Apesar dos juros elevados, as concessões de crédito livre a pessoas físicas cresceram 12,9% em 2024, segundo dados divulgados pelo Banco Central nesta segunda-feira (27). A cifra indica um ritmo de crescimento mais forte do que o observado em 2023. Um ano antes, o volume de novos empréstimos e financiamentos para famílias nessa modalidade, em que as condições são livremente pactuadas entre bancos e clientes, avançou 9,8%.
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A série considera os valores ajustados, com a finalidade de minimizar os efeitos sazonais que incidem sobre os dados, como número de dias úteis a mais ou a menos. No ano passado, o crédito livre às famílias alcançou R$ 2,2 trilhões de saldo ao final de 2024, com expansão de 12,3%, ante variação de 8,4% em 2023. A projeção mais recente do BC estimava uma alta de 11,5% no estoque de crédito para pessoas físicas nas operações com recursos livres.
Destacaram-se o crescimento nas carteiras de cartão de crédito à vista, crédito pessoal não consignado, crédito pessoal consignado para beneficiários do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e financiamentos para aquisição de veículos.
Em dezembro, também na série com valores ajustados, foram liberados R$ 290,9 bilhões em novos empréstimos a famílias em recursos livres - aumento de 2,6% na comparação com o mês anterior.
A expansão ocorreu mesmo em um cenário de crédito mais caro, puxado pelo ciclo de alta de juros. No último encontro de 2024, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a Selic em 1 ponto percentual, a 12,25% ao ano.
A expansão ocorreu mesmo em um cenário de crédito mais caro, puxado pelo ciclo de alta de juros. No último encontro de 2024, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a Selic em 1 ponto percentual, a 12,25% ao ano.
Os dados apresentados nesta segunda reforçam o desafio que o BC terá pela frente para conseguir desacelerar a economia e frear a inflação. Na ata do último encontro, em dezembro, o colegiado alertou que impulsos fiscais e de crédito mitigam os efeitos da política de juros.
"Apesar da resiliência da atividade, um ambiente de alta de juros, com nível de inadimplência e comprometimento de renda elevados, requer cautela e diligência adicionais na concessão de crédito", disse.
"Apesar da resiliência da atividade, um ambiente de alta de juros, com nível de inadimplência e comprometimento de renda elevados, requer cautela e diligência adicionais na concessão de crédito", disse.
Renato Baldini, chefe-adjunto do departamento de Estatísticas do BC, vê relação entre a forte concessão de crédito e o aquecimento da atividade econômica no ano passado. A autoridade monetária prevê avanço de 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto) para 2024, após sucessivas revisões para cima."Pode ser que a percepção dos tomadores de crédito, pessoas físicas e jurídicas, seja de que as taxas de juros estão subindo, mas não tanto para deixarem de realizar um projeto, seja de expansão da atividade produtiva, seja de busca por um imóvel, seja de satisfazer uma necessidade de consumo ou mesmo para pagar dívidas pré-existentes", disse.
Nas operações de recursos livres com pessoas físicas, a taxa média de juros atingiu 53% -recuo de 0,9 ponto percentual no ano. Houve reduções nas modalidades de crédito consignado para beneficiários do INSS e cartão de crédito parcelado, além de maior participação da carteira de cartão de crédito à vista, cujas operações não têm juros.
Segundo Baldini, a queda nos juros cobrados na modalidade de cartão de crédito como um todo compensou a alta observada em praticamente todas as demais modalidades. "A gente vê alta generalizada, ainda que não tão expressiva, nas diversas modalidades. Isso pode ser atribuído à política monetária e à elevação da Selic", disse.
A taxa do parcelado do cartão caiu em dezembro, passando para 171,2% ao ano -recuo de 12 pontos percentuais em relação ao mês anterior (183,2% ao ano). Nos últimos doze meses, a queda foi de 25,7 pontos percentuais. Em dezembro de 2023, o juro médio na submodalidade era de 196,9% ao ano.
No rotativo do cartão de crédito, a taxa média de juros cobrada de pessoas físicas subiu em dezembro para 450,5% ao ano. Houve uma elevação de 4,6 pontos percentuais na comparação com novembro, quando a taxa estava em 445,9%.
Houve avanço de 8,4 pontos percentuais em 2024, apesar do recuo da taxa do rotativo nos primeiros meses do ano. Desde janeiro, está em vigor a norma que estabelece que a dívida de quem atrasa o pagamento da fatura do cartão de crédito não pode mais superar o dobro do montante original. Isso significa que há um teto de 100% do valor da dívida contraída.
No caso das empresas, o juro médio fechou 2024 em 22,1% ao ano, alta de um ponto percentual em 12 meses. O resultado foi influenciado sobretudo por incrementos nas taxas de capital de giro com prazo superior a 365 dias e antecipação de fatura de cartão de crédito.
Ainda no crédito livre, a taxa média de juros cobrada pelos bancos de pessoas físicas e empresas alcançou 40,8% ao ano ao final de 2024, elevação de 0,2 ponto percentual.
Ainda no crédito livre, a taxa média de juros cobrada pelos bancos de pessoas físicas e empresas alcançou 40,8% ao ano ao final de 2024, elevação de 0,2 ponto percentual.
Em 2024, a taxa média de juros das concessões totais ficou em 28,7%, o que correspondeu a um aumento de 0,5 ponto percentual no ano, após redução de 1,5 ponto em 2023. A inadimplência do crédito total, referente a atrasos acima de 90 dias, alcançou 3% da carteira em 2024, recuo de 0,2 ponto percentual em relação a 2023. No crédito com recursos livres para famílias e empresas, a inadimplência situou-se em 4,1%, queda de 0,4 ponto percentual no ano. Na modalidade para pessoas físicas, a inadimplência foi de 5,3% em 2024, com redução de 0,3 ponto percentual no ano. Para pessoas jurídicas, a inadimplência terminou o ano passado em 2,5%, com decréscimo de 0,6 ponto percentual em 2024.
O saldo das operações de crédito do sistema financeiro totalizou R$ 6,4 trilhões em 2024, com expansão de 10,9% no ano. A cifra representa uma aceleração no ritmo de crescimento em relação a 2023, quando a expansão em doze meses alcançou 8,1%. O avanço superou a última projeção do BC, de crescimento do estoque total de crédito de 10,6%. Em 2024, a aceleração ocorreu tanto no crédito às empresas (9,1% ante 4,7% em 2023), quanto no crédito às famílias (12,1% contra 10,5% no ano anterior).
Os dados do BC também mostram que, em dezembro, houve recuo nas concessões em todas as submodalidades do crédito consignado. Para beneficiários do INSS, a queda mensal foi de 19,9%.
Segundo Baldini, esse comportamento pode ser explicado em boa parte por fatores sazonais, como o pagamento do 13º salário em dezembro e a expectativa de reajuste do salário mínimo em janeiro.
Segundo Baldini, esse comportamento pode ser explicado em boa parte por fatores sazonais, como o pagamento do 13º salário em dezembro e a expectativa de reajuste do salário mínimo em janeiro.
No ano passado, com a taxa de juros mais elevada, os empréstimos consignados deixaram de ser atraente para alguns bancos, que passaram a restringir a oferta da modalidade. Em janeiro, o CNPS (Conselho Nacional de Previdência Social) decidiu aumentar para 1,80% ao mês o teto dos juros em empréstimos consignados em folha. O limite anterior era de 1,66% ao mês.
Folhapress