O recente anúncio da primeira chamada de propostas para aquisição de biometano por parte da Petrobras animou os agentes do setor. Inclusive o Rio Grande do Sul, que hoje não conta com uma planta de larga escala para produzir o biocombustível, tem possibilidades de conseguir inserir algum empreendimento na disputa, aponta a presidente executiva da Associação Brasileira de Biogás (ABiogás), Renata Isfer.
Ela informa que há pelo menos quatro projetos a serem desenvolvidos no Estado que apresentarão capacidade para atender às exigências da Petrobras (as plantas precisam estar aptas a ofertar, no mínimo, 20 mil metros cúbicos diários de biometano). A dirigente cita entre as iniciativas gaúchas que terão potencial para entrar na disputa a Biometano Sul (70 mil normal metros cúbicos por dia), em Minas do Leão, a SPE Bioo Passo Fundo (36 mil Nm³/dia), em Passo Fundo, e a SPE Central de Tratamento Integrado Resíduo Zero (36 mil Nm³/dia), em Triunfo. Há ainda um quarto complexo, mas que a dirigente prefere não revelar o nome e localização por questões de confidencialidade.
A entrega do biometano à Petrobras acontecerá a partir de 2026, com prazos contratuais de até 11 anos. O recebimento do biocombustível acontecerá em diferentes pontos, como refinarias, usinas termelétricas, na malha de transporte e de distribuição de gás. Não está definido ainda o volume que será adquirido pela estatal. Contudo, o diretor de transição energética e sustentabilidade da companhia, Maurício Tolmasquim, afirma que “se a empresa obtiver sinalização positiva dos produtores quanto às condições de competitividade e oferta desse insumo, a Petrobras pode adquirir volumes três a quatro vezes maiores do que a produção média diária de biometano do País, que é de cerca de 220 mil metros cúbicos ao dia, conforme registros públicos da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)”.
A presidente executiva da ABiogás considera a chamada pública feita pela estatal como “mais uma etapa da virada de chave do setor de biometano”. Renata acrescenta que, com o programa governamental Combustível do Futuro, que busca aproximar a agricultura do setor de biocombustíveis e prevê investimentos de R$ 260 bilhões até 2037, o biometano vive perspectivas promissoras.
Já a pesquisadora da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e coordenadora do 7º Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano, Suelen Paesi, também recebeu com entusiasmo a iniciativa da Petrobras. “A empresa está colaborando para tornar o Brasil cada vez mais um país de produção de energia verde”, destaca.
O biometano é proveniente do processo de purificação do biogás, produzido a partir da decomposição de matéria-prima de origem orgânica, que pode ser oriunda, por exemplo, do lodo de estações de tratamento de esgoto ou de dejetos de animais como suínos e aves. O biocombustível pode substituir o uso do gás natural fóssil como combustível veicular, entre outras funções, sem ter o mesmo impacto ambiental do seu concorrente.
Suelen salienta que a dinâmica do biogás e do biometano permite um melhor gerenciamento de resíduos gerados por diversos segmentos da economia e da sociedade brasileira, de uma forma sustentável. A dirigente reforça que a cadeia desses biocombustíveis associa os setores produtivo e ambiental.
De acordo com Suelen, apesar do Rio Grande do Sul ainda não ter uma planta de biometano de larga escala operando atualmente, o Estado possui potencial para a produção do biogás purificado com resíduos urbanos e através dos rejeitos de atividades agroindustriais. Sobre o 7º Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano, a pesquisadora lembra que se trata de um evento itinerante e, nesta edição, será realizado no município de Bento Gonçalves. A programação do encontro, que acontecerá em abril, pode ser acessada pelo site biogasebiometano.com.br.