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Publicada em 23 de Maio de 2025 às 00:15

Indústria acelera na IA em meio a desafios estruturais

Maioria das empresas do segmento do Brasil ainda não utiliza IA, aponta McKinsey

Maioria das empresas do segmento do Brasil ainda não utiliza IA, aponta McKinsey

AdobeStock/Divulgacão/JC
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Patricia Knebel
Patricia Knebel
A adoção da Inteligência Artificial (IA) pelas indústrias brasileiras ainda é tímida, mas avança em ritmo gradual. Dados da mais recente Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec), realizada pelo IBGE em 2023, indicam que apenas 17% das empresas industriais utilizam IA — proporção significativamente inferior à observada em tecnologias como computação em nuvem (73,6%) e internet das coisas (48,6%).
A adoção da Inteligência Artificial (IA) pelas indústrias brasileiras ainda é tímida, mas avança em ritmo gradual. Dados da mais recente Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec), realizada pelo IBGE em 2023, indicam que apenas 17% das empresas industriais utilizam IA — proporção significativamente inferior à observada em tecnologias como computação em nuvem (73,6%) e internet das coisas (48,6%).
As principais barreiras apontadas para a implementação de tecnologias digitais avançadas, como a IA, foram a falta de funcionários qualificados internamente (54,6%) e a escassez de profissionais no mercado (49%).A maioria das indústrias brasileiras ainda não utiliza IA, segundo a Pesquisa Global da McKinsey, de 2024. A maior parte delas está em fase de testes em marketing, vendas e engenharia; as líderes, porém, desenvolvem modelos próprios e envolvem o alto escalão na estratégia.
"O instinto de muitas empresas é delegar a implementação ao departamento de TI ou digital, mas, repetidamente, isso acaba sendo uma receita para o fracasso", avalia Alexander Sukharevsky, sócio sênior e colíder global da QuantumBlack, AI by McKinsey. Um dos pontos críticos é o impacto que a adoção de tecnologias avançadas tem na organização, incluindo a questão de contratações especializadas. "É uma transformação potencialmente cara, que exige o uso intensivo de recursos e talentos, às vezes escassos."
São desafios que impactam de forma mais crítica setores ligados ao desenvolvimento de novos produtos. Uma forma de medir a incorporação de IA na produção é o volume de patentes. E a resposta é que sim: estão aumentando os pedidos de patentes desse tipo, de acordo com o estudo Inteligência Artificial em Máquinas e Equipamentos, publicado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), em parceria com o Núcleo de Inteligência em Propriedade Industrial (NIPI). No entanto, a maior parte dos depósitos de patentes (fase que é anterior ao registro) não é de empresas ou instituições brasileiras.
A pesquisa fez um levantamento de documentações entre 2001 e 2019 com solicitação de IA abarcada em máquinas e equipamentos — pesquisa que tem limitações de informações devido aos prazos de sigilo e tratados internacionais que podem chegar a 36 meses. A constatação foi a de que, em média, são registrados 450 depósitos por ano, mas somente 100 deles são feitos por pessoas, marcas ou instituições residentes no Brasil, e o estudo demonstra que houve melhora gradativa nesse dado sobretudo a partir de 2015.
Outro dado desse estudo revela que cerca de 60% dos depósitos nacionais vêm de universidades públicas, o que reforça a necessidade de conectar academia e indústria para acelerar a transferência tecnológica. As categorias mais frequentes nos pedidos nacionais envolvem visão computacional em equipamentos médicos, sistemas de reconhecimento de padrões e dispositivos elétricos.

RS lidera projetos de inovação apoiados pela Finep na NIB

O Rio Grande do Sul é o estado brasileiro com o maior número de projetos de inovação apoiados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) dentro da Nova Indústria Brasil (NIB), política nacional de reindustrialização lançada pelo governo federal. Em 2024, das 1.416 iniciativas aprovadas nacionalmente pelo programa, 294 são lideradas por empresas, startups e Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) gaúchas — o que corresponde a 20,7% do total nacional —, de acordo com dados divulgados pela Finep. Os projetos gaúchos receberam R$ 2,9 bilhões em investimentos. O programa de estímulo à reindustrialização tem a Finep, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), como uma das principais instituições operadoras dessa iniciativa. Em todo o País, os projetos receberam investimentos que somam R$ 21,2 bilhões ao longo do ano, sendo R$ 17,83 bilhões aportados pela Finep e R$ 3,37 bilhões investidos como contrapartida pelas empresas participantes.

