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Publicada em 07 de Maio de 2025 às 19:22

Copom eleva taxa Selic para 14,75% ao ano

O colegiado do BC seguiu o plano desenhado em março, quando indicou que continuaria subindo os juros diante do panorama "adverso" para a convergência da inflação

O colegiado do BC seguiu o plano desenhado em março, quando indicou que continuaria subindo os juros diante do panorama "adverso" para a convergência da inflação

Leonardo Sá/Agência Senado/JC
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Agências
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central desacelerou o ritmo de alta de juros e elevou ontem a taxa básica Selic em 0,5 ponto percentual, de 14,25% a 14,75% ao ano - maior nível registrado em quase duas décadas. O colegiado do BC seguiu o plano desenhado em março, quando indicou que continuaria subindo os juros diante do panorama "adverso" para a convergência da inflação à meta e da elevada incerteza. Embora não tenha antecipado qual seria o ritmo específico, afirmou que previa um ajuste menor do que 1 ponto percentual -intensidade adotada em três reuniões seguidas, desde dezembro de 2024.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central desacelerou o ritmo de alta de juros e elevou ontem a taxa básica Selic em 0,5 ponto percentual, de 14,25% a 14,75% ao ano - maior nível registrado em quase duas décadas. O colegiado do BC seguiu o plano desenhado em março, quando indicou que continuaria subindo os juros diante do panorama "adverso" para a convergência da inflação à meta e da elevada incerteza. Embora não tenha antecipado qual seria o ritmo específico, afirmou que previa um ajuste menor do que 1 ponto percentual -intensidade adotada em três reuniões seguidas, desde dezembro de 2024.
LEIA TAMBÉM: Economistas reduzem projeção da taxa Selic para 14,75% em 2025

Ao todo, o Copom já realizou seis aumentos consecutivos da Selic no atual ciclo de alta de juros - iniciado na gestão anterior, de Roberto Campos Neto. A taxa acumula elevação de 4,25 pontos percentuais desde setembro de 2024, quando estava em 10,50% ao ano.
A Federação das Indústrias do RS (Fiergs) destacou que a elevação da taxa Selic reforça uma "trajetória preocupante para a indústria brasileira, que já enfrenta custos elevados, margens comprimidas e crescentes dificuldades de acesso ao crédito. O presidente Claudio Bier reconhece que há fatores externos que interferem no ambiente econômico, mas alerta para a necessidade de o governo fazer a sua parte em relação ao controle de gastos e ao necessário ajuste fiscal.
Arte Selic | Reprodução/JC
Arte Selic Reprodução/JC


Com a decisão do Copom, o Brasil subiu da quarta para a terceira posição no ranking mundial de juros reais com dados para o mês de junho, abaixo de Turquia e Rússia, que já estavam entre os três maiores em maio deste ano. A taxa brasileira recuou de 8,79% ao ano para 8,65% ao ano, mas o País subiu na lista por causa da queda dos argentinos, cuja taxa passou de 9,35% (2ª posição em maio) para 3,92% ao ano (8ª posição em junho). O ranking foi elaborado pelo Portal MoneYou e pela Lev Intelligence, que estimou uma taxa média de 1,6% ao ano em 40 países.

Para o presidente da Fiergs, o combate à inflação exige, prioritariamente, responsabilidade com as contas públicas e medidas efetivas de gestão que restabeleçam a confiança. "Manter uma política de juros elevados como resposta única ao descontrole fiscal significa penalizar o setor produtivo. É preciso atacar as causas estruturais, não seguir tratando os sintomas", afirma. Segundo demonstrado pela Unidade de Estudos Econômicos (UEE) da Fiergs em levantamentos realizados na Sondagem Industrial e na Pesquisa de Investimento, as condições de crédito para as empresas pioraram nos últimos meses, trazendo impactos negativos para a indústria, agravados com o aumento na taxa de juros.
Na avaliação do presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn, "embora, atualmente, as principais variáveis nas discussões da trajetória da política monetária estejam vinculadas à conjuntura externa, especialmente à americana, não podemos esquecer que a nossa conjuntura interna contratou taxas de juros estruturalmente elevadas".
Para Bohn, "os juros de curto prazo estão altos em virtude de um desequilíbrio fiscal que alimenta a inflação, mesmo com um cenário de desaceleração da atividade econômica global e de perda de valor do dólar". O dirigente acredita que "se não endereçarmos medidas que reparem o cenário fiscal, permaneceremos com juros estruturalmente elevados por um longo período, o que, certamente, penaliza a atividade produtiva e compromete a saúde financeira de famílias e empresas."
A Selic está agora no mesmo patamar observado entre julho e agosto de 2006. No entanto, na época, a taxa básica seguia em trajetória de queda depois de ter atingido o pico de 19,75% ao ano, em meio ao escândalo do mensalão, em 2005. A decisão de ontem correspondeu à expectativa majoritária do mercado financeiro. Na véspera desta reunião, levantamento feito com 32 instituições mostrou que 31 esperavam alta de 0,5 ponto percentual e apenas uma projetava um aumento de 0,25 ponto.

Desde o último encontro, ganhou força a análise de que a guerra comercial aberta pelos Estados Unidos poderá ter um efeito desinflacionário para o Brasil. Isso fez as expectativas de inflação caírem para este ano e estacionarem para prazos mais longos, ainda que em um patamar distante da meta.

O alvo central perseguido pelo BC é 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que a meta de inflação é considerada cumprida se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

Segundo o último boletim Focus, os analistas projetam que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) termine o próximo ano no limite superior da margem de tolerância. Para 2026, horizonte de tempo na mira do BC, a estimativa mediana do mercado é de 4,51%. Para 2027, a projeção segue estável pela 11ª semana seguida, em 4%. Mas o cenário internacional continua incerto e ainda há dúvidas sobre o impacto das tarifas anunciadas por Donald Trump, de um possível acordo dos EUA com a China e da reação do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), que nesta quarta manteve os juros inalterados no intervalo de 4,25% a 4,50% ao ano.

A renda fixa pós-fixada se tornou ainda mais atrativa após a decisão do Copom, dando mais um impulso à classe de investimentos que tem rentabilidade ligada à Selic ou ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário), seu equivalente. "Como os pós-fixados acompanham a taxa de juros, os Tesouro Selic terão uma rentabilidade próxima a 15%, um pouco maior do que a apresentada até então", diz Antonio Sanches, analista de alocação da Rico.

Devido aos efeitos defasados da política monetária sobre a economia, o BC mira agora a inflação do 4º trimestre de 2026, conforme o sistema de meta contínua. O comitê é hoje composto majoritariamente por representantes indicados por Lula, com sete dos nove membros. O Copom volta a se reunir nos dias 17 e 18 de junho. 

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