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Publicada em 03 de Abril de 2024 às 20:07

A casa da inovação na Região Norte do Rio Grande do Sul

Região que tem Passo Fundo como referência concentrou em 2021 R$ 81,2 bilhões do PIB gaúcho

Região que tem Passo Fundo como referência concentrou em 2021 R$ 81,2 bilhões do PIB gaúcho

PREFEITURA DE PASSO FUNDO/DIVULGAÇÃO/JC
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Patricia Knebel
Patricia Knebel
Quem passa hoje pela avenida Sete de Setembro, na altura do número 500, talvez não conheça o papel histórico daquele local na formação do empreendedorismo de Passo Fundo e de toda a região Norte do Rio Grande do Sul.
Quem passa hoje pela avenida Sete de Setembro, na altura do número 500, talvez não conheça o papel histórico daquele local na formação do empreendedorismo de Passo Fundo e de toda a região Norte do Rio Grande do Sul.
No início do século passado, ali funcionava um complexo de mercearias; a instalação de um moinho foi, à época, o marco do crescimento econômico.
Pois é nesse prédio emblemático que uma nova história começa a ser contada, agora, com a inauguração do Hub Aliança, uma iniciativa do Instituto Aliança Empresarial, liderado por empresários locais. Foram R$ 10 milhões investidos para a revitalização do antigo moinho para transformá-lo no hub de inovação, consolidando o local com um ponto de convergência para o ecossistema do Norte do Estado.
“O moinho mantém a conexão com a transformação que aconteceu na cidade. Além disso, como está no centro de Passo Fundo, traz o simbolismo de que qualquer pessoa pode ter acesso facilitado à inovação e dialogar sobre tirar boas ideias do papel e transformá-las em riqueza”, comenta a diretora institucional do Instituto Aliança Empresarial, Márcia Capellari.
O espaço resgata a história por meio de uma transformação que vai muito além da arquitetônica, abarcando todo o entorno e revertendo o processo de degradação que se instalou com o tempo. Agora, é o moinho de ideias que fomenta a colaboração entre pessoas, conecta e gera inovação por meio dos negócios em todo o norte do Rio Grande do Sul.
“É uma iniciativa empreendedora que entrega resultados para toda região e que será parte de um novo momento para o norte gaúcho”, projeta Márcia.
A secretária de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Simone Stülp, reforça a estratégia de fortalecer a dinâmica de interiorização da inovação para que os resultados sejam cada vez mais efetivos. “Cada região tem suas características especificas. É importante que os atores locais tomem para si esse desafio de impulsionar o movimento da inovação nas suas áreas de visão de futuro”, aponta.
Ela cita ainda a potência da região Norte. “Temos, historicamente, um setor produtivo pujante ligado à inovação do agronegócio e saúde, além de importantes instituições de ensino superior que geram cérebros qualificados. Só temos a comemorar os avanços estimulados por esse movimento a inovação em Passo Fundo, e que agora materializa no Hub Aliança toda essa potência”, avalia.
A inovação no mundo todo está saindo um pouco só do ambiente das universidades e avançando para a lógica de disseminação pelas cidades. Prova disso é que existem muitos movimentos acontecendo, envolvendo as instituições de ensino, setor produtivo, empresas estabelecidas, startups, poder público e a sociedade civil organizada.
“Precisamos pensar o Estado como um todo e esses movimentos impulsionados pelas comunidades regionais são muito estratégicos para o futuro do Rio Grande do Sul”, avalia Simone, citando a realização do projeto Rotas da Inovação, que leva as iniciativas da secretaria para diferentes regiões.
Way Comunicação 360º/Divulgação/JC
Complexo de inovação em Passo Fundo integra universidade, startups, empresas e poder público. Crédito: Prefeitura de Passo Fundo/ Divulgação/JC
Hub Aliança estimula interação
O diretor-executivo do Instituto Aliança Empresarial, Diego Gazaro, conta que o Hub Aliança avaliou diferentes modelos para estruturar o seu próprio ecossistema. É o caso do movimento que impactou Medellín, na Colômbia. No Brasil, duas grandes referências estão bem próximas, dentro do próprio Estado: o Instituto Hélice, da Serra Gaúcha, e o Instituto Caldeira, de Porto Alegre.
“Todos os players da região já desenvolviam programas de inovação nesses espaços e, então, passamos a construir modelo de negócios de termos proximidade física para acelerar as interações e potencializar a inovação. É uma conexão desses modelos que foram sendo percebidos no Brasil e no mundo que a gente buscou trazer para a Aliança”, destaca Gazaro.
Pelo espaço físico do Hub Aliança, circulam cerca de 300 pessoas por dia. “É um ambiente em que empresas, startups, pessoas e poder público podem interagir. A Secretaria de Inovação de Passo Fundo, inclusive, está aqui dentro”, enfatiza Márcia.
O Instituto tem se envolvido em iniciativas importantes, como no apoio à gestão pública municipal na elaboração do projeto que resultou na Lei de Inovação de Passo Fundo. Para isso, contratou uma consultoria. O projeto está no segundo ano e os planos agora envolvem a criação de um fundo de investimentos.
 

