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Publicada em 05 de Agosto de 2024 às 19:23

Bolsas do mundo despencam com efeito Estados Unidos

Nos EUA, Wall Street afundou na abertura. O S&P 500 perdeu 3,00% e o Dow Jones recuou 2,66%, enquanto o Nasdaq despencou 3,43%

Nos EUA, Wall Street afundou na abertura. O S&P 500 perdeu 3,00% e o Dow Jones recuou 2,66%, enquanto o Nasdaq despencou 3,43%

CHARLY TRIBALLEAU/AFP/jc
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Agências
Os mercados de ações ao redor do mundo desabaram nesta segunda-feira (5), em um cenário influenciado principalmente pelo temor de uma recessão nos Estados Unidos (EUA). Dados do mercado de trabalho da maior economia do mundo, que mostraram uma piora nas contratações, refletem nas decisões de investidores no primeiro pregão da semana após a divulgação dos dados.
Os mercados de ações ao redor do mundo desabaram nesta segunda-feira (5), em um cenário influenciado principalmente pelo temor de uma recessão nos Estados Unidos (EUA). Dados do mercado de trabalho da maior economia do mundo, que mostraram uma piora nas contratações, refletem nas decisões de investidores no primeiro pregão da semana após a divulgação dos dados.
A Bolsa de Valores do Japão despencou 12%, no pior dia em 37 anos, e o índice europeu Stoxx 600 fechou em queda de 2,17%, atingindo seu nível mais baixo em seis meses. Nos EUA, Wall Street afundou na abertura. O S&P 500 perdeu 3,00% e o Dow Jones recuou 2,66%, enquanto o Nasdaq despencou 3,43%.
Além do temor quanto aos EUA, também interferiu no mercado japonês o aumento das taxas de juros de 0% a 0,1% para 0,25% pelo Banco Central do Japão. A decisão foi uma resposta à elevação da inflação, que superou a meta de 2% do BC japonês. A sinalização de novos aumentos fez com que o principal índice acionário do país, o Nikkei 225, encerrasse as negociações com perdas por três dias consecutivos.
"Os investidores apostavam em um diferencial de juros que existia entre o Japão e os demais países. Essa alta, junto com a expectativa de queda de juros nos EUA, deixa o cenário menos atrativo, e você tem o desmonte de operações", afirma Thaís Marzola Zara, economista senior da LCA Consultores. "Você pegava emprestado em iene, com taxa de juros mais baixas, e aplicava nos EUA, por exemplo, que tinha taxas mais altas, ou até mesmo no Brasil. Agora, temos uma reversão desse movimento."
O temor com uma desaceleração mais forte que a esperada nos EUA também impactou outros mercados asiáticos. O índice de referência Coreia do Sul, o Kospi, caiu 8,8%. Em Taiwan, o Taiex despencou 8,35%. A Bolsa de Singapura se desvalorizou 4,07%. Na China, a queda foi moderada: o CSI300, que reúne as maiores companhias listadas nas Bolsas do país, caiu 1,21%. Em Xangai, a perda foi de 1,54%. Dados do mercado de trabalho mais fracos que o esperado para o mês de julho levantaram hipóteses de que o atual patamar da taxa de juros norte-americana está levando a maior economia do mundo a um processo de desaceleração acentuado. O "payroll" (folha de pagamento) mostrou que os EUA criaram 114 mil vagas no mês passado, mas a expectativa era de gerar 175 mil, e a taxa de desemprego acelerou para 4,3%, quando agentes apostavam em 4,1%.
A equipe econômica do governo brasileiro monitora desde a madrugada a evolução dos mercados internacionais. A avaliação no Ministério da Fazenda é a de que, caso se confirme um cenário de desaceleração da economia americana, mas não de recessão, a economia brasileira poderá se beneficiar com a queda das taxas de juros dos Estados Unidos. Neste cenário, ficará mais tranquilo para o Banco Central conduzir a política monetária, o que ajudaria a estabilizar um pouco a taxa de câmbio doméstica.
 

Equipe econômica do Brasil monitora momento delicado

A equipe econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) monitora desde a madrugada a evolução dos mercados internacionais, que passam por um quadro de estresse com temor de uma desaceleração da economia dos Estados Unidos. A avaliação no Ministério da Fazenda é a de que, caso se confirme um cenário de desaceleração da economia americana, mas não de recessão, a economia brasileira poderá se beneficiar com a queda das taxas de juros dos Estados Unidos.
Neste cenário, ficará mais mais tranquilo para o BC (Banco Central) do Brasil conduzir a política monetária, o que ajudaria a estabilizar um pouco a taxa de câmbio doméstica.
Um integrante da equipe econômica avaliou à reportagem que, mesmo diante deste momento delicado dos mercados, o Brasil não está "performando mal".
Para auxiliares do ministro Fernando Haddad (Fazenda), com os Estados Unidos reduzindo os juros, o Brasil poderia recuperar um pouco do diferencial de taxas (a distância entre os juros externos e brasileiro).
Isso teria poder de acalmar também um pouco o cenário para a moeda brasileira, já que juros externos mais baixos deixam o Brasil relativamente mais atrativo ao capital de fora.
Um outro integrante do Ministério da Fazenda considera que o dólar mais alto pressiona o governo e pode aumentar a capacidade do ministro Haddad de acelerar pautas econômicas importantes. Eventualmente, isso pode antecipar novos anúncios de cortes de gastos e dar mais poder para o ministério em negociações difíceis com o Congresso.
Há uma corrente na área econômica que avalia que o anúncio do nome do diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo, para comandar a instituição poderia, na margem ajudar, porque ajudaria a reduzir ruídos.
Entre alguns técnicos ouvidos pela reportagem, há a percepção de que o BC já poderia ter feito intervenção no mercado de câmbio. O ponto que é citado por esses defensores é que em outras situações como essa o BC sempre interveio.
A preocupação é que o dólar mais pressionado pode se transformar em mais inflação, no curto prazo, trazendo alguma leitura de que o BC vai começar a ver necessidade de subir os juros.
No mês passado, economistas consultados pela reportagem desaconselharam uma intervenção pontual do Banco Central no câmbio. Para eles, a alta do dólar estava mais relacionada à confiança na política fiscal do país.
Um auxiliar de Haddad destaca que é comum nesses momentos um certo açodamento, mas que não é possível, com os dados que se tem até agora, falar em cenários recessivos nos EUA.
A área econômica avalia que uma sequência de três quedas dos juros americanos já é consenso, a partir de setembro. Mas não se descarta que a primeira queda possa acontecer até antes de setembro.
Diante da alta volatilidade, dado o cenário maior de aversão a risco, a expectativa de uma desaceleração mais forte nos Estados Unidos afetou muito o Japão e as bolsas asiáticas, principalmente os países que têm mais ligação com essas duas economias.
 

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