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Conjuntura

- Publicada em 21 de Setembro de 2022 às 19:29

Banco Central mantém Selic em 13,75% ao ano e interrompe ciclo de alta de juros

A taxa, ainda assim, é a maior desde janeiro de 2017

A taxa, ainda assim, é a maior desde janeiro de 2017


MARCELLO CASAL JR/ebc/jc
Mesmo com as expectativas de inflação ainda num patamar alto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano, encerrando o mais longo ciclo de alta de juros de sua história.A taxa, ainda assim, é a maior desde janeiro de 2017. Foram 12 altas consecutivas neste processo de aperto monetário, com um aumento acumulado de 11,75 pontos porcentuais, o maior choque de juros desde 1999. O ciclo foi iniciado em março de 2021, quando os juros básicos estavam na mínima histórica de 2% ao ano.O aumento de juros é considerado uma medida impopular. A última vez que ocorreu um aumento da Selic durante a campanha ao Palácio do Planalto foi em 2002, ano da primeira vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O então candidato do governo, José Serra (PSDB), perdeu aquela eleição.A decisão do Copom não foi unânime. Segundo o comunicado divulgado pelo Banco Central, sete dos nove membros do comitê votaram pela manutenção de 13,75% - os outros dois votaram por uma "elevação residual" de 0,25 ponto percentual, o que jogaria a Selic para 14%.O colegiado ainda deixou a porta aberta para voltar a subir a taxa. "O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado", diz o comunicado.Mesmo com a estabilidade da taxa Selic, o Brasil continua a ter a maior taxa de juro real (descontada a inflação) do mundo, em uma lista com 40 economias. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 8,22% ao ano. Em segundo lugar na lista que considera economias mais relevantes, aparece o México (5,13%), seguido da Colômbia (3,86%). A média dos 40 países avaliados é de -1,69%.O aumento do juro básico da economia reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem de seis a nove meses entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito. A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos. Por outro lado, aplicações em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures (títulos de empresas), passam a render mais.Combate à inflaçãoO Banco Central se baseia no sistema de metas de inflação para calibrar os juros básicos. Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic. Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o BC a reduz. A disparada dos preços esteve intimamente ligada à disparada da inflação em 2021 e 2022.Para 2022, a meta central de inflação é de 3,5% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2% a 5%. Para 2023, a meta de inflação foi fixada 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%. As estimativas de inflação para este e o próximo ano continuam muito acima do teto da meta, mesmo com a desaceleração dos preços. O BC já indicou que só prevê voltar à meta em 2024.A decisão desta quarta-feira, 21, era esperada pela maior parte do mercado financeiro. De 50 instituições financeiras consultadas pelo serviço Projeções Broadcast, 41 esperavam estabilidade, enquanto 9 previam avanço de 0,25 ponto porcentual, para 14%.No encontro de agosto, o BC indicou que o plano de voo era manutenção dos juros em patamar significativamente contracionista após o aumento da Selic naquela reunião, mas que iria avaliar a necessidade de um ajuste residual, de 0,25 ponto porcentual este mês.Críticas de Paulo GuedesNa segunda-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o BC errou as projeções econômicas por não perceber uma "mudança no eixo". "O BC também errou projeções, mas com erro técnico, de pessoal mais sofisticado. O BC errou por não perceber que mudamos o eixo da economia. O BC errou ao falar o tempo todo em risco fiscal, desajuste fiscal, quando íamos para superávit. O BC estava preocupado com o fiscal e eu com o juro negativo", disse.No cenário internacional, o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, aumentou nesta quarta-feira as taxas de juros do país para uma faixa de 3% a 3,25% - uma alta de 0,75 ponto percentual. É a quinta elevação neste ano, levando a taxa básica de juros dos EUA ao seu maior patamar desde 2008, pouco antes de o país passar por sua maior crise desde a quebra das bolsas em 1929.
Mesmo com as expectativas de inflação ainda num patamar alto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano, encerrando o mais longo ciclo de alta de juros de sua história.

A taxa, ainda assim, é a maior desde janeiro de 2017. Foram 12 altas consecutivas neste processo de aperto monetário, com um aumento acumulado de 11,75 pontos porcentuais, o maior choque de juros desde 1999. O ciclo foi iniciado em março de 2021, quando os juros básicos estavam na mínima histórica de 2% ao ano.

O aumento de juros é considerado uma medida impopular. A última vez que ocorreu um aumento da Selic durante a campanha ao Palácio do Planalto foi em 2002, ano da primeira vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O então candidato do governo, José Serra (PSDB), perdeu aquela eleição.

