"Um dos nossos maiores desafios é ter autonomia, financeira e social." Essa é a reivindicação principal das pessoas com alguma deficiência física, segundo o fisioterapeuta e professor de massoterapia Roberto Luiz Oliveira. Em uma conversa no 11º andar do edifício Dabdab, no centro de Porto Alegre, onde está localizada a sede do Projeto para Deficientes Rumo Norte, o professor conta com entusiasmo todos os benefícios desse tipo de iniciativa. "A formação profissional é um espaço de convívio social, de aprendizado e de autoestima", define.
De acordo com o Artigo 34, previsto no Estatuto da Pessoa com Deficiência, "a pessoa com deficiência tem direito ao trabalho de sua livre escolha e aceitação, em ambiente acessível e inclusivo, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas." Apesar disso, o professor destaca que essa ainda é uma realidade distante que precisa de luta constante. "Muitas empresas pagam um funcionário com deficiência para ficar em casa, só para preencher a vaga. Não queremos isso, queremos a possibilidade de construir uma vida digna com trabalho e autonomia", afirma ele. E é justamente isso que o projeto Rumo Norte pretende possibilitar.
O ministrante do curso de massoterapia é cego e acredita que a formação na área, que hoje conta com onze alunos, é um "trampolim" para que o deficiente se sinta capaz de correr atrás do que quer e tenha uma segunda profissão. "Já tive aluno que abdicou de um benefício que o governo oferece para deficientes que não trabalham, porque acreditava no seu potencial para desempenhar sua atividade. Além disso, a massoterapia é uma segunda profissão, que pode ajudar em caso de desemprego", pondera. Os cursos também são uma forma da pessoa aprimorar habilidades sociais, já que, conforme explica Oliveira, muitas famílias costumam "prender" os indivíduos com alguma deficiência em casa, isolando-os da sociedade.
Ele também elogia a formação de quadros profissionais da instituição, que preza por contratar professores e funcionários com deficiência. "Quando a pessoa adquire a deficiência ao longo da vida, por exemplo, como foi o meu caso, ela passa por um processo de luto. Cada um tem seu tempo para superar isso. É preciso ter coragem. Aqui, nós acolhemos todo mundo, porque nossa equipe também é formada majoritariamente por pessoas com alguma deficiência", relata.
Para ganharem o certificado de massoterapeuta, por exemplo, os alunos precisam realizar estágio e atender pelo menos oitenta pessoas. Pessoas com deficiência podem realizar a massagem de forma gratuita, mas os alunos também atendem o público em geral, e as massagens custam entre R$ 20 e R$ 30. "Realizamos dois métodos. A massagem rápida, que é na cadeira, aquela que você em shoppings, sabe? Também temos a completa, método sueco, em que aplicamos creme e o cliente fica deitado na maca", explica o fisioterapeuta.
Lígia Leal do Santos sofre de uma doença rara, a Neuromielite óptica, que a deixou cega há 15 anos. Ela está fazendo o curso desde o início da pandemia e agora começou o estágio em massoterapia. "Não pensei que eu fosse gostar tanto! É uma sensação muito boa fazer a massagem e escutar da pessoa que ela está se sentindo melhor, que aliviou a dor", considera. Ela ressalta que é surpreendente ver toda a potencialidade de seu trabalho, porque, quando iniciou, não tinha pretensão. "Comecei para ocupar meu tempo, porque ficava em casa sem fazer nada. Fiz sem esperar nada em troca e agora vejo grandes resultados. Não vejo a hora de fazer massagens fora daqui também", conta.
Sobre o Projeto Rumo Norte
Há duas décadas mantido pelas Irmãs Escolares de Nossa Senhora (IENS), mesma instituição do tradicional Colégio Santa Inês, o projeto Rumo Norte, sob a coordenação pedagógica de Liziane Behrenz da Silva, oferece cursos e oficinas gratuitos, além da massoterapia, de informática, portaria, telemarketing, artesanato, legislação para concurso, braile e libras (para deficientes e não-deficientes). Além disso, o projeto também oferece apoio psicológico e de mobilidade para quem precisa. Segundo a coordenadora Irmã Magda Izabel dos Reis, a IENS está em mais de 30 países, sendo seis na América Latina "com o objetivo de promover inclusão social e inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho". Antes da pandemia pelo menos 200 pessoas passavam por ano pelo projeto em Porto Alegre.
Para agendar uma massagem no Rumo Norte ou buscar mais informações sobre o projeto, é só entrar em contato por meio do telefone (51)3013-2928 ou (51) 3225-91259