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Publicada em 08 de Julho de 2025 às 15:54

Programa Desassorear RS começa estudo sobre condições atuais do Guaíba

Trabalho de batimetria, que mede a profundidade das águas do lago, está incluído na iniciativa

Trabalho de batimetria, que mede a profundidade das águas do lago, está incluído na iniciativa

TÂNIA MEINERZ/JC
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Caren Mello
Caren Mello
Após duas grandes enchentes, em setembro de 2023 e maio de 2024, a possibilidade de novas cheias e transbordamento do lago Guaíba preocupa gestores municipais, especialistas e população. Junto com a alta das águas, pode vir o assoreamento, restringindo o trânsito de embarcações  e impactando a economia. O acúmulo de sedimentos como terra, vegetação e lixo, no entanto, não é visto como problema pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH-Ufrgs).

Após duas grandes enchentes, em setembro de 2023 e maio de 2024, a possibilidade de novas cheias e transbordamento do lago Guaíba preocupa gestores municipais, especialistas e população. Junto com a alta das águas, pode vir o assoreamento, restringindo o trânsito de embarcações  e impactando a economia. O acúmulo de sedimentos como terra, vegetação e lixo, no entanto, não é visto como problema pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH-Ufrgs).
Para o IPH, o assoreamento atual do Guaíba não é prejudicial e não tem relação com as enchentes. Trata-se de movimento natural dos recursos hídricos. “Não temos nenhum elemento que nos digam que houve um assoreamento preocupante do Guaíba, apenas algumas indicações visuais e bancos de areia que surgiram. Nosso canal de navegação continua trabalhando muito bem”, observa o professor do IPH e mestre em Recursos Hídricos, Fernando Meirelles.
O especialista lembra que uma medição feita por outro Instituto da Ufrgs, o de Geociências, apontou que próximo ao Gasômetro, no estrangulamento do rio Jacuí com o Guaíba, houve forte erosão no leito do rio com a retirada de material, o que provocou aumento da velocidade das águas, e sedimentado logo adiante. Daí a importância de ações técnicas coordenadas, já que o desassoreamento por um município, de forma isolada, pode acelerar a chegada da água em uma região mais baixa.
Para dirimir dúvidas e definidas ações, porém, o IPH tem cobrado do Estado novo estudo detalhado (batimetria), já que o último foi realizado em 1966. “Nós não conhecemos o Guaíba. Quem é ele depois das dragagens para construir o Beira-Rio, o aterro do Marinha do Brasil? Não sabemos”, observa.
De acordo com o levantamento do IPH, é possível avaliar que não há impacto significativo no Guaíba que exija altos investimentos. Além disso, ressalta o especialista, a areia que se encontra no local é de propriedade de empresas privadas, que tiveram licença federal para lavra. “Hidraulicamente, não temos nenhuma indicação de que o Guaíba esteja assoreado. E a erosão do Jacuí não interferiu no escoamento da maior parte da vazão, a utilizada pela navegação. O que precisa, sim, é de manutenção, como é feito em rodovias.
A secretária de Meio Ambiente e Infraestrutura do Estado, Marjorie Kaufmann, diz fazer coro com aqueles que apontam o risco de uma nova cheia. No entanto, há diversas frentes a serem trabalhadas, a partir de emergências climáticas, que se tornarão normais. “É um momento de conscientização. As mudanças climáticas e suas proporções exigem iniciativas que passam, além da limpeza hidrológica, pela revisão das redes pluviais e de drenagem urbana, batimetrias, revisão no Plano Diretor e realocação das pessoas”, observa.
“Muitas enchentes ainda irão acontecer porque são soluções que demoram muitos anos”, acrescenta.
O Estado deu início no ano passado ao processo de licitação para nova batimetria do Guaíba, que terá início oficial nesta quarta-feira (9). O trabalho, que mede  a profundidade das águas, será desenvolvido dentro do programa Desassorear RS, com o objetivo promover a limpeza de arroios, canais de drenagem e sistemas pluviais de municípios. O programa é dividido em dois eixos, sendo que o primeiro de rios com até 50m de largura. Foram assinados no início de junho as ordens de serviço que autorizam o começo dos levantamentos batimétricos nas quatro regiões prioritárias do Eixo 2, que engloba os rios de grande porte e o Guaíba. As empresas aptas tiveram a ordem de início expedida em 30 de maio, com R$ 45,9 milhões investidos. A previsão é de conclusão em 180 dias.
“Estamos trabalhando em diversas frentes. Passamos por uma situação adversa que nos fez olharmos mais atentamente (a questão). não tínhamos a cultura de batimetrias regulares, mas elas deverão ser incorporadas, assim como outras iniciativas”, diz a secretária, ao citar a revisão da drenagem urbana, com o redimensionamento da rede, do Plano Diretor e de políticas de realocação de pessoas.

Entidades manifestam preocupação com o lago

A preocupação com a situação do Guaíba foi tema de manifesto entregue ao governo do Estado pelas federações gaúchas da indústria (Fiergs), de comércio e serviços (Fecomércio-RS) e da agricultura (Farsul) no final de junho. Assinado pelos presidentes Claudio Bier (Fiergs), Luiz Carlos Bohn (Fecomércio-RS) e Gedeão Pereira (Farsul), o texto defende a “adoção imediata de uma política estadual de desassoreamento sistemático e permanente de rios e canais do Estado, aliada à construção, recuperação e manutenção contínua de diques e demais obras de contenção”.
As federações reconhecem os esforços do poder público para enfrentar a situação sem precedentes, mas apelam para que haja “maior celeridade nos processos de contratação das empresas responsáveis pelo desassoreamento”. “Não estamos falando apenas de dragar rios. Estamos falando de garantir o futuro do nosso Estado. De proteger vidas. De manter o Rio Grande do Sul navegável, produtivo e resiliente”, finalizam as entidades.
A qualidade do calado para o uso das vias fluviais é defendida Associação Hidrovias RS (HidroviasRS) como uma importante alternativa econômica para o Rio Grande do Sul. A extração de areia também é lembrada como, embora polêmica, uma solução para baratear os custos de desassoreamento.
De acordo com o presidente da Associação Hidrovias RS (HidroviasRS), Wilen Manteli, estados e municípios deveriam se unir para ações rápidas e eficazes. “A limpeza é urgente. Temos trechos que praticamente não têm mais canal de navegação, em função de areia, lodo e arvores. É caro, difícil, mas tem que ser limpo”, defende.
Para Manteli, as iniciativas por parte das administrações deveriam ter tido início logo após as enchentes. “Quando há desastres nas estradas ou nas cidades, o poder público corre para desobstruir o local e restabelecer a normalidade. O mesmo deveria acontecer com rios. Deveria ter havido uma ação enérgica e rápida, nas mesmas proporções do que aconteceu”, diz, ao defender que técnicos especializados, como engenheiros hídricos, deveriam ser mais ouvidos.
O vice-presidente de Infraestrutura da Federação das Entidades Empresarias do RS (Federasul), Antônio Carlos Bachieri, diz que vem mantendo contato permanente com o governo do Estado e as empresas que estão ligadas, de alguma forma, à rede fluvial no Estado. “Em termos de dragagem, responsabilidade da Portos RS, vem sendo feita”, observa.
Outra medida, segundo defende Bachieri, deveria ser a liberação da extração de areia. “Somos favoráveis à retomada da extração. Quando existia, diziam que é a melhor areia para a construção civil. Esse debate deveria ser retomado. Se seria uma solução, não sei. Mas geraria renda e ajudaria na limpeza do Guaíba”, destaca, ao defender um estudo detalhado sobre o impacto econômico e ambiental.

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