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Trabalho

- Publicada em 06 de Novembro de 2023 às 18:26

Semana de quatro dias laborais começa a ser testada no Brasil

Em 2015, Mercur reduziu a jornada de trabalho sem diminuir o salário dos funcionários e viu bem-estar aumentar na empresa

Em 2015, Mercur reduziu a jornada de trabalho sem diminuir o salário dos funcionários e viu bem-estar aumentar na empresa


Mercur/Divulgação/JC
Trabalhar quatro dias na semana, ganhar o mesmo salário e manter ou aumentar a produtividade. Esse é o teste que se inicia em novembro deste ano com empresas voluntárias de todo o Brasil. A experiência será analisada durante seis meses pela 4 Day Week Global e Boston College, em parceria exclusiva com a Reconnect Happiness at Work. No total, serão 21 empresas e instituições participantes e, após o período de teste, as organizações podem decidir se seguem com o modelo.
Trabalhar quatro dias na semana, ganhar o mesmo salário e manter ou aumentar a produtividade. Esse é o teste que se inicia em novembro deste ano com empresas voluntárias de todo o Brasil. A experiência será analisada durante seis meses pela 4 Day Week Global e Boston College, em parceria exclusiva com a Reconnect Happiness at Work. No total, serão 21 empresas e instituições participantes e, após o período de teste, as organizações podem decidir se seguem com o modelo.
Segundo informações disponíveis no site da empresa, em outros países onde os testes já foram aplicados, os resultados foram positivos. De acordo com a Reconnect, África do Sul, Nova Zelândia e Portugal, países que realizaram a transição para uma semana de trabalho de 32 horas, houve aumentos na produtividade, maior atração e retenção de talentos, envolvimento mais profundo do cliente e melhor saúde, bem-estar e felicidade dos colaboradores.
No Reino Unido, onde o estudo sobre os quatro dias laborais foi feito, percebeu-se que 39% dos colaboradores se sentiram menos estressados; 71% reduziram o burnout; 54% achou mais fácil conciliar vida pessoal e profissional; e o turnover reduziu em 57%. Além disso, 15% dos colaboradores participantes disseram que nenhum aumento de salário os faria voltar à semana de 5 dias. Já para a empresa, houve um aumento de 1,4% na receita, o que representa crescimento de 35% quando comparado com período similar de anos anteriores, segundo informações da Reconnect. As empresas participantes são de pequeno e médio porte. Grandes empresas participam do teste com áreas específicas.
Em Santa Cruz do Sul, no interior do Estado, a Mercur, empresa das áreas de saúde e educação, reduziu, ainda em 2015, a jornada de trabalho para 36h, fornecendo folgas para os colaboradores nas sextas à tarde. A medida confirmou a tendência de outros locais: manutenção da produtividade e redução de custos operacionais. "As pesquisas de clima da empresa demonstram uma recepção muito positiva dos colaboradores da Mercur, por ter a sexta-feira de tarde livre. Percebemos que a jornada reduzida tinha mais benefícios para a empresa em perceber que os colaboradores estavam mais ativos, com energia e disposição, com maior qualidade de vida e bem-estar", resume Fabiane Lamaison, Facilitadora da Coordenação na Mercur.

Dados do experimento podem fomentar debate legal, avalia advogada trabalhista

Segundo a advogada trabalhista Kerlen Costa, os dados coletados a partir do teste no Brasil podem servir de base para futuras discussões legais. "Os dados são a melhor forma de convencimento. É assim que as leis mudam", considera. Como exemplo, ela cita que "antigamente, férias na legislação era um absurdo, depois se viu que era importante e que os resultados se refletiam, inclusive, na produtividade".  
Ainda na visão dela, essa é a tendência do trabalho do futuro, principalmente porque as gerações mais jovens, de 18 a 25 anos, possuem outras prioridades na vida. "Os jovens querem um estilo de vida mais saudável, em que é possível produzir mais, mas também ter um equilíbrio com a vida pessoal, que proporcionem trabalhar com mais criatividade", destaca. 

Do ponto de vista legal, não há nada que impeça o teste e a adoção do modelo de quatro dias. "É um acordo entre a empresa e o trabalhador, algo que a reforma trabalhista prevê. O que não pode, de jeito nenhum, é ter alteração no salário" enfatiza Kerlen. Ela também salienta que não pode haver aumento de jornada nos outros dias. "O empregador se compromete e garantir o salário integral e o funcionário precisa entregar a mesma produtividade".
No entanto, a especialista avalia que a jornada de quatro dias como uma obrigação no País está longe de acontecer, embora essa mudança na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) possa acontecer mais rápido do que outras ao longo da história. "Quando surgiu a CLT, não existia nem e-mail. Somente em 2017 o teletrabalho foi discutido na reforma trabalhista. Na prática, o trabalho remoto só se disseminou com a pandemia, quando era a única opção. Acho, porém, que a mudança quanto a jornada não vai demorar tanto, embora seja um processo complexo", explica, ressaltando que para mudar as 44 horas semanais da CLT é necessário mudar não somente a legislação, mas a constituição. "São várias etapas no Congresso, depois passa pelo presidente e ainda pelo STF. Acho que os dados da pesquisa vão trazer parâmetro para que os agentes políticos consigam entender o tema e propor alguma lei", aponta.