O impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos serão ainda piores em função do cenário interno do Brasil, com a alta da Selic. As taxas de juros devem subir em solo norte-americano, o que deverá interferir nas locais, além da alta do dólar. A avaliação foi feita por economistas da Federação das Indústrias do RS (RS), a convite do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), em reunião com lideranças do setor produtivo, nesta segunda-feira (21). Empresários e economistas da Unidade de Estudos Econômicos da entidade fizeram projeções sobre as consequências da política do presidente Donald Trump e possíveis soluções.
O teto de 15%, dado como certo pelo Banco Central, passa a ser incerto, e o dólar vai interferir nos processos internos, uma vez que a economia nacional é indexada à moeda norte-americana, segundo os painelistas da reunião. Entre eles, a economista Caroline Puchale, da Fiergs, destacou que, além de todo o cenário de incertezas no ambiente internacional, a política fiscal brasileira também será responsável por eventuais impactos. A forma como o orçamentoestá distribuído, com a troca do teto de gastos pelo arcabouço fiscal, e a crescente dívida pública, não darão eficiência necessária ao governo.
“O governo não tem mais nenhuma margem para conseguir fazer qualquer promoção do desenvolvimento”, acrescentou. Já oeconomista Marcelo Ayub, também da Fiergs, acredita que a previsão de crescimento do Brasil deverá diminuir com o impacto do tarifaço. “O Brasil tem um problema estrutural e tenta resolver de forma conjuntural”, salientou.
Os economistas apresentaram o estudo feito pela Fiergs com projeções do impacto das tarifas impostas pelo governonorte-americano. O levantamento divide os setores pelo nível de exposição e de dependência.
Nos chamados dependentes, aqueles em que o percentual das vendas é mais alto em relação ao faturamento das empresas, os maiores prejudicados serão madeira, produtos de metal, principalmente de armamento, e celulose. Entre as mais expostas, isto é, os percentuais das vendas aos Estados Unidos são maiores em relação ao total que exportamos, estão, novamente, produtos de metal, máquinas e materiais elétricos, e couro e calçados. “Esses últimos dois são particularmente importantes porque eles empregam muito no Rio Grande do Sul, apesar de o percentual não ser tão elevado”, destacou Ayub.
As projeções dos movimentos entre entre os países também são incertas. “Essa resposta é difícil de dar em números porque temos um problema de desequilíbrio geral. O que que quero dizer com isso é que, ao mesmo tempo que estamos sofrendo com essa tarifa, os chineses também estão. São muitos movimentos com sentidos contrários, é difíci prever o resultado final”, destacou Caroline.
"A solução está em negociar sem polarização"