O crédito voltado à construção imobiliária caiu 62,9% nos primeiros cinco meses de 2025 na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo balanço divulgado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) nesta segunda-feira (28).
O número de unidades habitacionais financiadas com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) despencou de 65,1 mil para 24,1 mil. Em valores, a retração foi de 54,1%, com o montante financiado encolhendo de R$ 15,5 bilhões para R$ 7,1 bilhões.
A disparada dos juros e a debandada da poupança criaram um cenário que ameaça lançamentos. O tarifaço de Donald Trump também é uma fonte de preocupação no momento, pela incerteza do grau de impacto na economia brasileira.
A freada no crédito à produção -principal fonte de financiamento para o início de obras- ocorre num momento em que a construção civil exibe fôlego em outras frentes. O setor ultrapassou, pela primeira vez desde 2014, a marca de 3 milhões de empregos formais e manteve a atividade em alta no primeiro semestre.
A taxa Selic está em 15% ao ano, o maior patamar em duas décadas, enquanto a caderneta de poupança perdeu R$ 38,4 bilhões apenas no primeiro semestre, reduzindo a capacidade dos bancos de emprestar.
A economista-chefe da Cbic, Ieda Vasconcelos, afirma que o custo do crédito está elevado tanto para o comprador quanto para o construtor, e os bancos têm priorizado o financiamento à aquisição, em detrimento da produção.
O custo da construção segue superando a inflação, tanto na mão de obra quanto em relação aos insumos. "Esse aumento está desde 2020. O custo da construção aumentou mais de 54,41%, enquanto o a inflação no mesmo período foi de 37,5%", diz Vasconcelos.
A Cbic mantem sua projeção de crescimento para a construção civil em 2,3% neste ano. Segundo Vasconcelos, essa estimativa é sustentada pelos efeitos ainda presentes de lançamentos passados, que continuam alimentando a atividade no curto prazo. "O nível de atividade poderia estar melhor, mas está em patamar elevado", diz. No entanto, a entidade teme a continuidade de juros altos.
"Estamos vivenciando o reflexo do que foi lançado nos últimos dois anos [2023 e 2024]. Se o atual ambiente de juros elevados persistir, há risco de desaceleração mais acentuada a partir de 2026", diz a especialista.
Para o presidente da Cbic, Renato Correia, limitar o crescimento da construção civil, seja pela falta de crédito ou pelo custo elevado do financiamento, "é comprometer o desenvolvimento do País".
MARCA HISTÓRICA DE TRABALHADORES CONTRATADOS
Apesar das restrições no crédito, a construção civil continua sendo um dos motores do emprego no país. Entre janeiro e maio, foram abertas 149,2 mil vagas com carteira assinada -quase metade (47,7%) preenchida por jovens entre 18 e 29 anos. A maioria dos contratados (62,2%) tem ensino médio completo, e o salário médio de admissão no setor, de R$ 2.436, é o mais alto entre todos os segmentos da economia, incluindo serviços, indústria e administração pública.
"Acredito que, mesmo que a economia desacelere, ainda haverá vagas, porque temos obras em andamento", diz Correia. Os três principais ramos da atividade -construção de edifícios, infraestrutura e serviços especializados- registraram saldo positivo de empregos no período, reforçando a resiliência do setor mesmo em um ambiente macroeconômico adverso.
Agências