A decisão do Copom não foi unânime. Segundo o comunicado divulgado pelo Banco Central, sete dos nove membros do comitê votaram pela manutenção de 13,75% - os outros dois votaram por uma "elevação residual" de 0,25 ponto percentual, o que jogaria a Selic para 14%.

O colegiado ainda deixou a porta aberta para voltar a subir a taxa. "O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado", diz o comunicado.

Mesmo com a estabilidade da taxa Selic, o Brasil continua a ter a maior taxa de juro real (descontada a inflação) do mundo, em uma lista com 40 economias. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 8,22% ao ano. Em segundo lugar na lista que considera economias mais relevantes, aparece o México (5,13%), seguido da Colômbia (3,86%). A média dos 40 países avaliados é de -1,69%.

O aumento do juro básico da economia reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem de seis a nove meses entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito. A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos. Por outro lado, aplicações em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures (títulos de empresas), passam a render mais.

Combate à inflação

O Banco Central se baseia no sistema de metas de inflação para calibrar os juros básicos. Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic. Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o BC a reduz. A disparada dos preços esteve intimamente ligada à disparada da inflação em 2021 e 2022.

Para 2022, a meta central de inflação é de 3,5% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2% a 5%. Para 2023, a meta de inflação foi fixada 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%. As estimativas de inflação para este e o próximo ano continuam muito acima do teto da meta, mesmo com a desaceleração dos preços. O BC já indicou que só prevê voltar à meta em 2024.

A decisão desta quarta-feira, 21, era esperada pela maior parte do mercado financeiro. De 50 instituições financeiras consultadas pelo serviço Projeções Broadcast, 41 esperavam estabilidade, enquanto 9 previam avanço de 0,25 ponto porcentual, para 14%.

No encontro de agosto, o BC indicou que o plano de voo era manutenção dos juros em patamar significativamente contracionista após o aumento da Selic naquela reunião, mas que iria avaliar a necessidade de um ajuste residual, de 0,25 ponto porcentual este mês.

Críticas de Paulo Guedes

Na segunda-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o BC errou as projeções econômicas por não perceber uma "mudança no eixo". "O BC também errou projeções, mas com erro técnico, de pessoal mais sofisticado. O BC errou por não perceber que mudamos o eixo da economia. O BC errou ao falar o tempo todo em risco fiscal, desajuste fiscal, quando íamos para superávit. O BC estava preocupado com o fiscal e eu com o juro negativo", disse.

No cenário internacional, o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, aumentou nesta quarta-feira as taxas de juros do país para uma faixa de 3% a 3,25% - uma alta de 0,75 ponto percentual. É a quinta elevação neste ano, levando a taxa básica de juros dos EUA ao seu maior patamar desde 2008, pouco antes de o país passar por sua maior crise desde a quebra das bolsas em 1929.

A repercussão entre setores

"O cenário mais favorável no médio prazo no âmbito doméstico, somado a um ambiente externo que sinaliza aumento generalizado nos juros e consequente redução da atividade econômica, o qual deve ajudar a descomprimir cadeias e preços de matérias-primas, forma o cenário base para o Copom anunciar o encerramento do ciclo de alta da Selic."

Presidente da Fiergs, Gilberto Petry.


"A Selic em 13,75% ao ano já era suficiente para manter a desaceleração da inflação nos próximos meses. Principalmente porque essa taxa está muito acima do nível de taxa de juros a partir do qual se inibe a atividade econômica, que foi alcançado ainda em dezembro de 2021."

Presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade.

"Entendemos que o Banco Central perdeu uma ótima oportunidade que poderia funcionar como um estímulo para a criação de empregos, a produção e o consumo. Tivemos desnecessárias altas e seguidas dos juros, que seguem em patamares estratosféricos. Vale ressaltar que juros altos seguem na contramão da produção, do crédito, do consumo e da geração de empregos", disse na rede social.

Miguel Torres, presidente da Força Sindical


A decisão pela manutenção ocorre num cenário em que a inflação vem cedendo e os indícios de uma recessão mundial ficam cada vez mais evidentes. Entretanto, os núcleos permanecem pressionados, com a atividade interna robusta, e as expectativas de inflação para 2023 e 2024 ainda desancoradas. Nessa conjuntura é esperado que a taxa de juros real permaneça no campo contracionista por um longo período, tornando a tomada de crédito e as dívidas indexadas a Selic mais caras, pressionando o orçamento de famílias e empresas."

Presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn.