Invariavelmente o passar do tempo ocasiona desgaste de equipamentos e a necessidade de interrupção do seu uso. Essa situação também se verifica nos complexos do setor elétrico. Um dos segmentos dessa área que começou a se desenvolver no Brasil no início deste século e agora se aproxima das primeiras ações do chamado descomissionamento (desativação) é a geração de energia eólica, propiciando uma nova demanda e outro mercado.
"Realmente estamos próximos de um grande fluxo de descomissionamento que nos traz várias oportunidades", frisa a presidente do Sindicato da Indústria de Energias Renováveis do Rio Grande do Sul (Sindienergia-RS), Daniela Cardeal. Ela lembra que o primeiro parque eólico brasileiro de maior escala a entrar em operação foi o do município gaúcho de Osório, em 2006.
Daniela salienta que a vida útil de um parque eólico varia, normalmente, de 20 a 25 anos. A dirigente ressalta que, muito em breve, será preciso repensar novos modelos para as usinas mais antigas, provavelmente com a adoção de equipamentos maiores e menos unidades. Além disso, será necessário dar destinação às peças que serão substituídas ou "aposentadas".
Uma das companhias que atua nesse tema é a holandesa Greenmolen B.V. "Essa empresa tem a proposta de utilizar o material das pás (dos aerogeradores retirados de função) em outros produtos. Um dos projetos é usar em sinais de trânsito", detalha Daniela.
As pás são usualmente construídas com materiais como, por exemplo, fibra de vidro e de carbono, combinados com resinas epóxi ou poliéster. A dirigente acrescenta entre as outras soluções que podem ser dadas para esses equipamentos a implantação de áreas de espera de ônibus e até mesmo casas com os rotores dos aerogeradores.
A CEO da Greenmolen B.V., Cora de Koning, informa que se estima que cerca de 8,8 milhões de toneladas de resíduos compostos de pás eólicas serão gerados globalmente em 2039, o que representa um aumento de quase 47,5 vezes ao verificado em 2019 (185 mil toneladas). “À medida que a ênfase na conservação de recursos e na preservação ambiental se desenvolve, a reciclagem e a reutilização de pás de turbinas eólicas tornam-se cada vez mais importantes”, argumenta Cora.
Nesta terça-feira (29), Cora e Daniela participaram da 2ª edição do Ciclo de Diálogos Internacionais abordando o tema “RS e Países Baixos: Negócios internacionais e inovação para o futuro das energias renováveis”. O Chefe do Netherlands Business Support Office (NBSO - Escritório Neerlandês de Apoio aos Negócios no Sul do Brasil) em Porto Alegre, Caspar van Rijnbach, destaca que uma das metas do encontro é aprimorar a parceria entre Brasil e Holanda em assuntos ligados às energias renováveis.
"O ponto principal é fazer a conexão entre as empresas e organizações das duas nações", diz Caspar. Ele enfatiza que, além da questão ambiental, os Países Baixos têm interesse em diversificar sua matriz energética por motivos de segurança, não ficando tão expostos a fornecimentos externos instáveis. O preço do gás natural na Holanda, por exemplo, foi impactado após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Uma das empresas holandesas que já tem atuação no Brasil é a companhia Fugro, que trabalha com geodados. Esse tipo de serviço será essencial no momento do desenvolvimento dos projetos de parques eólicos offshore (no mar) no Brasil. De acordo com o diretor técnico para América Latina na Fugro, Alessander Kormann, esses empreendimentos terão que interagir com o meio geológico e o leito marinho.
Assim, terão que se precaver de ameaças geológicas como a movimentação de sedimentos, erosão submarina, falhas sísmicas, entre outras. Kormann adianta que o Rio Grande do Sul tem um perfil geológico desafiador para fazer a fundação das usinas no mar e também a conexão por cabo com a rede elétrica localizada na costa.
No caso do Porto do Rio Grande, uma preocupação para a instalação de parques eólicos offshore na sua proximidade é o intenso tráfego de navios na região. Porém, o presidente da Portos RS, Cristiano Klinger, não classificaria a questão com um entrave para essa atividade. "Mas, é um ponto a ser considerado", assinala Klinger. Ele salienta que é preciso observar a questão e tentar conciliar as atividades.
Outra necessidade para implantação de parques eólicos offshore será o uso de grandes equipamentos para as suas construções. Nesse sentido, também esses fornecedores estão evoluindo. O gerente comercial para a América do Sul na Mammoet, Pablo Terres, informa que a empresa opera com um guindaste com a capacidade de içamento de 6 mil toneladas, que é o maior do mundo atualmente. Ele adianta que a companhia já está construindo outro equipamento para uma capacidade de 10 mil toneladas.
Também representante de empresa holandesa e presente no encontro dessa terça-feira, o gerente de vendas e Desenvolvimento de Negócios na Bright Renewables, William Boger, falou na ocasião sobre o biometano. Segundo ele, um obstáculo para desenvolver esse mercado no Brasil é o fato de que muitos clientes finais do combustível querem pagar um preço igual ou menor que o do gás natural.
“Mas, o potencial é enorme", reforça. Para ele, não faz mais sentido competitivo usar o biogás para a produção de energia elétrica, sendo melhor purificá-lo, transformá-lo em biometano, e utilizá-lo como substituo do diesel em frotas veiculares.