Não dá para culpar apenas a pandemia, reconhece a presidente do Instituto Cultural Norte-Americano (ICBNA) de Porto Alegre, Solange Kunzler, sobre a situação que o empreendimento chegou. O prédio próprio de seis pavimentos, na rua Riachuelo, nº 1.257, no Centro Histórico, que já somou 11 mil alunos e 220 colaboradores, ocupa, atualmente, apenas o último andar. As contas para manter toda a estrutura e pagar os salários dos 10 funcionários restantes somam R$ 50 mil por mês.
“Temos que faturar R$ 100 mil, e vamos conseguir”, prevê uma Solange otimista. O que lhe dá confiança são as mudanças na sede, que serão apresentadas durante um evento nesta sexta-feira.
A partir de agora, a instituição, classificada como uma associação sem fins lucrativos, se chamará Hub Cultural, e integrará coworking, espaço maker, sublocação de salas, atividades de letramento digital para idosos e o salão de eventos Multiespaço Erico Verissimo (onde antes era o Teatro Erico Verissimo). A cafeteria Dude Coffee, de Caxias do Sul, aliás, já começou a funcionar no saguão, com balcão virado para rua, o que gera renda fixa ao instituto.
Solange no novo Espaço Maker. Foto: Leonardo Kerkhoven/Divulgação/JC
O que contribuiu para deixar as finanças apertadas foi a migração dos alunos para cursos de inglês online e a saída da Fadergs do endereço, após 10 anos de aluguel de um dos andares do prédio. Para dar a volta por cima, foi contratada uma consultoria.
Houve boatos de que o Cultural fecharia de vez, até porque parte dos livros foram vendidos aos sebos vizinhos. Solange, inclusive, reconhece que foi cogitada a possibilidade, mas os conselheiros, todos voluntários, são apaixonados pelo projeto, fundado em 1939 pelo escritor Erico Verissimo.
“Quando fui contratado, não fazia ideia das necessidades. Como consultor de inovação especializado em projetos voltados para a nova economia digital, percebi o potencial histórico e reputacional do instituto. Um lugar repleto de histórias, uma entidade de quase 85 anos fundada por um escritor idealista e cheio de propósito social. Eu estava diante de uma empresa especializada em ensinar inglês, porém bastante atingida pelo mercado saturado de escolas tradicionais. Percebi um ambiente muito favorável para a inovação. E pensei que não havia um hub com orientação bilíngue no Estado”, diz o consultor Mauro Sarmento.
A aposta desenhada a partir do trabalho do profissional não é pequena. Foi investido R$ 1 milhão para recuperar a imagem do Cultural, cujos professores e funcionários têm dificuldade de relacionar com os tempos áureos, como admite a presidente. A escola chegou a ter, ainda, sete unidades, e era referência em levar alunos para estudar fora do País. Os recursos utilizados são próprios, acumulados pelas receitas das aulas de inglês, e foram aplicados ao longo dos anos por ex-presidentes.
Retomar a presença de estudantes gaúchos em universidades dos Estados Unidos é uma das metas. Por isso, está sendo impulsionado o projeto Education USA.
Além disso, o ICBNA continua sendo parceiro do Consulado Norte-americano. Uma certificação permite o desenvolvimento de projetos em conjunto com o órgão oficial e o oferecimento de aulas a jovens sem condições de bancar a mensalidade.
Na semana em que ocorrerá o lançamento da reviravolta do Cultural, Solange circula pelos corredores com um misto de esperança e nostalgia. “Aqui, cabiam 60 alunos”, lembra, ao entrar em um dos cômodos vazios e ainda sem luz. “Dá para transformar em três salas comerciais”, alegra-se ao enxergar as novas possibilidades do imóvel.
“Não queremos fechar de jeito nenhum. Isso ainda será um grande espaço para o Centro Histórico de Porto Alegre”, completa a executiva.
Erico Verissimo foi o fundador do projeto
O nome Erico Verissimo sempre teve relação com o Cultural pois ele foi um dos fundadores do instituto em 1939, ao lado de um grupo de amigos. A primeira sede ocupava o edifício União, na avenida Borges de Medeiros.
A presidente do Instituto Cultural Norte-Americano, Solange Kunzler, conta que, na época, ele já era um escritor conhecido e tinha uma relação muito próxima com as autoridades gaúchas. “Havia necessidade de tradução de livros”, cita ela, sobre a aproximação do autor com a cultura norte-americana.
O projeto começou como instituto e apenas em 1943 virou escola de inglês. A primeira do Rio Grande do Sul, salienta Solange. Na década de 1970, começaram a surgir as outras.
No térreo do prédio de seis andares, funcionava o Teatro Erico Verissimo, renomeado para Multiespaço Erico Verissimo. Uma pintura da artista gaúcha Paula Plim, que mora em Barcelona, na Espanha, retrata personagens e elementos de suas obras. O espaço, de 475m² e que pode abrigar 150 cadeiras, teve de ser todo remodelado por conta das novas regras de PPCI (Prevenção Contra Incêndios). Os dois pianos comprados em 1970 continuam como atrações do local.
O Multiespaço Érico Veríssimo recebe pintura da artista Paula Plim. Foto: Mauro Belo Schneider/Especial/JC
Como funciona o Cultural
O Cultural é um centro binacional, uma associação sem fins lucrativos, que nunca deixou de dar aulas em inglês. Hoje, há aulas online e presencial. Embora os investimentos no prédio e no projeto sejam feitos com recursos próprios, está sempre aberto a empresas parceiras que queiram se unir à marca.
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