Startup gaúcha destaca aumento do espaço para robôs humanoides

PIX Force, liderada por Moura, expande operação para mercado internacional

PIX Force, liderada por Moura, expande operação para mercado internacional

Pix Force/Divulgação/JC
A Pix Force é uma das empresas gaúchas que integram a Nova Indústria Brasil (NIB), programa federal de reindustrialização e inovação tecnológica. Com crescimento de 40% registrado em 2024, a startup projeta dobrar esse resultado em 2025, apostando em soluções de visão computacional e inteligência artificial para aumentar a eficiência das operações industriais.
Em processo de internacionalização, a Pix Force, que já tem escritórios nos Estados Unidos e na Finlândia, prepara a abertura de uma nova unidade em Hong Kong ainda neste ano. Para Daniel Moura, cofundador da startup, a inteligência artificial será decisiva para tornar a indústria mais segura, produtiva e sustentável, acelerando o avanço rumo à Indústria 4.0.
Mercado Digital - Qual a maior contribuição que a IA pode dar para a indústria?
Daniel Moura — A maior contribuição da IA hoje é melhorar as inspeções visuais: identificar falhas, prevenir acidentes e garantir a qualidade. Isso vale para segurança do trabalho, controle de qualidade e proteção de ativos. Mas é só o começo. Em pouco tempo, agentes de IA vão tomar decisões completas dentro de uma fábrica — como definir preços, fazer compras e gerenciar operações com base em dados. E os robôs humanoides também vão ganhar espaço, assumindo tarefas repetitivas nas linhas de produção.
Mercado Digital - As empresas estão maduras sobre IA?
Moura — Ainda existe pouca maturidade. A boa notícia é que a maioria já entendeu que a IA é inevitável. Quem não se adaptar vai ficar para trás. Isso lembra muito o que aconteceu nas revoluções industriais anteriores. A maturidade virá com o tempo, conforme as empresas comecem a usar de verdade.
Mercado Digital - Como a Pix Force vem se posicionando?
Moura — A Pix Force é hoje uma referência em inteligência artificial aplicada à visão computacional industrial. Temos atuação em todo o Brasil e escritórios comerciais nos Estados Unidos, Europa e Hong Kong, com clientes já utilizando nossas soluções. Nosso diferencial é dominar profundamente a tecnologia e saber aplicá-la na prática, falando a linguagem da indústria — o que nos permite entregar resultados concretos e escaláveis.
Mercado Digital - Pode citar dois cases de sucesso?
Moura — O primeiro é o Pix Safety, que transforma câmeras comuns já instaladas nas fábricas em sensores inteligentes, capazes de detectar riscos em tempo real e evitar acidentes. Já está em operação em indústrias de petróleo, alimentos, bebidas, siderurgia e química. O segundo é o uso de drones autônomos para inspecionar locais perigosos ou de difícil acesso. Eles voam sozinhos, registram imagens e a IA analisa tudo, detectando corrosão, calor, rachaduras e outros problemas.

Big techs apostam em crescimento acelerado do uso

Como a Inteligência Artificial está transformando o setor industrial? O que podemos esperar para o futuro? Ouvimos líderes de algumas das mais importantes empresas de  tecnologia do mundo para entender todo potencial da IA para o presente e o futuro:

'IA é um amplificador da produtividade humana'

