O Ministério do Planejamento e Orçamento estima um aumento do PIB (Produto Interno Bruto) potencial do Brasil para um patamar entre 2% e 2,5%. PIB potencial é uma estimativa de qual seria o PIB na hipótese de todos os fatores de produção disponíveis serem usados da forma mais eficiente, sem gerar pressões sobre a taxa de inflação.
O cálculo é feito com base em técnicas estatísticas e, na avaliação do Planejamento, foi feito a partir de novos estudos realizados para identificar possíveis alterações na capacidade de crescimento da economia brasileira nos últimos anos.
O objetivo, segundo o secretário-executivo Gustavo Guimarães, é ter uma "bússola de qualidade" para que o governo possa tomar melhores decisões no médio e longo prazo com informações mais precisas sobre o cenário econômico do País.
"Estamos tentando avançar cada vez mais e ainda podemos refinar os números, mas acreditamos que já temos um conjunto de modelos sinalizando que realmente o PIB potencial brasileiro saiu do patamar de 1%, que era uma discussão forte anos atrás, e agora está entre 2% e 2,5%", disse Guimarães à Agência Folhapress.
Ele acrescenta que isso permitirá que o governo se antecipe a determinados movimentos da economia e possa "fazer uma gestão orçamentária de melhor qualidade".
Depois de uma sequência de surpresas positivas com o ritmo de expansão da economia brasileira neste ano, ganhou força a discussão sobre uma possível elevação do PIB potencial.
Os especialistas entendem que o crescimento desse dado reflete o impacto positivo de diversas reformas econômicas aprovadas desde 2016, como a trabalhista. Na medida em que os tradicionais modelos usados pelos economistas não estão captando certas mudanças no padrão de crescimento da economia brasileira, a pasta apostou em metodologias "alternativas" e em discussões mais atuais da literatura científica em seus estudos.
Uma das análises observou os erros sistemáticos do mercado financeiro na previsão do PIB, comparando a projeção mediana dos economistas tirada do boletim Focus - pesquisa coletada pelo Banco Central - no início do ano com o dado realizado. Para o Planejamento, esse foi um primeiro indício de uma potencial mudança estrutural da economia brasileira.
A partir da diferença entre o PIB realizado e a projeção três meses antes, em um segundo estudo, a equipe econômica constatou que os erros continuaram sendo positivos - e elevados - mesmo em um recorte trimestral, quando os analistas já possuem informações mais precisas. Isso reforçaria a evidência mostrada na análise anterior.
Um terceiro estudo consolidou uma série de cálculos a partir da mediana das combinações dos componentes do PIB pelas óticas da oferta e da demanda. Segundo Guimarães, essa pesquisa mostrou um salto de crescimento de 1% para 2,5%.
O que também sugeriu ao Planejamento que "algo diferente" estava acontecendo foi a observação de que, após 2020, o Brasil superou a tendência de crescimento trimestral médio de 2017-2019. Pela primeira vez, o País retomou a tendência de crescimento do ciclo anterior depois de um período de crise.
Guimarães ressalta que momentos de crise provocam rupturas na trajetória de crescimento dos países e deixam "cicatrizes". Sem se recuperarem integralmente, eles passam a seguir uma tendência de crescimento menor. Como países emergentes têm crises mais recorrentes, acabam tendo mais dificuldade de desenvolvimento.
O Brasil, contudo, quebrou esse padrão e conseguiu retornar a tendência pré-crise, conforme indicam os dados do estudo do Planejamento, em parceria com pesquisadores do CIEF (Centro de Investigação em Economia e Finanças), da UnB (Universidade de Brasília).
Folhapress