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Publicada em 28 de Julho de 2025 às 12:42

Financiamento para construção de imóveis despenca 63% e ameaça novos lançamentos, diz Cbic

Número de unidades habitacionais financiadas com recursos do SBPE despencou de 65,1 mil para 24,1 mil

Número de unidades habitacionais financiadas com recursos do SBPE despencou de 65,1 mil para 24,1 mil

TÂNIA MEINERZ/JC
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Agências
O crédito voltado à construção imobiliária caiu 62,9% nos primeiros cinco meses de 2025 na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo balanço divulgado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) nesta segunda-feira (28).
O crédito voltado à construção imobiliária caiu 62,9% nos primeiros cinco meses de 2025 na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo balanço divulgado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) nesta segunda-feira (28).
O número de unidades habitacionais financiadas com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) despencou de 65,1 mil para 24,1 mil. Em valores, a retração foi de 54,1%, com o montante financiado encolhendo de R$ 15,5 bilhões para R$ 7,1 bilhões.
A disparada dos juros e a debandada da poupança criaram um cenário que ameaça lançamentos. O tarifaço de Donald Trump também é uma fonte de preocupação no momento, pela incerteza do grau de impacto na economia brasileira.
A freada no crédito à produção -principal fonte de financiamento para o início de obras- ocorre num momento em que a construção civil exibe fôlego em outras frentes. O setor ultrapassou, pela primeira vez desde 2014, a marca de 3 milhões de empregos formais e manteve a atividade em alta no primeiro semestre.
A taxa Selic está em 15% ao ano, o maior patamar em duas décadas, enquanto a caderneta de poupança perdeu R$ 38,4 bilhões apenas no primeiro semestre, reduzindo a capacidade dos bancos de emprestar.
A economista-chefe da Cbic, Ieda Vasconcelos, afirma que o custo do crédito está elevado tanto para o comprador quanto para o construtor, e os bancos têm priorizado o financiamento à aquisição, em detrimento da produção.
O custo da construção segue superando a inflação, tanto na mão de obra quanto em relação aos insumos. "Esse aumento está desde 2020. O custo da construção aumentou mais de 54,41%, enquanto o a inflação no mesmo período foi de 37,5%", diz Vasconcelos.
A Cbic mantem sua projeção de crescimento para a construção civil em 2,3% neste ano. Segundo Vasconcelos, essa estimativa é sustentada pelos efeitos ainda presentes de lançamentos passados, que continuam alimentando a atividade no curto prazo. "O nível de atividade poderia estar melhor, mas está em patamar elevado", diz. No entanto, a entidade teme a continuidade de juros altos.
"Estamos vivenciando o reflexo do que foi lançado nos últimos dois anos [2023 e 2024]. Se o atual ambiente de juros elevados persistir, há risco de desaceleração mais acentuada a partir de 2026", diz a especialista.
Para o presidente da Cbic, Renato Correia, limitar o crescimento da construção civil, seja pela falta de crédito ou pelo custo elevado do financiamento, "é comprometer o desenvolvimento do País".
MARCA HISTÓRICA DE TRABALHADORES CONTRATADOS
Apesar das restrições no crédito, a construção civil continua sendo um dos motores do emprego no país. Entre janeiro e maio, foram abertas 149,2 mil vagas com carteira assinada -quase metade (47,7%) preenchida por jovens entre 18 e 29 anos. A maioria dos contratados (62,2%) tem ensino médio completo, e o salário médio de admissão no setor, de R$ 2.436, é o mais alto entre todos os segmentos da economia, incluindo serviços, indústria e administração pública.
"Acredito que, mesmo que a economia desacelere, ainda haverá vagas, porque temos obras em andamento", diz Correia. Os três principais ramos da atividade -construção de edifícios, infraestrutura e serviços especializados- registraram saldo positivo de empregos no período, reforçando a resiliência do setor mesmo em um ambiente macroeconômico adverso.
 

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