As empresas do segmento atacadista, bem como o comércio em geral, enfrentam os desafios da conjuntura nacional, marcada por inflação e taxas de juros elevadas, fatores que inibem o consumo da população. A análise é de uma das importantes lideranças empresariais do Estado,Zildo De Marchi, presidente do Sindiatacadistas do Rio Grande do Sul, entidade que reúne outras sete em sua estrutura organizacional.
• ACESSE: Caderno Dia do Comércio 2025
De Marchi, nascido em 1° de outubro de 1925, na cidade de Barão, é uma referência no Rio Grande do Sul pela sua capacidade empreendedora, e diz que o Dia do Comércio em 2025 será marcado mais uma vez pelos desafios. "Esses problemas citados afetam, em maior ou menor grau, todos os segmentos do comércio", destaca o dirigente.
O dirigente explica que muitas empresas ainda estão recompondo problemas em função da enchente ocorrida no ano passado. "As perdas foram grandes, não só de estoques, como de estrutura física inclusive, sem contar que tiveram que buscar no mercado financeiro recursos para reconstrução", salienta.
O empresário também atribui o agravamento da situação aos problemas climáticos, ameaçando o desempenho do setor atacadista e ao comércio gaúcho. De Marchi lembra dos reflexos das cheias e as sucessivas estiagens para o agronegócio e para a infraestrutura das rodovias no Rio Grande do Sul.
De Marchi vê o anúncio de uma tarifa de 50% por parte dos Estados Unidos como um alerta importante para o setor atacadista. "Embora os efeitos ainda estejam sendo avaliados com base na lista oficial de produtos atingidos, é inegável que o Rio Grande do Sul, por sua vocação agroindustrial e forte integração com o mercado externo, pode sentir impactos relevantes", cita.
Jornal do Comércio - Como o senhor analisa o Dia do Comércio em 2025?
Zildo De Marchi - O Dia do Comércio em 2025 ocorre em meio a desafios que têm que ser enfrentados pelas empresas do setor, referentes aos efeitos que se fazem sentir da conjuntura nacional marcada pela inflação e taxa de juros elevadas, o que inibe o poder de consumo da população. O problema afeta, em maior ou menor grau, todos os segmentos do comércio. Além disso, muitas empresas ainda estão recompondo seus negócios em função da enchente do ano passado, as perdas foram grandes, não só de estoques como de estrutura física inclusive, sem contar que tiveram que buscar no mercado financeiro recursos para reconstrução.
JC - Quais os segmentos mais favorecidos e quais sofreram algum tipo de dificuldade no RS em 2025?
De Marchi - No setor atacadista, dentre as categorias que representamos, o material de construção teve registro de alta no desempenho devido à reconstrução pós-enchente, demanda de obras aquecidas, investimentos públicos e privados alavancados e procura por embalagens e produtos de limpeza. Em termos de redução no desempenho, podemos observar o setor alimentício, em função das sazonalidades, inflação que afeta o consumo, estiagens e calor excessivo no início do ano, que afetou o agro e outros fatores pontuais.
JC - Qual é a avaliação que o Sindiatacadista-RS faz sobre os seus associados em relação aos problemas climáticos?
De Marchi - Os problemas climáticos - cheias e sucessivas estiagens — constituem graves ameaças ao desempenho do setor atacadista e ao comércio gaúcho como um todo. Eles tornam mais aguda a conjuntura negativa nacional decorrente da inflação e alta de juros, além de impactar na produção, principalmente do agronegócio, causando sérios transtornos nas rodovias, comprometendo a questão da logística, que é um ponto essencial para a eficiência do atacado.
JC - Quais os setores mais afetados neste ano?
De Marchi - Como o Rio Grande do Sul é um estado importante na produção de alimentos, os problemas climáticos afetaram de forma significativa a cadeia alimentar, muitas perdas de estoque e estiagem geraram importantes quedas no setor de alimentos. Já as enchentes afetaram a produção de culturas como arroz, milho e feijão, além de impactar o processamento e a distribuição de alimentos.
JC - O Sindiatacadistas-RS representa quantos sindicatos no momento e qual é a participação do setor no PIB gaúcho?
De Marchi - O Sindiatacadistas-RS congrega sete sindicatos do comércio atacadista setoriais, abrangendo atacados em geral, gêneros alimentícios, bebidas em geral, material de construção, tecidos e vestuário, medicamentos e produtos químicos, madeiras. O Atacado representa um PIB estimado de 5,9% no Rio Grande do Sul.
JC - Como o senhor analisa o anúncio de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto deste ano? Isto pode afetar o setor atacadista?
De Marchi - O anúncio de uma tarifa de 50% por parte dos Estados Unidos representa um alerta importante para o setor atacadista. Embora os efeitos ainda estejam sendo avaliados com base na lista oficial de produtos atingidos, é inegável que o Rio Grande do Sul, por sua vocação agroindustrial e forte integração com o mercado externo, pode sentir impactos relevantes. Estamos atentos e atuando junto às empresas e autoridades para mitigar eventuais danos, buscar recolocação de mercado e defender medidas que protejam a atividade econômica regional e a manutenção de empregos.
JC - Como está a absorção de mão de obra no segmento atacadista em 2025?
De Marchi - A absorção de mão de obra no segmento atacadista em 2025 segue padrões de normalidade. As empresas buscam reter seus quadros de pessoal que representam ativo importante para suas atividades num mercado crescentemente competitivo. Estamos em uma defasagem de mão de obra no mercado, por isso estamos buscando qualificar nossas equipes e sermos mais competitivos, buscando atender da melhor forma nossos clientes. O Sindiatacadistas-RS procura apoiar as empresas, neste quesito de mão de obra, oferecendo cursos e treinamentos de qualificação.
JC - Como está o uso das Inteligências Artificiais (IA) no segmento atacadista gaúcho?
De Marchi - As empresas maiores, com certeza, já estão atentas e trabalhando com a IA para aumentar sua competitividade, mas infelizmente não é a realidade de todos os atacadistas, principalmente os menores negócios, e com esta preocupação que o Sindicato promove também treinamentos e procura proporcionar contato com ferramentas acessíveis a todos. Também estamos oferecendo um curso gratuito, em parceria com o Senac, de Ferramentas de Inteligência Artificial. A carga horária é de 24 horas.
JC - O senhor destaca que o setor precisa da inovação como estratégia?
De Marchi - Sim. O Sindiatacadistas-RS entende que para se manter ativo é preciso inovação e estratégia. O uso das Inteligências Artificiais está em expansão no segmento atacadista gaúcho. A propósito, este será um dos temas centrais em debate durante o 1º Fórum Atacadista-RS que o Sindiatacadistas-RS estará promovendo no próximo dia 4 de setembro deste ano na sede da Fecomércio-RS, em Porto Alegre, focalizando o Eixo Temático "Inovação e Transformação Digital no Atacado". O evento discutirá os principais desafios e tendências do setor, cenários econômicos e regulatórios,
impactos da inflação, carga tributária, cadeia de suprimentos e tendências do mercado e comportamento do consumidor.