No último dia de abril, 24 horas depois da assinatura do protocolo de intenções entre a empresa chilena CMPC e o governo estadual para a concretização do maior investimento privado da história do Rio Grande do Sul (estimado em R$ 24 bilhões) para erguer uma nova planta industrial de celulose, foi a vez dos representantes da empresa assinarem um termo semelhante junto à prefeitura de Barra do Ribeiro, onde será instalada a nova fábrica, com capacidade para produzir 2,5 milhões de toneladas de celulose por ano. No mesmo dia, a empresa inaugurou o seu escritório, de onde comandará o novo projeto, dentro da área de 10,4 mil hectares da chamada Fazenda Barba Negra, que já pertence à empresa. Serão 200 hectares dedicados à obra, com início previsto em 2026.
"Ainda não temos a exata noção da transformação que esse investimento vai proporcionar para Barra do Ribeiro. Somente nas obras, são previstas 12 mil pessoas, que é semelhante ao tamanho da nossa população. A arrecadação, nós acreditamos, vai, pelo menos, triplicar. Também iniciaremos agora um trabalho conjunto de planejamento do município para que essa mudança seja bem ordenada", diz o prefeito Jair Machado.
Se, no protocolo de intenções da CMPC com o Estado estão previstos benefícios em relação às questões do ICMS, licenciamento e infraestrutura, especialmente hidroviária, em relação ao município, uma parceria, por meio de compensação tributária, possibilitará à prefeitura fazer obras de transformação da estrada municipal que liga a entrada do município à área onde será instalada a fábrica, que fica na zona rural de Barra do Ribeiro. E também haverá a transformação de outra estrada municipal, esta ligando Barra do Ribeiro a Guaíba.
Outro ponto presente neste protocolo é a necessidade de adaptação do Código de Posturas do município. Por ser uma localidade com menos de 20 mil habitantes - são 12,2 mil habitantes, segundo o último Censo-, a legislação não prevê a obrigatoriedade deste tipo de planejamento. Agora, um grupo de trabalho será formado, com as participações da empresa e da sociedade local, para estabelecer um projeto de lei a ser avaliado pela Câmara de Vereadores local, que contemple necessidades logísticas e construtivas, por exemplo, para um movimento de urbanização que se seguirá às obras.
Para que se tenha uma ideia, mesmo com uma população atual 100 vezes menor que a de Porto Alegre, Barra do Ribeiro tem área territorial quase 50% superior à Capital, com 729,3 mil quilômetros quadrados. Em 2021, o município registrou um PIB de R$ 543,3 milhões _- vezes menor que os R$ 24 bilhões projetados em investimentos da CMPC -, sendo 47% do valor adicionado relacionado ao setor agropecuário, e uma arrecadação, de acordo com o prefeito, de R$ 5 milhões por mês.
"Teríamos que arrecadar durante 400 anos para chegarmos ao valor que agora se anuncia em investimentos. Será uma transformação", salienta Machado.
A nova fábrica projetada pela CMPC terá capacidade para produzir 2,5 milhões de toneladas de celulose por ano. É superior à atual planta, que produz 2 milhões em Guaíba. A expectativa da empresa é, em 2029, iniciar a operação em Barra do Ribeiro. No local, a CMPC já mantém o seu viveiro de mudas e um laboratório de pesquisa genética. Na Fazenda Barba Negra, 2,4 mil hectares são oficialmente reconhecidos desde 2009 como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). A intenção da empresa é tornar parte da propriedade, que também abrigará a fábrica, um parque ecológico aberto à população.
O cumprimento das ações estruturais previstas no termo assinado nesta terça entre o município e a CMPC é previsto para até dez anos.
O cumprimento das ações estruturais previstas no termo assinado nesta terça entre o município e a CMPC é previsto para até dez anos.
O prefeito Jair Machado conversou com o Jornal do Comércio sobre as transformações previstas para a cidade e como as negociações evoluíram até o anúncio, que ocorreu em 29 de abril, às vésperas do Estado ser afetado pela tragédia climática:
Já é possível dimensionar qual será a transformação de Barra do Ribeiro?
Jair Machado: É quase incalculável o que vai proporcionar para o nosso município e para toda a região da Costa Doce. Nossa arrecadação, que é de R$ 5 milhões por mês, vai pelo menos triplicar. E também a população, mesmo que só passageira, a trabalho, pode dobrar na fase de obras. Teremos um ano e meio até o começo das obras para organizarmos e planejarmos a cidade para uma nova época.
Já é possível dimensionar qual será a transformação de Barra do Ribeiro?
Jair Machado: É quase incalculável o que vai proporcionar para o nosso município e para toda a região da Costa Doce. Nossa arrecadação, que é de R$ 5 milhões por mês, vai pelo menos triplicar. E também a população, mesmo que só passageira, a trabalho, pode dobrar na fase de obras. Teremos um ano e meio até o começo das obras para organizarmos e planejarmos a cidade para uma nova época.
