Afastados de grandes centros produtores de álcool como, por exemplo, São Paulo, os gaúchos registram historicamente uma baixa demanda de etanol hidratado. No entanto, mesmo que com volumes ainda modestos, o consumo desse combustível veicular vem crescendo no Estado.
Baseado em dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o diretor da consultoria ES-Petro, Edson Silva, informa que o consumo de etanol no Rio Grande do Sul em 2024 foi de cerca de 124,5 milhões de litros, contra 54,9 milhões de litros no ano anterior, um aumento de 126,7%. O especialista ressalta que a tendência de incremento permanece em 2025.
O levantamento mais recente, de março deste ano, aponta que o consumo desse biocombustível cresceu 12,7% no Estado, se comparado ao mesmo mês de 2024. Os gaúchos estão na contramão da média nacional, que registrou uma queda de 6% da demanda, no mesmo período.
Já março em relação a fevereiro deste ano também indicou incremento, no caso de 6,3%. Mesmo com esse resultado, Silva frisa que o álcool continua com uma demanda bem aquém da gasolina no Rio Grande do Sul. O consumo de etanol dos gaúchos em março foi de 12 milhões de litros e o de gasolina foi de 333 milhões de litros. “Esse é um ponto que precisamos ter atenção, porque quanto maior o uso do combustível fóssil, maior o impacto ambiental”, alerta o especialista.
Além da questão ambiental, o encarecimento do combustível fóssil é um dos fatores que faz com que os motoristas analisem encher o tanque com etanol. Porém, apesar de mais cara, a gasolina possibilita que o automóvel rode mais quilômetros por litro. Silva recorda que o etanol começa a ser competitivo quando custa até 70% do valor do combustível derivado do petróleo.
Na última semana de abril, indica pesquisa da ANP, o preço médio do litro do etanol hidratado na bomba no Rio Grande do Sul foi de R$ 4,88 e em Porto Alegre de R$ 4,99. Já a gasolina comum no Estado, no mesmo intervalo de tempo, custou R$ 6,29 o litro e na Capital o valor médio foi de R$ 6,27. Ou seja, a diferença era superior ao patamar de 70%, mas não tanta.
O fator preço também é visto pelo presidente do Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes no Rio Grande do Sul (Sulpetro), João Carlos Dal’Aqua, como um fator que tem feito o interesse pelo álcool ser recuperado. Ele reitera que ainda não são volumes expressivos, entretanto vários postos retomaram a comercialização do biocombustível. “O etanol já está melhor e tende a melhorar ainda mais”, aposta o dirigente.
Dal’Aqua enfatiza que há a expectativa de que novas usinas produtoras de etanol sejam confirmadas no Rio Grande do Sul, sustentando um fornecimento local de álcool. Uma das iniciativas citadas por ele é a da empresa Be8, que está construindo uma planta desse biocombustível em Passo Fundo. O combustível será produzido do processamento de cereais como trigo, triticale, milho, entre outros.
O presidente do Sulpetro recorda que o etanol se propagou no País baseado fundamentalmente na cadeia da cana-de-açúcar, contudo os gaúchos não têm essa cultura desenvolvida em larga escala. Agora, a perspectiva é que o etanol no Estado seja fabricado a partir de outras matérias-primas.