Durante coletiva de imprensa na Federasul, o economista Aod Cunha respondeu aos questionamentos da reportagem. Entre os tópicos abordados estão a dívida do RS com a União, a resiliência econômica para situações de tragédia ambiental e os potencias do Rio Grande do Sul.
Na visão de Cunha, o Estado precisa de "vocações mais modernas", com investimento em educação, transição energética, tecnologia e saúde. Isso é, segundo ele, importante, inclusive, para atrair e reter talentos no Estado, o que preocupa o especialista, uma vez que a pirâmide demográfica está se invertendo rapidamente e a população ativa tem caído consideravelmente. Confira a entrevista abaixo:
Jornal do Comércio - No início das enchentes, o senhor defendeu a suspensão da dívida do RS com a União, o que foi concedido por três anos. Como avalia este novo momento da retomada econômica do Estado?
Aod Cunha - Estamos evoluindo. Conseguimos dar conta dos temas mais emergenciais. Agora, quando falamos da reconstrução total, é algo que vai demorar mais tempo. O tema da dívida dá uma folga para o Estado, não é um perdão simplesmente. O Estado fez várias contrapartidas, como reforma da previdência e administrativa. Além disso, tivemos um evento extremo. Deveríamos aproveitar esse momento traumático, porém, para fazer uma reconstrução mais qualificada, que sirva de exemplo e que resolva problemas históricos que já enfrentávamos.
JC - O senhor sugere uma agenda única entre as entidades privadas. qual consenso defende?
Cunha - O mais importante é ter esse esforço. Os gargalos relevantes, na minha visão, são temas relacionados à seca, à educação, à baixa imigração e à demografia. Precisamos também aumentar a capacidade de infraestrutura no Estado, isso aumenta a competitividade. Pode ser que tenham outros tópicos, mas precisamos de uma agenda única, porque desperdiçamos muita energia não tendo uma agenda comum.
JC - Quais oportunidades econômicas o Estado possui?
Cunha - Temos um centro de excelência de formação de recursos humanos, principalmente nas engenharias e na área de saúde. O problema é que não conseguimos reter essas pessoas e atrair outras. Além disso, avalio que precisamos de vocações mais modernas para o Estado, como saúde, transição energética e tecnologia.
JC - O Senado aprovou a renegociação dos indexadores das dívidas dos Estados com a União. Como economista, como o senhor avalia essa medida, caso ela seja aprovada pela Câmara?
Cunha - É bom para o Rio Grande do Sul, isso vai aliviar o crescimento da dívida. É uma pressão menor sobre o orçamento do Estado, então, sobram recursos para investimentos importantes, como saúde, educação, segurança e estradas. Por outro lado, vai exigir uma parcela de ajuste fiscal adicional por parte do governo federal.
JC - De onde deve vir o investimento para as melhorias nessas áreas fundamentais?
Cunha - Não tem que ser só investimento de recurso público. As reformas e privatizações têm melhorado o fluxo de investimento. Precisamos continuar avançando no modelo de concessão, porque o Estado precisa de um plano de longo prazo. Os governos trocam, mas as entidades privadas continuam.
JC - Catástrofes como a de maio serão mais frequentes, conforme afirmam amplamente os cientistas. Como ter uma economia mais resiliente?
Cunha - A reconstrução precisa levar em conta que estamos vivendo em um mundo com eventos extremos. As estradas, os aeroportos e portos, as casas, precisam de um novo conceito e de mais resiliência climática. Por outro lado, o desenvolvimento econômico passa por atividades mais sustentáveis. A ideia que sustentabilidade e crescimento são conflitantes ficou no passado. Os temas da transição energética e da sustentabilidade são o futuro. Dentro da tragédia, inclusive, o RS pode ser um exemplo, pode ser o primeiro Estado a estar mais preparado. Um Estado onde as empresas tenham essa agenda e outras empresas queiram vir para cá pela capacidade de adaptação.