Geografia não é mais impeditiva para geração de negócios

Capellari sugere que articulação seja intensificada para avançarmos

Capellari sugere que articulação seja intensificada para avançarmos

ANDRESSA PUFAL/JC
Com todas as tecnologias e as facilidades de mobilidade do talentos no século 21, não há mais geografia que, por si só, seja impeditiva de inovação e da criação de novos negócios, analisa o CEO da Atitus Educação, Eduardo Capellari.
“Claro que as grandes capitais do mundo são centros de atração de pessoas e negócios, mas é possível que cidades médias constituam um ambiente forte de desenvolvimento econômico desde que isso também seja feito com a articulação com grandes movimentos que também acontecem nas capitais”, comenta.
O desafio, segundo ele, é a criação de um tecido de desenvolvimento permanente em diferentes regiões. “Precisamos cada vez mais de iniciativas que ultrapassem os interesses imediatos das empresas e de uma construção estratégica de médio e longo prazo de competitividade econômica e social”, observa.
Ao fazer uma análise da participação da Atitus nesse cenáiro, Capellari explica que a motivação sempre esteve no diagnóstico de que a economia do Rio Grande do Sul, apesar de ser a quarta do País, ainda é muito fundada em estruturas tradicionais.
Isso deve levar, necessariamente, a um processo de renovação e inovação, criando novas frentes de negócios e ambientes de retenção e atração de talentos. “Essa é a chave do próprio nascimento da Atitus, há 20 anos, e do movimento que realizamos, especialmente nos últimos cinco anos, quando fomos parceiros na criação do Instituto Caldeira, em Porto Alegre, e liderarmos com outras empresas a criação da Aliança Empresarial, em Passo Fundo”, conclui.

Instituto Aliança Empresarial

Founders
Atitus Educação, Be8, Coprel, Cotrijal, Farmácias São João, Hospital Ortopédico, Metasa e Oniz Distribuidora.
Partners
Aport Empresarial, De Carli, Guedes Advocacia, Incoben Construtora, Planacon, Senai, Sicredi, Una Construtora, Grupo Vidalar, Roque Advogados e Totvs.
Investidores (Siloinvest)
Atitus Educação, Coprel, Cotrijal, ECB Group, Farmácias São João, JL Participações, JR Comércio de Cimento, Metasa e Una Construtora.

