Marcos de Vasconcelos
A era das redes sociais "democratizou" o golpe financeiro. Aplicar golpes e criar esquemas não exige mais do que uma conta de e-mail falsa e uma boa história (que pode ser gerada pelo próprio ChatGPT).
Como exposto pelo jornalista Symeon Brown, em seu livro "Get Rich or Lie Trying" (Fique rico ou minta tentando, em tradução livre), a economia das redes sociais gerou um exército de milionários de mentira, que tentam vender o segredo da riqueza até ficarem ricos de verdade.
O Bitcoin acabou sendo arrastado para essa vala. Por ser novidade, por ser difícil de explicar, ou pela mística de ser irrastreável, a criptomoeda é a estrela de perfis de golpistas que prometem ganhos absurdos no Instagram, Facebook ou TikTok.
Glaidson Acacio, o Faraó dos Bitcoins, segue preso, mas outros tantos vendedores de terreno na lua povoam as redes.
Reduzir as criptomoedas a esse universo, entretanto, seria culpar a ferramenta pelas falhas da obra. E, se até agora, você não olhava com atenção para esse setor, por julgar ser modismo passageiro, o próximo presidente da maior economia do planeta pode te fazer mudar de ideia.
Caso você esteja voltando de uma viagem a Marte, é bom recapitular: na última semana, o preço do Bitcoin passou de US$ 90 mil, totalizando uma valorização de mais de 105% neste ano. A fim de comparação, lembro que o índice S&P 500, que reúne as ações das 500 maiores empresas do mundo, tem atingido pontuação recorde, mas sua alta é de menos de 25%.
Comparar criptomoedas com ações pode ser um pouco sem sentido, pela diferença na natureza e função de cada um, mas o capital investido em Bitcoin hoje já passou de US$ 1,7 trilhão. Isso é mais do que o valor de mercado da Meta e da Tesla ou quase três vezes o valor da Visa.
O gatilho para a disparada foi a eleição de Donald Trump, o ex e futuro presidente dos EUA. Durante sua campanha, ele conclamou os Estados Unidos a serem a capital mundial de criptomoedas e sua eleição empolgou membros do partido Republicano a acelerar os planos de criar uma reserva federal de bitcoins.
Os defensores desse fundo estatal apontam que ele serviria como segurança contra crises da economia e do mercado financeiro tradicional. Uma espécie "ouro 2.0". E o valor sugerido é de 200 mil unidades, o equivalente a US$ 18,2 bilhões na cotação atual.
Essa seria a institucionalização máxima da moeda, criada para, em princípio, gerar uma economia desvinculada de governos e instituições.
Soma-se a isso o fato de, no início deste ano, a SEC (órgão regulador do mercado norte-americano) ter aprovado a criação de ETFs (fundos com cotas negociadas em Bolsa) de criptomoedas.
Agora, a maior gestora de ativos do mundo, BlackRock, tem em mãos o maior fundo de cripto do mundo, com US$ 40 bilhões em ativos.
Depois de ir para as mãos das grandes instituições financeiras e com a possibilidade de virar uma reserva institucional da maior economia do mundo, o bitcoin deixa claro que não é mais um sonho dourado de hackers.
Entender como ele pode fazer parte da sua estratégia de investimentos pode ajudar a ganhar um trocado e a não cair na arapuca dos golpistas que se aproveitam do desconhecimento para vender sonhos e entregar pesadelos.
Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado
Folhapress