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Publicada em 03 de Janeiro de 2025 às 15:30

Projeto alia conservação de campo nativo à pecuária sustentável

Recuperação de Biomas, criado em 2018, já preservou 5 mil hectares de campo nativo no Pampa

Recuperação de Biomas, criado em 2018, já preservou 5 mil hectares de campo nativo no Pampa

Ramão Batista/ Divulgação/JC
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Bárbara Lima
Bárbara Lima Repórter
Mostrar aos produtores que conservar o campo nativo do bioma Pampa aumenta a produtividade da pecuária sustentável é o objetivo do projeto Recuperação de Biomas, criado em 2018 por meio de uma parceria entre a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), empreendedores e a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura. Atualmente, o projeto conta com mil beneficiários e cinco mil hectares de vegetação nativa preservada. Funciona assim: o agricultor que participa do projeto recebe um técnico em sua propriedade, onde é realizado um diagnóstico. A partir disso, são definidas a melhor metodologia a ser aplicada e as orientações a serem seguidas pelos produtores, incluindo técnicas de manejo conservacionista e a conscientização sobre a importância de preservar o bioma Pampa. Os beneficiários disponibilizam cinco hectares para o projeto e recebem orientação e capacitação por até 32 meses, com cinco visitas técnicas para possibilitar a replicação das práticas no restante de sua propriedade.
Mostrar aos produtores que conservar o campo nativo do bioma Pampa aumenta a produtividade da pecuária sustentável é o objetivo do projeto Recuperação de Biomas, criado em 2018 por meio de uma parceria entre a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), empreendedores e a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura. Atualmente, o projeto conta com mil beneficiários e cinco mil hectares de vegetação nativa preservada.

Funciona assim: o agricultor que participa do projeto recebe um técnico em sua propriedade, onde é realizado um diagnóstico. A partir disso, são definidas a melhor metodologia a ser aplicada e as orientações a serem seguidas pelos produtores, incluindo técnicas de manejo conservacionista e a conscientização sobre a importância de preservar o bioma Pampa. Os beneficiários disponibilizam cinco hectares para o projeto e recebem orientação e capacitação por até 32 meses, com cinco visitas técnicas para possibilitar a replicação das práticas no restante de sua propriedade.
"O objetivo é incentivá-los a evitar a conversão desse campo para outras culturas, permitindo, ainda assim, alcançar alta rentabilidade e ganhos significativos no peso dos animais", explicou Guilherme Velten Junior, consultor de meio ambiente e pecuária familiar da Fetag-RS.

Para isso, os produtores diminuem a carga animal, ou seja, reduzem o número de cabeças de gado, por exemplo, por metro quadrado, preservando a massa foliar dos campos. Além de contribuir para a descarbonização da pecuária — alinhando-se às metas ambientais pactuadas pelo Brasil na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP) e às exigências do mercado internacional —, essa prática ainda aumenta o peso dos animais que permanecem no campo, pois eles se alimentam com mais qualidade.

"A composição florística é drasticamente melhorada. Quando comparamos os ganhos ambientais das terras com manejo conservacionista às que não têm, há um aumento de 321% na altura do dossel. Além disso, temos resultados expressivos com os pecuaristas: 91% deles afirmam que continuarão no projeto, ou seja, que seguirão com a atividade pecuária aliada ao conservacionismo, porque perceberam como é produtivo", afirmou Velten Junior.

Rotação de animais e adubagem ajudam a aumentar a produtividade do campo 

O produtor Ramão Ferreira Batista, de São João Tujá, em Garruchos, notou na prática os efeitos do projeto. Ele, que pretende continuar participando, relata que seus terneiros ganharam peso e qualidade. "Meu contato com o projeto surgiu através de uma reunião, onde entendi o objetivo. Recebemos calcário, adubo e ureia, e o resultado foi extraordinário, pois meu campo estava enfraquecido, com a grama rala e parte do campo descoberto", comentou. Ele acrescenta que atualmente seu campo está com bom desenvolvimento, repleto de "pega-pega e cambará-do-campo, que são medicinais. Os animais estão em bom estado", completou.
Um dos técnicos do projeto, Manoel Gamarra de Moraes, explica que, para realizar o manejo adequado, é essencial controlar a altura da pastagem. "Nunca podemos diminuir do mínimo de 5 a 7 cm da pastagem. Quando chega a 3 cm, precisamos fazer a rotação dos animais para que a planta possa crescer", explicou.

Ele também recomenda a adubação e a calagem (aplicação de calcário) para equilibrar o pH do solo. "Ninguém faz isso no Pampa, só querem usufruir até acabar. Por isso, muitas vezes, preferem que o bioma vire lavoura." Também é recomendado realizar roçadas, que deixam uma camada de matéria orgânica, retendo a umidade e evitando erosões.

Sobre espécies invasoras, ele afirma que pesticidas não são indicados, mas sim a roçada, especialmente quando essas plantas se reproduzem em excesso. "Um pH equilibrado faz com que essas espécies desapareçam. Além disso, quando controlada, a presença delas não é um problema."

Quanto aos animais, Manoel explica que um hectare deve sustentar até 450 kg de peso vivo. "O dióxido de carbono produzido pelo gado é reciclado pelo campo, pois ele o absorve. Já no confinamento,  a emissão do gado não consegue ter essa compensação. Outro fator é a produtividade: o nosso campo é rico em proteína bruta. O que você consegue com 7 cm aqui precisaria de 25 cm em outros pastos, como a braquiária", destacou.
O consultor de meio ambiente da Fetag-RS também destaca a importância de manter a pecuária sustentável na região. "Os produtores começam a perceber que cada região tem sua vocação e que uma área bem preservada também atrai o turismo rural", disse. O projeto surge em um momento sensível para o bioma Pampa, que, segundo dados do MapBiomas, perdeu cerca de 2,9 milhões de hectares para diversas culturas entre 1985 e 2022.

Entre os principais desafios do projeto, no entanto, estão o convencimento inicial dos produtores sobre os benefícios do manejo conservacionista e a ausência de um banco de sementes de espécies nativas no mercado para a recuperação de campos degradados. "Trabalhamos para que o produtor, lá na ponta, se torne nosso aliado. A riqueza que retorna ao campo com as espécies nativas é incrível. Em áreas não manejadas, o peso médio dos animais não chega a 300 kg. Com manejo adequado, atinge esse valor. Precisamos mostrar ao mundo a importância desse bioma", concluiu Velten Junior.

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