Medellín: revitalização movida à inovação

Segunda maior cidade da Colômbia, Medellín deixou de ser um lugar associado à criminalidade para se tornar referência mundial em inovação. A partir da interação entre poder público, iniciativa privada e organizações da sociedade civil (sobretudo na área da educação), iniciativas criativas e tecnológicas foram adotadas para melhorar a qualidade de vida e promover a inclusão social.
Anos 1980 e 1990
Medellín passou por um período turbulento nas décadas de 1980 e 1990, enfrentando desafios significativos relacionados à violência, criminalidade e desigualdade social.
Urbanismo social
Nos primeiros anos do século 21, uma série de iniciativas inovadoras foram implementadas para enfrentar os problemas urbanos. Uma das mudanças foi a criação do "Metrocable", em 2004, um sistema de teleféricos que conectava as áreas montanhosas da cidade, anteriormente isoladas, ao sistema de transporte público. Outra iniciativa foi a inauguração do "Parque Biblioteca Espanha", em 2007, que se tornou um ícone arquitetônico e cultural. No ano seguinte, foi aberto o "Parque Explora", um museu interativo de ciências, que estimula o aprendizado e a interação. Além disso, projetos como os corredores verdes da cidade buscaram equilibrar o crescimento urbano com a sustentabilidade ambiental.
Cidade mais inovadora do mundo
Em 2013, Medellín recebeu o título de "Cidade Mais Inovadora" pela concedido pela organização internacional Urban Land Institute.

Movimento estimula busca por nova cultura empresarial

Stefanello diz que Coprel decidiu alocar seus times no Hub Aliança

Stefanello diz que Coprel decidiu alocar seus times no Hub Aliança

Coprel/Divulgação/JC
As primeiras articulações que deram origem ao Instituto Aliança Empresarial foram iniciadas em 2019. Foram oito empresas fundadoras: Atitus Educação, Be8, Coprel, Cotrijal, Farmácias São João, Hospital Ortopédico, Metasa, Oniz Distribuidora.
Inicialmente, o grupo de empresários interagia de forma virtual, ainda no contexto da pandemia, ou em espaços de parceiros, como a Atitus Educação e o Sicredi.
Com o tempo, outras organizações começaram a se associar à iniciativa, como partners. “O fato de se tornar um instituto também está muito ligado à robustez que ganhou a Aliança Empresarial”, ressalta Gazaro.
“Se juntarmos todas as empresas que constituem o nosso ecossistema temos um faturamento somado de mais de R$ 33 bilhões e mais de 30 mil empregos gerados, uma representatividade bastante grande”, reforça.
O movimento, que nasceu de forma espontânea, estruturou um ecossistema que, hoje, abrange mais de 20 empresas, entre fundadores, parceiros e investidores. Com um espaço físico próprio, a ideia é fortalecer ainda mais as conexões entre todos os agentes para que todos possam se beneficiar do ambiente aberto à inovação.
A atmosfera criada em torno do tema já está impactando a realidade das empresas, em aspectos como a cultura. É o caso da cooperativa de energia Coprel, onde a inovação está sendo trabalhada de forma descentralizada, com ações em todas as áreas da empresa e não em um único departamento.
“Estamos muito focados em trabalhar mais a cultura de inovação dentro da empresa”, comenta Mateus Stefanello, facilitador de negócios e inovação da Coprel. “Inicialmente estávamos em dúvida entre ter uma área mais robusta e complexa que fosse o centro da inovação ou capilarizar para dentro de todas as áreas do negócio”, recorda.
A escolha ficou com a segunda opção para que fosse possível desenvolver a inovação considerando as diferenças em cada área da empresa, como telecomunicações, geração de energia, distribuição, soluções ou comercialização energética. “Cada uma dessas áreas tem que ter inovação na veia porque a transformação vai vir na ponta”, diz Stefanello.
Além disso, a cooperativa quer fortalecer a interação com outros agentes do ecossistema. Com sede em Ibirubá, a cerca de 100 km de Passo Fundo, a Coprel já definiu que vai alocar pessoal no Hub Aliança. “Um dos nossos objetivos é criar uma aproximação com as universidades de Passo Fundo para que a gente consiga ter um vínculo e, inicialmente, já buscar alunos que possam contribuir para a Coprel logo na faculdade.”
Para Stefanello, o investimento em inovação é um fator decisivo para o desenvolvimento do ambiente de negócios na região. “Começamos a participar do Instituto Aliança muito com esse objetivo de transformar a realidade da região Norte do Estado”, ressalta. “A gente viu que existem movimentos de inovação acontecendo em todos os locais e, no fim aqui, em Passo Fundo estávamos exportando essa turma toda que está se formando. As empresas estavam investindo em estagiários e trainees e esse pessoal ia embora”, analisa.
Das conversas iniciais entre os empresários à inauguração do Hub Aliança, o grupo criou uma estrutura consistente de estímulo à inovação, com projetos estabelecidos e mecanismos de investimentos. Nas palavras de Stefanello, é um legado para o crescimento econômico e o futuro da região.

