A Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul (Sergs) realiza nesta quarta-feira (25), às 12h, um evento especial em sua sede, no bairro Pedra Redonda, em Porto Alegre. A ocasião marca três momentos importantes: a posse solene da nova diretoria eleita para o biênio 2025–2027, a comemoração dos 95 anos da entidade e o lançamento da edição especial da Revista Sergs 95 anos. Assumem a presidência o engenheiro civil Leonardo Salvaterra Treiguer, a engenheira civil Tatiana Gomes Tedesco como 1ª vice-presidente e a engenheira civil Carolina Bottini Anzolch como 2ª vice-presidente. A nova gestão promete uma atuação voltada à valorização da profissão e ao diálogo plural com governos, empresas e universidades. Em entrevista ao Jornal do Comércio, Leonardo Treiguer antecipa suas prioridades, fala da importância de atrair jovens engenheiros, da retomada do protagonismo da engenharia no debate público e da missão da Sergs em contribuir com soluções sustentáveis para os desafios do Estado.
Jornal do Comércio – Qual será a prioridade número um da nova gestão à frente da Sergs?
Leonardo Treiguer - A prioridade número um é, primeiro, dar continuidade ao trabalho realizado até aqui, mas também retomar a aproximação com os jovens engenheiros - tanto os que estão na universidade quanto os que já atuam no mercado -, trazendo-os para dentro da Sociedade de Engenharia. Hoje, há um afastamento natural das pessoas, de modo geral, e ainda mais dos jovens, do mundo físico. Estão todos nas redes sociais, participando de eventos online, em casa - seja para se divertir, trabalhar ou se socializar. A ideia é integrar esses dois mundos: ampliar a presença digital da sociedade, estar nas redes sociais, transmitir eventos online e, ao mesmo tempo, atrair as pessoas para participar presencialmente - das reuniões, debates, da sede na Zona Sul, das piscinas, da escola de tênis e da escola de judô.
JC – Por que é tão urgente aproximar a engenharia dos jovens profissionais e estudantes?
Treiguer - É urgente porque uma das funções da Sociedade de Engenharia é justamente valorizar a profissão e promover seu reconhecimento. Uma forma eficaz de fazer isso é por meio de ações presenciais: eventos, debates, premiações e encontros. Essas iniciativas aproximam as pessoas, permitem a troca de ideias e o entendimento das necessidades de diferentes atores - engenheiros, empresas, governos e universidades. Com essa interação, todos saem ganhando.
JC – Como a Sergs pretende influenciar decisões públicas em temas como o Plano Diretor de Porto Alegre?
Treiguer - O papel da Sergs é promover o debate. Aqui, temos um espaço neutro, sem alinhamentos partidários, que permite discussões amplas. Quando tratamos de um tema como o Plano Diretor, fundamental para o desenvolvimento da cidade, nosso objetivo é criar um ambiente em que o governo possa apresentar suas propostas, a academia compartilhe visões de professores e alunos, e as empresas contribuam com sua perspectiva sobre crescimento, construção e mercado. Queremos aprofundar essa discussão para que todos formem suas opiniões de forma embasada, e para que o poder público possa agir com mais clareza e legitimidade.
JC – A engenharia perdeu espaço no debate público? Como recuperar esse protagonismo?
Treiguer - Sim, muitas profissões perderam espaço nos últimos anos para ocupações mais associadas ao ambiente digital. Hoje, há um fascínio pelas carreiras de influenciadores, criadores de conteúdo, e pela atuação online. Mas, quando falamos em inovação, um tema tão presente atualmente, é importante lembrar que ela passa, em grande parte, pela engenharia. A inovação na medicina, por exemplo, muitas vezes é fruto da engenharia. O mesmo vale para as comunicações. Por trás de quase toda aplicação inovadora, há um trabalho de engenharia. Cabe à Sociedade de Engenharia destacar esse papel e mostrar como a engenharia está na vanguarda de diversas áreas do conhecimento.
JC – Quais áreas da infraestrutura gaúcha demandam atenção imediata sob a ótica técnica da engenharia?
