Problema antigo no ramo imobiliário, a atuação de atravessadores - pessoas que tentam vender um imóvel mesmo quando ele tem exclusividade com alguma empresa - entrou na mira das plataformas digitais. A startup Loft, por exemplo, começou a fazer uma análise massiva de dados para identificar clientes ou corretores que começam a negociação no marketplace, mas migram para conversas diretas para evitar o pagamento da corretagem devida.
Dados iniciais apurados em São Paulo já dão uma dimensão do tamanho do problema. “Analisamos 80 casos, e a incidência foi de 6%”, expõe Talles Dantas, vice-presidente de estratégia e precificação da Loft. A startup estima que deixou de receber R$ 2,1 milhões em corretagem por conta do que também é conhecido como bypass.
A situação, conforme Dantas, pode gerar riscos na hora da transação. “Quando a operação sai da plataforma, os envolvidos ficam mais suscetíveis a diversos problemas. Seja comprar imóveis sem documentação correta, seja um contrato de compra e venda que não esteja bom”, alerta.
Para Moacyr Schukster, presidente do Sindicato da Habitação do Rio Grande do Sul (Secovi-RS), isso é a reprodução do que acontece fora do ambiente virtual. Ele ressalta a importância da exclusividade para que os imóveis sejam bem cuidados.
“É lamentável que isso esteja ocorrendo. Enquanto os proprietários não se derem conta que tem que ter uma imobiliária, isso não vai ser consertado. O proprietário deve ter a sua imobiliária e o seu corretor”, sugere.
Ele compara o contexto com um imóvel à venda com várias placas. “Se há 10 placas de imobiliárias diferentes, nenhuma estará trabalhando com dedicação neste imóvel”, entende.
O acompanhamento realizado pela Loft para o mercado imobiliário é semelhante ao que o VAR faz para as partidas de futebol. Para inibir essas práticas, a startup passa a adotar diferentes medidas. Uma delas é a análise do desempenho de corretores parceiros.
Aqueles que tiverem um índice muito destoante dos demais serão primeiramente comunicados. Se a prática continuar, no limite, eles não poderão mais trabalhar com a Loft.
Em outra frente, a startup está fazendo um pente-fino em transações suspeitas, que consiste em detectar imóveis que foram anunciados na plataforma, receberam grande volume de visitas de compradores interessados, mas a negociação final foi fechada fora do marketplace da Loft.
Para se certificar de que houve bypass, a startup cruza essas informações com a matrícula dos imóveis para verificar se vendedores, compradores ou corretores foram conectados originalmente por meio da plataforma.