Universidade tem papel decisivo na formação dos talentos

UPF conta com único parque científico e tecnológico da Região

UPF conta com único parque científico e tecnológico da Região

UPF/Divulgação/JC
Para ser capaz de criar o novo, as empresas precisam de pessoas qualificadas. E, em Passo Fundo, um dos elos estratégicos para isso tem sido as instituições de ensino. Por um lado, a Atitus Educação foi a grande indutora do movimento da Instituto Aliança Empresarial, que reuniu empresários para acelerar programas de inovação e a colaboração entre startups e grandes empresas, além da aproximação com investimentos e parcerias estratégicas.
Por outro, a Universidade de Passo Fundo (UPF) tem um histórico de desenvolvimento de pesquisa e conhecimento – o curso de Agronomia, por exemplo, existe há mais de seis décadas.
“Tivemos o berço do desenvolvimento da tecnologia e inovação na cidade com a formação de pessoas, a produção de conhecimento e a realização de pesquisas com melhoramento genético, que foram trazendo elementos novos para essas cadeias produtivas”, analisa a reitora da UPF, Bernadete Dalmolin.
Em outubro de 2023, foi celebrado os 10 anos do UPF Parque, o único científico e tecnológico da Região Norte. Com uma infraestrutura com mais de 4.000m² de área construída, oferece salas disponíveis para empresas, além de espaços para reuniões, serviços de laboratórios, infraestrutura administrativa e o Espaço Collab.
A Arena UPF Parque é dedicada à inovação aberta e criada para conectar diferentes atores da comunidade, incluindo empresários, instituições públicas e privadas, associações, professores, alunos, funcionários e setores institucionais. Outra iniciativa é a Incubadora Programa Apollo, que oferece suporte e acompanhamento para startups, desde a concepção da ideia até o modelo de negócio para o mercado.
“Há dez anos, não tínhamos muita noção do que iria acontecer, mas sabíamos que precisávamos estar mais conectados com indústria, com as empresas e com a sociedade para lidar com as dores do desenvolvimento”, recorda. “Começamos esse movimento com empresários, poder público, sociedade e a própria universidade, que foi se entendendo melhor nesse lugar de pensar a transformação das suas pesquisas em novos produtos chegando ao mercado”, acrescenta.
Bernadete comenta o momento atual, no qual diversas iniciativas estão convergindo. “Hoje podemos pensar melhor, com mais pessoas e com mais esclarecimento dos rumos que a cidade precisa tomar. Estamos chegando nesse patamar de poder fazer convergências e definirmos as novas prioridades para nos aproximando mais, definindo prioridades juntos”, analisa.

UPF Parque

- Infraestrutura com mais de 4.000m² de área construída
- 30 empresas vinculadas ao ecossistema
- 22 residentes, sendo 16 âncoras e seis startups
- 14 empresas associadas
- 3 incubadas online
- 53 postos de trabalho diretos no parque
- 3 missões empresariais
- Prêmio Anprotec na categoria “Relato de boas práticas em empresas e ambientes de inovação”

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