Christiano Faig, VP de Tecnologia e Soluções na Microsoft Brasil

Christiano Faig, VP de Tecnologia e Soluções na Microsoft Brasil

/Microsoft/Divulgação/JC
A Inteligência Artificial (IA) está redefinindo a indústria ao impulsionar uma profunda transformação digital nas empresas, independentemente do seu tamanho e segmento. A Microsoft enxerga a IA como um amplificador da produtividade humana, capaz de ajudar em tarefas repetitivas com precisão e eficiência, permitindo aos colaboradores concentrarem-se em atividades estratégicas e criativas.
R$ 14,7 bilhões em infraestrutura
A IA pode ser a chave para enfrentar grandes desafios sociais e econômicos, elevando a competitividade da indústria brasileira. Para que o potencial dessa tecnologia no País seja plenamente alcançado, sabemos que devemos fazer isso com responsabilidade e promovendo um desenvolvimento econômico igualitário. Por isso, anunciamos em setembro de 2024 um investimento de R$ 14,7 bilhões em infraestrutura de nuvem e IA no Brasil por três anos, além de um compromisso em treinar 5 milhões de brasileiros com o objetivo de endereçar a mudança na força de trabalho.
Interação entre humanos e tecnologia
No Brasil, empresas como a Suzano estão impulsionando sua eficiência e reduzindo erros ao usar a IA para otimizar processos industriais como o cozimento da celulose. Já a MRV está aumentando seus resultados da Sofia, um chatbot alimentado por IA que oferece atendimento inovador e personalizado aos clientes. Projetamos uma era na qual a interação entre humanos e tecnologia será cada vez mais fluida e intuitiva, graças aos avanços em agentes de IA. Cada colaborador contará com um copiloto de IA, auxiliado por agentes especializados em automatizar e otimizar processos empresariais.

'Futuro caminha para sistemas mais autônomos'

Thiago Viola, diretor de IA, data 
e automação da IBM Brasil

Thiago Viola, diretor de IA, data e automação da IBM Brasil

/IBM/Divulgação/JC
A Inteligência Artificial (IA) tem provocado uma transformação profunda em praticamente todos os setores da economia. Está mudando a forma como as organizações tomam decisões, otimizam processos, interagem com clientes e criam novos modelos de negócio. A IA está cada vez mais acessível, permitindo que empresas de todos os portes inovem com mais velocidade, precisão e escala.
Indústria 4.0
A IA tem acelerado a jornada rumo à Indústria 4.0, viabilizando operações mais eficientes, seguras, produtivas e sustentáveis, por meio de soluções como manutenção preditiva, inspeções visuais automatizadas, controle de qualidade baseado em visão computacional, otimização de cadeias de suprimentos e robôs colaborativos.
A combinação de IA com Internet das Coisas (IoT) e o volume de dados expressivos tem criado um cenário positivo cada vez mais para a IA entender e executar com ganhos reais em competitividade.
Agentes coordenando cadeia de suprimentos
O futuro da IA caminha para sistemas cada vez mais autônomos, personalizados e colaborativos.
Os agentes inteligentes são capazes de perceber o ambiente, tomar decisões, agir de forma autônoma e aprender com as consequências dessas ações.
Estamos falando de IA que não apenas responde, mas que inicia ações, se adapta ao contexto e trabalha proativamente em conjunto com humanos e outros agentes. No setor industrial, os agentes de IA têm o potencial de transformar completamente as operações.

"IA generativa revoluciona sistemas de detecção de defeitos"

