No Rio Grande do Sul, o setor tabagista acompanha com cautela o conflito comercial entre Brasil e Estados Unidos após o anúncio das tarifas impostas pelo presidente Donald Trump, nesta quarta-feira (9). A sobretaxa em 50% sobre os produtos brasileiros para exportação ao país norte-americano é considerada uma manobra política, com um impacto econômico robusto. O presidente do Sindicato da Indústria do Tabaco (Sinditabaco), Valmor Thesing, classifica a situação como complexa, mas acredita, na pior das hipóteses, em uma realocação do volume para outros mercados, caso a medida entre em vigor no dia 1º de agosto.
Os pequenos produtores familiares representam a totalidade da produção gaúcha no setor, com cerca de 65 mil famílias e 180 mil pessoas atuantes, explica o presidente. De acordo com o Departamento de Economia e Estatística (DEE), com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o fumo não manufaturado é o produto mais exportado pelo Estado aos EUA. Em 2024, foram cerca de US$ 235 milhões arrecadados com os embarques.
Em nível nacional, são 38 mil toneladas por ano, das quais mais de 90% saem do Porto de Rio Grande, na Zona Sul do RS, frisa Thesing. Ele afirma que o Brasil responde por 20 a 30% de todo o comércio de tabaco ao redor do mundo e exporta para mais de 100 países.
Diante deste cenário, os EUA representaram, no ano passado, apenas 9,29% da exportação da indústria gaúcha no setor. À frente, está a China, com 22,31%, e a União Europeia, com 32,23%, que segundo o presidente da Sinditabaco, despontam como os principais mercados para suprir a demanda estadunidense.
Existe, no entanto, a expectativa de que o tarifaço não saia do papel. “Acredito que vai haver uma negociação, e oxalá que até final de julho eles tenham encontrado uma alternativa. Porque não é só ruim para o Brasil, é ruim para os Estados Unidos também”, diz Thesing, que prevê uma inflação exacerbada nos produtos brasileiros em solo americano.
Metade do fumo não manufaturado destinado aos EUA neste ano já foi embarcado, informa o Sinditabaco. As entregas são graduais e constantes, de janeiro a dezembro, e os meses com pico de exportação são abril, maio, setembro e outubro, conta o presidente da entidade. Ainda assim, o cenário para o segundo semestre é delicado. “Não sabemos se o cliente americano, com uma tarifa deste porte, vai honrar o contrato ou tentar cancelar o acordo. É algo individual de cada venda e empresa. Por isso o cenário é tão complexo”, projeta.
Os dados do DEE do primeiro trimestre de 2025 apontam que o Estado arrecadou aproximadamente US$ 42 milhões com o produto exportado para os norte-americanos. O valor é menor que os US$ 45 milhões arrecadados com celulose e os US$ 54 milhões com máquinas de energia elétrica e suas partes.
Entretanto, até 2024, o setor do Rio Grande do Sul cresceu exponencialmente na exportação para o país no período de cinco anos. Em 2020 e 2021, anos de pandêmia, os números foram modestos, com cerca de US$ 92 milhões e US$ 89 milhões, respectivamente. Depois, com a recuperação da indústria, foram mais de US$ 155 milhões em 2022. Um ano depois, a crescente foi um pouco menor, mas atingiu a casa dos US$ 163 milhões, antes da decolada para 2024, com os mais de US$ 230 milhões adquiridos. Os dados também pertencem ao DEE. Em todos os casos, os Estados Unidos foram o terceiro maior importador de fumo do RS.
Exportação de fumo não manufaturado do RS para os EUA nos últimos anos
2020 - US$ 92.847.348,00; 7,81% do total
2021 - US$ 89.828.487,00; 8,24% do total
2022 - US$ 133.540.786,00; 6,71% do total
2023 - US$ 163.606.123,00; 7,14% do total
2024 - US$ 235.185.469,00; 9,29% do total
Exportação de fumo não manufaturado do RS para os EUA nos últimos anos
Arte/JC