Treiguer - Vivemos em um país com muito potencial de crescimento e que ainda precisa desenvolver significativamente sua infraestrutura. O Rio Grande do Sul, por exemplo, é um estado de grande extensão territorial. Comparando com a Europa, temos o tamanho de países inteiros. No entanto, o Brasil possui uma malha ferroviária bastante limitada, menor que a de muitos países europeus. O mesmo vale para as estradas. Precisamos investir em rodovias, mobilidade urbana e energia, para sustentar o crescimento e a inovação que o estado demanda e já está vivenciando.
JC – Como a entidade pretende ampliar a interlocução com o setor privado, especialmente nas áreas de inovação e construção civil?
Treiguer - Nosso objetivo é criar um ambiente fértil para o diálogo. Ao promover debates sobre temas como mobilidade urbana, conseguimos envolver empresas do setor. Um exemplo concreto é nossa intenção de retomar a discussão sobre o aeromóvel aqui na Sergs. Trata-se de uma tecnologia desenvolvida no Rio Grande do Sul, atualmente sendo aplicada em São Paulo. Queremos debater a possibilidade de expandir esse modal aqui mesmo, como já acontece no trecho entre a Trensurb e o aeroporto. Nosso ciclo de eventos, o Sergs Debates, será o espaço para isso. Queremos organizar uma edição dedicada à mobilidade urbana e ao potencial do aeromóvel no estado, avaliando os aspectos de infraestrutura, viabilidade governamental, legislação, licenciamento e, claro, o interesse da sociedade. Além disso, discutiremos o envolvimento da empresa Aeromóvel e de outras prestadoras de serviços que poderiam se beneficiar desse empreendimento. Será um debate plural e estratégico.
JC – O ciclo Sergs Debates seguirá como uma plataforma estratégica? O que está previsto?
Treiguer - Sem dúvida. O Sergs Debates já tem forte presença no estado e é uma das principais linhas de atuação da nossa agenda de eventos. Vamos manter a programação e estruturá-la com uma grade anual consolidada. Temos pelo menos mais seis encontros previstos para este ano, cada um abordando um tema relevante para a sociedade e para a engenharia. Na última edição, discutimos os incentivos oferecidos pelo governo estadual e municipal para jovens engenheiros. O próximo será sobre investimentos no Rio Grande do Sul. Também estamos organizando debates sobre mobilidade urbana, investimentos da CMPC no Estado e, possivelmente, um evento voltado à aproximação entre estudantes de engenharia e o mercado, com foco em apoio, oportunidades e conexões com a sociedade e com as empresas.
JC – Qual o papel da engenharia na busca por soluções sustentáveis nas cidades?
Treiguer - A sustentabilidade é um tema absolutamente essencial, eu acredito muito na sua importância. Hoje, não é possível pensar em desenvolvimento sem considerar a sustentabilidade. Por exemplo, um projeto de mobilidade urbana só avança se tiver suas questões ambientais bem resolvidas. Caso contrário, enfrentará obstáculos administrativos e políticos. Isso vale para os governos e para as empresas envolvidas. Uma solução tecnológica que não contemple o aspecto ambiental dificilmente prosperará. Por outro lado, temos hoje muito mais incentivo e facilidade para desenvolver projetos com foco social e ambiental. Acredito que essa é uma bandeira importante para a engenharia e que deve estar presente desde o início da formulação de qualquer projeto.
JC – Que marca você deseja deixar ao final deste mandato na presidência da Sergs?
Treiguer - Gostaria de deixar como marca uma Sergs viva, atuante, protagonista, mas, acima de tudo, feita de pessoas. Eu sou alguém que valoriza o relacionamento humano, gosto de conhecer, dialogar, ser gentil e manter uma conversa franca. Desejo que a Sociedade de Engenharia seja percebida assim: como um espaço acolhedor, onde engenheiros, arquitetos, agrônomos e tantos outros profissionais possam se encontrar, participar de debates, compartilhar experiências, aprender e ensinar. Uma entidade com vida, construída pela participação de todos.