Cleber Morais, diretor geral da AWS Brasil

Cleber Morais, diretor geral da AWS Brasil

AWS/Divulgação/JC
Cleber Morais, diretor geral da AWS Brasil
A IA está acelerando a inovação de empresas que valorizam os dados e investem em infraestruturas de alto desempenho com custo otimizado. Na manufatura, a IA generativa atua nos principais desafios de produtividade, controle de qualidade e desenvolvimento da força de trabalho. Os fabricantes estão melhorando drasticamente a eficiência do chão de fábrica e os processos de manutenção, e aumentando o throughput de produção. No controle de qualidade, a IA generativa está revolucionando os sistemas de detecção de defeitos, criando dados de imagens sintéticas para treinar modelos mais robustos. A Merck implementou essa abordagem com sucesso, reduzindo as rejeições falsas em todas as linhas de produtos em mais de 50%. Já a BMW está ganhando tempo com a otimização do estoque em toda a cadeia de suprimentos.
Modelos para direção autônoma
A IA generativa também está transformando o desenvolvimento de Sistemas Avançados de Assistência ao Motorista (ADAS) na indústria automotiva. As soluções de IA generativa da AWS atacam os principais desafios no processamento de dados, simulação e treinamento de modelos para direção autônoma. Uma solução da Torc Robotics, uma subsidiária da Daimler Truck AG, permite que consultas de linguagem natural pesquisem petabytes de dados de imagem, acelerando significativamente a identificação de cenários de direção específicos para treinamento de modelos de ML. Essa abordagem permite que os desenvolvedores se concentrem mais na inovação e menos na pesquisa de dados.
IA, IoT e análise avançada de dados
A IA generativa é forte aliada na superação dos desafios da força de trabalho do setor, com chatbots e assistentes virtuais mais eficientes e que fornecem suporte 24 horas por dia, 7 dias por semana, para treinamento e integração de pessoal. Todas as nossas experiências serão transformadas pela IA generativa, e na indústria não será diferente. A manufatura do futuro integra tecnologias como IA/ML, internet das coisas, análise de dados e nuvem para destravar o valor de dados operacionais, otimizar processos, aumentar a produtividade, entregar produtos com alto nível de qualidade e superar as expectativas de seus clientes.

'Assistentes inteligentes impactam toda a cadeia de valor'

Gabriel Dornella, diretor 
sênior da Salesforce

Gabriel Dornella, diretor sênior da Salesforce

/Salesforce/Divulgação/JC
A IA está impulsionando uma verdadeira revolução na economia - e não é diferente com a indústria. A IA preditiva e a generativa já ajudam empresas industriais a otimizar processos, prever demandas e criar soluções mais personalizadas e inovadoras. Por exemplo, a IA preditiva permite que indústrias analisem grandes volumes de dados em tempo real para antecipar falhas em equipamentos, otimizar cadeias de suprimentos e melhorar a eficiência operacional.
Simulando cenários complexos
A capacidade generativa da tecnologia está abrindo novas possibilidades na criação de designs de produtos, simulações de cenários complexos e até mesmo na geração de conteúdo técnico, acelerando o desenvolvimento e a inovação do setor. Os agentes de IA, como o Agentforce, da Salesforce, serão a próxima grande transformação no setor. Eles têm o potencial de combinar os avanços atuais da IA com a capacidade de executar ações a partir de um conjunto de instruções, com muito mais autonomia e personalização. Na prática, isso pode desbloquear um novo nível de produtividade na indústria.
Manutenção automática
Imagine um cenário aonde agentes de IA possam não apenas prever uma falha em uma máquina, mas também iniciar automaticamente o processo de manutenção, encomendar peças necessárias e notificar equipes relevantes - tudo isso de forma integrada e sem intervenção humana. O impacto será grande.

'Indústria caminha para ser mais sustentável e orientada a dados'

Rogério Ceccato, Head of Solution Advisory da SAP Brasil

Rogério Ceccato, Head of Solution Advisory da SAP Brasil

/SAP/Divulgação/JC
A Inteligência Artificial está desempenhando papel fundamental na transformação do setor industrial, tornando os processos mais inteligentes, automatizados e baseados em dados. O Brasil é o País mais otimista da América Latina quanto ao uso da IA no ambiente de trabalho, segundo a pesquisa "Inteligência Artificial no mundo corporativo", da SAP. De modo geral, 44% das empresas brasileiras já percebem impactos concretos com a adoção da IA. Os principais motores dessa adoção são claros: melhorar a experiência do cliente (64%) e aumentar a produtividade organizacional (51%).
Do hype para o resultado
O ano de 2024 foi marcado pela adoção da IA Generativa pelo hype, o que não significa que resultados importantes não foram alcançados. Contudo, 2025 ficará marcado como o momento em que o recurso será efetivamente empregado em prol das corporações. Temos visto a IA ser aplicada com sucesso na previsão de falhas em equipamentos, na automação de tarefas repetitivas e na otimização da cadeia de suprimentos. Nossa copiloto, a Joule, tem gerado ganhos de eficiência de ao menos 20% aos clientes SAP. O futuro aponta para uma indústria mais conectada, sustentável e orientada por dados.

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