A Polícia Federal (PF) deve solicitar prorrogação do inquérito em torno do caso de mais de 200 pessoas que eram mantidas de forma análoga à escravidão na região da serra gaúcha. A princípio, o prazo de conclusão seria de 30 dias. Até agora, segundo o delegado Adriano Medeiros do Amaral, não há indícios da participação direta das vinícolas. No último dia 22 fevereiro, a terceirizada Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão em Saúde Ltda foi flagrada usando mão de obra de trabalhadores submetidos a viver em condições precárias, violência física e sem receber seus salários.
"Fizemos todo um levantamento do material já recolhido, e o que a gente encontrou foi um contrato de fornecimento de mão de obra por uma empresa terceirizada", disse o delegado, em coletiva à imprensa, realizada nesta sexta-feira (17). Com a investigação em fase de coleta de provas, nesta mesma data a PF cumpriu sete mandados de busca e apreensão, após deflagrar a Operação Descaro, que atua nos municípios de Bento Gonçalves e Garibaldi (RS), onde os trabalhadores eram recrutados de outros estados, principalmente da Bahia.
Seis suspeitos foram identificados pela polícia como possíveis integrantes de uma organização criminosa voltada para a prática do crime de submissão à escravidão.
Durante a operação, que ocorreu na sede da empresa que recrutava os trabalhadores e nas residências das sete pessoas investigadas, foram encontrados revólveres, pistolas, armas longas e munição, entre outros objetos. Ao todo, nove armas foram apreendidas e recolhidas pelo Exército por estarem armazenadas em local inadequado, na casa de um dos investigados. Mas, segundo Amaral, "todas registradas" em nome de um colecionador, atirador ou colecionador (CAC), e em conformidade com o Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma). Conforme o delegado, a princípio o armamento não teria "relação nenhuma com os fatos".
Na ação desta sexta-feira ainda foram apreendidos documentos da empresa terceirizada, computadores e telefones celulares. Responsável pela investigação, Amaral afirma que a PF e o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) também estão apurando se realmente haviam jornadas de trabalho exaustivas e se os casos de maus tratos sofridos pelos trabalhadores no alojamento, em Bento Gonçalves, têm relação com o caso. "Vamos fazer análise das provas colhidas, e vai ser oportunizado aos investigados falar nos autos", destacou. "A polícia seguirá com as investigações e ouvirá novamente os representantes das vinícolas para esclarecimento dos fatos", pontuou o delegado, deixando claro que a PF seguirá investigando também as vinícolas envolvidas na denúncia (Aurora, Salton e Garibaldi).
Em nota, a Vinícola Aurora afirmou que "apoia todas as investigações em curso e continua à disposição das autoridades." O texto ainda diz que "Paralelamente, (a Aurora) atua em diversas frentes para o restabelecimento dos direitos dos colaboradores terceirizados, vinculados à empresa Fênix, bem como na implementação das melhores práticas para gestão de terceiros e fornecedores." A nota ainda "reafirma" o compromisso da vinícola "de aperfeiçoar cada vez mais os processos produtivos e mecanismos de fiscalização."
Já a Cooperativa Vinícola Garibaldi respondeu à reportagem do JC, que "confia na correta apuração dos fatos, o que cabe às autoridades competentes." Também em nota, a Salton comunicou que "segue à disposição dos órgãos competentes e contribuindo nas investigações."