O projeto provocará também um novo desenvolvimento urbano do município, com novas construções e serviços. Já iniciou este movimento de procura?
Jair Machado: Foi uma negociação muito bem alinhavada, então, só veio a público agora. Certamente teremos a valorização de áreas, e temos muitas áreas que hoje são rurais, como a própria área da CMPC, e que passarão por essa adequação. O investimento também vai nos proporcionar novos empreendimentos na área de hotelaria, pousadas, restaurantes. Por isso, a nossa prioridade agora é garantir infraestrutura para a mudança.
Jair Machado: Foi uma negociação muito bem alinhavada, então, só veio a público agora. Certamente teremos a valorização de áreas, e temos muitas áreas que hoje são rurais, como a própria área da CMPC, e que passarão por essa adequação. O investimento também vai nos proporcionar novos empreendimentos na área de hotelaria, pousadas, restaurantes. Por isso, a nossa prioridade agora é garantir infraestrutura para a mudança.
O senhor fala em pelo menos triplicar a arrecadação de Barra do Ribeiro. Como é este perfil econômico do município hoje?
Jair Machado: Predominantemente rural. Inclusive, com uma das principais participações da própria silvicultura, não apenas pelo viveiro da CMPC, mas também com a empresa Tecnoplanta, que produz mudas de eucalipto, além das produções de arroz e soja, que contribuem para o município. Temos ainda o nosso potencial turístico, ligado à Costa Doce, que deve receber um novo incentivo a partir do investimento da CMPC.
Jair Machado: Predominantemente rural. Inclusive, com uma das principais participações da própria silvicultura, não apenas pelo viveiro da CMPC, mas também com a empresa Tecnoplanta, que produz mudas de eucalipto, além das produções de arroz e soja, que contribuem para o município. Temos ainda o nosso potencial turístico, ligado à Costa Doce, que deve receber um novo incentivo a partir do investimento da CMPC.
Como foi a aproximação com a empresa para garantir esse investimento em Barra do Ribeiro?
Jair Machado: Meu primeiro encontro com a empresa aconteceu em janeiro de 2017, no início do primeiro mandato, mas não para solicitar a instalação, e sim, para aproximar a empresa, que tem uma importante propriedade no nosso município. Desde então, mantivemos o contato, até que, em meados do ano passado, a empresa nos comunicou que não estava mais interessada em construir uma planta industrial em Rio Grande, e Barra do Ribeiro passaria a ser a prioridade. Aí contamos também com uma participação ativa do governo estadual para que o investimento ficasse no Rio Grande do Sul. Este sempre foi um desejo do município, desde a época da Borregaard, que acabou se instalando em Guaíba. Depois, foi criado o horto florestal aqui e a relação se estreitou.
Jair Machado: Meu primeiro encontro com a empresa aconteceu em janeiro de 2017, no início do primeiro mandato, mas não para solicitar a instalação, e sim, para aproximar a empresa, que tem uma importante propriedade no nosso município. Desde então, mantivemos o contato, até que, em meados do ano passado, a empresa nos comunicou que não estava mais interessada em construir uma planta industrial em Rio Grande, e Barra do Ribeiro passaria a ser a prioridade. Aí contamos também com uma participação ativa do governo estadual para que o investimento ficasse no Rio Grande do Sul. Este sempre foi um desejo do município, desde a época da Borregaard, que acabou se instalando em Guaíba. Depois, foi criado o horto florestal aqui e a relação se estreitou.
O que virá com a CMPC, além da fábrica de celulose?
Jair Machado: Já recebemos representantes da empresa que opera o catamarã. Há intenção de ampliar o transporte de Porto Alegre e Guaíba até aqui. A ideia da CMPC é ter este transporte como uma forma de trazer trabalhadores para cá. Também estão planejados o desenvolvimento de um terminal para os navios de toras, que já circulam pela hidrovia da Lagoa dos Patos e uma pista de pouso de aviões dentro da área da empresa. E ainda o grande estímulo que teremos para o turismo local, com a abertura da área como um parque ecológico e histórico. Há na fazenda elementos importantes na trajetória da Revolução Farroupilha, por exemplo, Nosso plano é atrairmos para Barra do Ribeiro e a Costa Doce turistas do Brasil e do Exterior.
Jair Machado: Já recebemos representantes da empresa que opera o catamarã. Há intenção de ampliar o transporte de Porto Alegre e Guaíba até aqui. A ideia da CMPC é ter este transporte como uma forma de trazer trabalhadores para cá. Também estão planejados o desenvolvimento de um terminal para os navios de toras, que já circulam pela hidrovia da Lagoa dos Patos e uma pista de pouso de aviões dentro da área da empresa. E ainda o grande estímulo que teremos para o turismo local, com a abertura da área como um parque ecológico e histórico. Há na fazenda elementos importantes na trajetória da Revolução Farroupilha, por exemplo, Nosso plano é atrairmos para Barra do Ribeiro e a Costa Doce turistas do Brasil e do Exterior.