Produção, venda e capacidade da indústria química atingem pior nível

Competitividade do segmento em 2023 foi agravada pela guerra entre Rússia e Ucrânia

Por JC

Indústria Química
Em 2023, os índices Abiquim/Fipe dos produtos químicos de uso industrial apresentaram forte recuo na comparação com o ano anterior, em especial o de produção e o de exportação, com recuos de 10,1% e de 10,9%, respectivamente. Ainda que as importações tenham crescido 7,8%, a demanda brasileira, medida pelo consumo aparente nacional (CAN) - produção mais importação menos exportação -, caiu 1,5% em 2023, em relação ao ano anterior. As informações são da assessoria da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim.

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Cenário preocupa o setor

Ainda sobre o volume de importações da amostra de produtos do RAC, os destaques ocorreram nos aumentos verificados nos grupos de intermediários para resinas termofixas (+85,8%), plastificantes (+57,3%), resinas termofixas (44,2%) e resinas termoplásticas (+17,1%). Como a demanda local encolheu no ano passado, a parcela maior de importações sobre essa demanda menor cresceu, alcançando 47% em 2023, o resultado mais elevado dos últimos trinta anos.

De acordo com Coviello, a situação fica ainda mais crítica quando se avalia o crescimento do volume importado dos produtos da amostra deste relatório versus os seus respectivos preços médios dessas importações, cujo valor médio unitário teve recuo de quase 34%.

Levando em conta as iniciativas do Brasil, a nova política industrial divulgada recentemente e as perspectivas em torno do programa Gás para Empregar ajudarão o País a melhorar questões importantes estruturais. No entanto, é preciso associar uma ação emergencial, como a implementação da lista transitória de elevação das alíquotas de importação, defendida pela Abiquim, para que se tenha tempo de produzir efeito nas agendas estruturais. “A manutenção do quadro internacional atual, associado à elevada ociosidade e às crescentes importações, pode comprometer o parque instalado, trazendo consequências desastrosas ao País, que podem resultar em desativações de unidades, perdas de postos de trabalho e menor arrecadação de impostos pelo setor químico, que é atualmente o primeiro no pagamento de tributos federais”, explicou a diretora da Abiquim.
A queda da produção de químicos em 2023 resultou em uma perda de quase R$ 8 bilhões em arrecadação de impostos federais para o país.

Para Paulo Gala, economista da Fundação Getúlio Vargas, esse cenário - com forte queda de vendas, produção e exportações de produtos químicos - é muito preocupante. “Importante ressaltar que, em um ano em que a economia brasileira apresentou um crescimento de 3%, a indústria química experimentou uma contração de 10%. Isso mostra claramente um grave processo de desindustrialização da economia nacional.”

Ainda de acordo com o economista, os setores mais sofisticados, com maior conteúdo tecnológico e salários mais elevados perdem espaço no PIB, contrastando com o crescimento impulsionado principalmente pelo setor de serviços de menor sofisticação. “Esse resultado é consequência da concorrência desafiadora de produtos asiáticos, com destaque para os chineses. A presença desses produtos no mercado brasileiro, muitas vezes resultante de práticas como dumping ambiental e subsídios públicos, dificulta consideravelmente a competição para a produção doméstica brasileira”, enfatiza Gala, complementando que diante desse panorama preocupante, torna-se evidente a necessidade de ação do governo e de medidas estratégicas para proteger e fortalecer a indústria química, preservando sua vitalidade e potencial contribuição para a economia nacional.