Com recursos do governo alemão, o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás) instalou uma planta piloto na Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu, que é capaz de transformar biogás em óleo sintético, também conhecido como bio-syncrude ou petróleo verde. O investimento do Ministério Federal da Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha (BMZ) foi de 1,8 milhão de euros.
A unidade inaugurada em junho é de pequeno porte — tem capacidade para gerar até 6 litros por dia —, mas o plano é encontrar parceiros comerciais para ampliar a planta, o que permitiria o refino do óleo sintético em produtos como combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) ou metanol verde, por exemplo.
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"Está caminhando bem [a busca por parceiros comerciais] porque combustível de origem renovável é uma discussão mundial, uma corrida contra o tempo. Quem se credencia para conhecer este cenário todo, antes de outros, acaba ganhando mais tração", diz o diretor-presidente do CIBiogás, Rafael Gonzalez, sem revelar os nomes de possíveis investidores. Segundo ele, trata-se da primeira planta piloto do país para produção de óleo sintético a partir do biogás.
"Com a planta piloto, queremos conhecer qual a escala possível de chegar a partir desta tecnologia para daí poder ter a comercialização de um produto final, que pode ser SAF ou metanol verde", antecipa ele, ao lembrar que o metanol hoje utilizado pela indústria brasileira é importado. "A produção de SAF no Brasil também está começando agora e entendo que a gente tem um mercado interno bastante robusto antes de pensar no mercado externo", continua. Gonzalez diz que o setor aposta na aprovação do projeto de lei em trâmite no Congresso Nacional que obrigaria companhias aéreas a atingir uma utilização mínima de combustível verde até 2030.
"Vamos continuar investindo nesta planta por muitos anos ainda, porque é um ativo. Mas o produto em si, a produção comercial, seria daqui 3 anos para frente", estima ele, que prefere não falar em valores ainda. "Toda ruptura de conhecimento tem risco do ponto de vista de investimento. Por isso a gente está trabalhando numa escala piloto, para administrar os riscos, e ter uma condição de planejar uma escala com visão comercial", resume Gonzalez.
Criado pela Itaipu em 2013, o CIBiogás é uma associação privada, sem fins lucrativos, de desenvolvimento tecnológico com foco no mercado de biogás e de biometano. Além do CIBiogás, que captou os recursos junto ao governo alemão por intermédio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, outros parceiros atuaram na implantação da planta piloto, como a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Fundação Araucária e a própria Itaipu.
O lixo orgânico transformado em biogás pela organização, por exemplo, vem dos restaurantes da usina hidrelétrica, e eventualmente de cargas apreendidas pela Receita Federal em operações de fiscalização na região.
"São cerca de 150 kg de resíduos diários que são tratados nesta unidade de demonstração de biogás e biometano, que já funciona há sete anos. São sobras nos pratos dos restaurantes e o que sobra da preparação dos alimentos também", explica Rogério Meneghetti, superintendente de Energias Renováveis da Itaipu. "E como é uma região que tem muita apreensão de cargas, a gente tem uma parceria com a Receita Federal, para que os produtos não sigam para o aterro. Então é tudo triturado e colocado no biodigestor, que gera o biogás", continua ele.
Um processo de purificação do biogás para chegar ao biometano (biogás sem o CO2, análogo renovável ao gás natural), também feito pelo CIBiogás, já é aproveitado hoje na Itaipu. "Temos frota de veículos com biometano. Agora estamos trabalhando para que o ônibus de turismo rode com biometano também", revela Meneghetti.
Folhapress