis fotovoltaicos serão instalados no complexo da usina Candiota 3, que é administrada pela Âmbar Energia, empresa que também conduz a ação envolvendo o hidrogênio.
O projeto foi um dos habilitados dentro do edital de Chamada Pública do Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva de Hidrogênio Verde, lançado pelo governo do Rio Grande do Sul. O diretor de operações da Âmbar Energia, Fábio Tales Bindemann, explica que a ideia consiste em um projeto inicial de utilização de hidrogênio verde para o consumo interno da operação da térmica.
O dirigente recorda que, atualmente, a usina consome o hidrogênio cinza (proveniente de fontes fósseis). O combustível é usado para refrigerar o gerador da usina. A sobra da produção de hidrogênio verde destinado a essa atividade, adianta Bindemann, deve ser aproveitada para ser queimada junto com o carvão consumido pela termelétrica. O gerente de P&D e Inovação da Âmbar Energia, Danilo Amaral Dantas, acrescenta que a nova planta deverá ter a capacidade de 20 Nm3 (metro cúbico norma) por hora de hidrogênio verde.
Ele informa que o investimento previsto na iniciativa é de aproximadamente R$ 14 milhões. "Candiota já tinha uma planta de hidrogênio própria, que com o tempo ficou com uma tecnologia obsoleta e foi desativada, e por isso começou a se comprar o hidrogênio cinza", recorda Dantas.
A proposta atual é que essa planta seja reativada. A estrutura se encontra dentro do complexo da usina, onde também serão instalados os painéis fotovoltaicos.
Sobre cronograma, o gerente de P&D e Inovação detalha que o tempo exato de desenvolvimento do projeto dependerá dos prazos do edital e das etapas que serão estabelecidas. No entanto, a expectativa é que os contratos e os instrumentos jurídicos estejam firmados no início de 2026. A implantação da unidade deve levar de 18 a 24 meses para ser concluída.
Dantas e Bindemann integram a missão brasileira que está na China vendo tecnologias desenvolvidas pela JNG na área de captura de CO2 aliada à produção de fertilizantes. O diretor de operações da Âmbar Energia considera que a tecnologia apresentada na Ásia pode ser aplicada na usina gaúcha. "É uma excelente opção, mas tudo sempre depende da continuidade da geração de energia pela Fase C (outra nomenclatura pela qual Candiota 3 é conhecida)", assinala Bindemann.
Hoje, a térmica a carvão opera no mercado spot (de curto prazo), mas a usina busca um contrato de longo prazo para seu fornecimento de energia, instrumento considerado como fundamental para garantir a sustentabilidade da operação. Ontem, a comitiva, entre outras ações, visitou uma planta de geração de energia termelétrica e vapor, na localidade chinesa de Ningbo.
A unidade, da Ningbo Jiufeng Thermoelectricity Company Limited, atua principalmente na produção e fornecimento de eletricidade e calor, atendendo às empresas da zona industrial química que ficam próximas. Através de uma parceria com a JNG, a planta consegue um índice de captura de carbono igual ou acima de 85%. A unidade tem potencial para a captura de cerca de 10 mil unidades de carbono ao ano. Com isso, e a mistura de outros insumos, é possível alcançar o patamar de produção de 30 mil toneladas de fertilizante composto coproduzido por ano.
A chairman da JNG na China, Jing Luo, ressalta que está ciente que o Brasil tem o objetivo da autossuficiência na área de fertilizantes como uma estratégia nacional, o que pode ser uma oportunidade para ambas as partes. "Eu acredito que a JNG pode contribuir para o Brasil cumprir essa meta", afirma. Ela enfatiza que é do interesse da empresa chinesa realizar parcerias com companhias brasileiras.
A executiva visitou o País em 2023, quanto teve reuniões com representantes da empresa Diamante Energia (que controla o complexo termelétrica de Jorge Lacerda, em Santa Catarina) e com membros dos ministérios de Minas e Energia e da Agricultura. No Rio Grande do Sul, também manteve um encontro com representantes da Secretaria de Desenvolvimento Econômico.
Chineses já participaram de implantação de térmicas no RS
A aproximação de Candiota de empresas chinesas não é algo novo. O prefeito da cidade, Luiz Carlos Folador, lembra que tanto a termelétrica Candiota 3 como a usina a carvão Pampa Sul contaram com o apoio de companhias asiáticas como a Citic e a Sdepci para serem executadas.
O prefeito concorda que agora a solução de captura de CO2 chinesa da JNG tem amplas possibilidades de ser adotada pela indústria de carvão local. Por outra frente, Folador enfatiza que é
importante que seja aprovada uma medida provisória (MP) que garanta a recontratação da geração de energia de Candiota 3 até 2050. "O que está faltando? Na minha opinião vontade política de fazer", aponta o prefeito.
Ele acrescenta que a operação das usinas também é relevante para as fábricas de cimento que aproveitam as cinzas decorrentes do processo de queima do carvão para fabricarem seus produtos.
Conforme Folador, são quatro cimenteiras que adquirem cinzas de Candiota, uma fábrica localizada no próprio município e outras três em Pinheiro Machado, Nova Santa Rita e Montenegro.
Além do carvão, uma aposta de Candiota é na diversificação da sua matriz produtiva. O prefeito cita entre as atividades que estão contribuindo para isso a plantação de olivais, destinados à produção de azeite, vitivinicultura, sementes de hortaliças, além de a região possuir em torno de 15 mil hectares de florestas plantadas.
Sobre a viagem à China, Folador cita a importância de a comitiva representar uma grande variedade de agentes envolvidos com a questão. O prefeito ressalta que há no grupo membros dos ministérios de Minas e Energia e Agricultura, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), da Assembleia Legislativa gaúcha, da Associação Brasileira do Carbono Sustentável (ABCS) e da Âmbar Energia.
Trem-bala é uma opção cômoda de transporte rápido e de massa
Trem bala na China
JEFFERSON KLEIN/ESPECIAL/JCCom picos de velocidade de 300 quilômetros por hora, praticamente nem percebidos, os trens-bala chineses ligam diversos pontos do país. Movidos a eletricidade, também ofertam bebidas e comidas, por meio de um funcionário que caminha entre os passageiros. São servidos biscoitos, arroz com frango, café, água, iogurte, etc. Comidas mais elaboradas também podem ser encomendadas e entregues em paradas futuras. As poltronas possuem tomadas elétricas para alimentar celulares e dispositivos. A comitiva brasileira na China pegou um desses trens para o deslocamento Ningbo-Nanjing. O percurso, de cerca de duas horas, custou 192 Yuans (R$ 145,00).