Ana Esteves, especial para o JC
Um relatório produzido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e Grupo Banco Mundial, em parceria com diversas entidades do Sistema das Nações Unidas, estima em R$ 88,9 bilhões os efeitos das cheias no Rio Grande do Sul em 2024, dos quais 69% (R$ 61 bilhões) correspondem ao setor produtivo, 21% em setores sociais (R$ 19 bilhões); 8% à infraestrutura (R$ 7 bilhões); e 1,8% ao meio ambiente (R$ 1,6 bilhão).
Ao mesmo tempo, o documento destaca a reação do poder público para conter os impactos econômicos das enchentes. A transferência de recursos às famílias e negócios atingidos, assim como a agilidade das obras de recuperação por parte dos governos, segundo o levantamento, evitou um impacto negativo equivalente a 1,1 ponto percentual do PIB estadual.
"Esse trabalho traz as estimativas de perdas, as quais incluem a indústria, utilizando dados de uma consulta que nós conduzimos aqui na Fiergs", afirma o economista-chefe da entidade, Giovani Baggio. O Índice de Desempenho Industrial (IDI-RS) terminou o ano de 2024 com alta de 0,6% em relação a 2023, após passar a maior parte do ano no terreno negativo, mas apesar de positivo diante do cenário de calamidade que o estado enfrentou, o resultado não recompôs a queda de 5,6% de 2023.
No final do primeiro semestre de 2024, o índice de atividade mostrava queda de 3,3% em relação a 2023. Dos seis componentes do IDI-RS, quatro cresceram no ano passado: faturamento real (0,7%), massa salarial real (3,4%), utilização da capacidade instalada (1,6 ponto percentual, de 78,8% para 80,4%)e compras industriais (0,9%). As horas trabalhadas na produção (-0,9%) e o emprego (-0,7%) fecharam o ano em queda, mas vêm demonstrando recuperação.
O presidente da Federasul, Rodrigo Sousa Costa, afirma que em relação ao auxílio às vítimas, as políticas públicas ainda deixam a desejar. "Fizemos diagnósticos precisos sobre quem deveria receber os recursos do governo, mas deixaram muita gente para trás, os produtores rurais que não foram socorridos, as empresas que pegaram empréstimo com a condição de contratar mão de obra, mas que estão com dificuldade de manter o mesmo nível de emprego", afirma Costa.
Dados da entidade divulgados no final de maio do ano passado, apontam que, nos últimos 30 anos, cerca de 20% dos prejuízos nacionais com desastres climáticos estão concentrados no Estado. Isso representaria cerca de R$ 100 bilhões. Ou seja, o custo de reconstrução, após as chuvas de maio de 2024, ultrapassa o total gasto nas últimas três décadas.
Para o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn, do ponto de vista da infraestrutura, a enchente mostrou várias debilidades, entre elas, a extrema dependência do Aeroporto Salgado Filho, que está numa área inundável. "É urgente que tenhamos alternativas. Além disso, há ainda muitos pontos de bloqueio em estradas, mesmo passado quase um ano da tragédia. Precisamos aproveitar a necessidade de reconstrução para fazermos estruturas mais eficientes que contribuam para maior competitividade da nossa economia", afirma o dirigente.
O presidente da Fiergs, Claudio Bier, destaca o agravamento da situação da malha ferroviária no Estado, após as chuvas, o que acabou sobrecarregando a malha rodoviária ainda mais. "Defendemos uma nova concessão, que modernize a rede ferroviária gaúcha. São necessárias obras de recuperação e de garantia de uma malha rodoviária mais resistente ao novo momento de episódios climáticos mais frequentes e agressivos", diz Bier. A Fiergs também defende o programa de barragens, sobre diques, galerias e estações de bombeamento de água e controle de cheias, o qual já conta com R$ 6,5 bilhões disponíveis, cujas obras devem iniciar ainda neste ano.