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Turismo

- Publicada em 28 de Julho de 2022 às 09:00

Trilhas em morros de Porto Alegre se tornam alternativa para economia sustentável e preservação

Os pacotes da Guatá variam entre R$ 50 e R$ 125

Os pacotes da Guatá variam entre R$ 50 e R$ 125


Bárbara Lima/ Divulgação/ JC
Bárbara Lima
É possível virar turista na própria cidade? Para a maioria dos moradores de Porto Alegre e da Região Metropolitana, que conheceram pela primeira vez o Morro São Pedro, na Zona Sul da Capital, no último domingo (24), a resposta é sim.
É possível virar turista na própria cidade? Para a maioria dos moradores de Porto Alegre e da Região Metropolitana, que conheceram pela primeira vez o Morro São Pedro, na Zona Sul da Capital, no último domingo (24), a resposta é sim.
 
Neste dia, o grupo viu que não é preciso sair da cidade para fazer uma trilha de 14 km, cheia de aventuras, no estilo mata fechada, e que conta com mais de 854 espécies preservadas de flora e 784 de fauna, segundo o Plano de Manejo do Refúgio de Vida Silvestre São Pedro (Revis), além do encontro especial de dois biomas: pampa e mata atlântica e das 271 nascentes do morro, que abrangem os arroios do Salso, Lami e Fiuza. 
A proposta, segundo o geógrafo e guia turístico da aventura, Geovane Brandão, é que as pessoas se apropriem de regiões como essa do Revis que, através do Decreto Municipal nº 18.818 de 16 de outubro de 2014, virou uma Unidade de Conservação. “Quem conhece, preserva. Nosso objetivo é mostrar que dá para fazer um trabalho legal, que gira a economia, cuidando da natureza”, reflete. E foi com esse propósito que nasceu, no ano passado, a Guatá, que significa “caminhar” em Guarani. 
“Tudo começou quando comprei meu fuscão. Em Três Coroas, no interior, eu acampava. Daí comecei a fazer trilhas e não parei mais. Ano passado, com a pandemia, as pessoas começaram a procurar mais esse tipo de atividade ao ar livre. E aí pensei: por que não aqui em Porto Alegre?”, conta.
A partir de então, quase todos os fins de semana, ele junta grupos de 10 a 20 pessoas para conhecerem morros da Capital, como o Tapera, na Zona Sul, onde é possível aproveitar um belo pôr-do-sol, como o São Pedro, que a reportagem acompanhou, e o morro da Ponta Grossa, também na Zona Sul da Capital. Dos passeios oferecidos pela Guatá, vale destacar que a trilha do Morro São Pedro é a que apresenta maior dificuldade. Os pacotes para este passeio custam entre R$ 115,00 a R$ 125,00, mas existem trilhas por R$ 50.
Um dia inteiro de experiência
As caminhadas, conforme relatam os participantes que já participaram de outros circuitos com a Guatá, têm ido muito além de uma atividade desbravadora que faz pequenas pausas para apreciar figueiras e pau-desabão (ameaçado de extinção), ou que busca, a partir dos sons da floresta, encontrar a presença de bugios-ruivos (ameaçado de extinção), ou de gatos-maracajá.
É que no convívio, que dura, no mínimo, seis horas, os companheiros na aventura acabam estreitando laços e, ao final, já exaustos, com alguns tombos e tropeços, desfrutam de uma refeição especial. “Oferecemos esse momento saboroso para que a experiência seja completa. Queremos que as pessoas possam fazer tudo com calma”, explica Geovane.
 
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 Durante o trajeto, Wilbor Xavier, condutor de trilhas que acompanha Geovane, aproveita paradas de descanso para explicar a presença de algumas plantas e complementar a experiência, resgatando o seu uso pelos indígenas. “As pessoas viajam longe para fazer esse tipo de atividade, simplesmente porque não sabem de toda essa natureza que temos aqui”, considera.
A programação tem mostrado efeito em satisfazer os caminhantes, pois, no dia seguinte à atividade, os comentários de agradecimento pela experiência da trilha do Morro São Pedro se multiplicavam no grupo de WhatsApp . “Obrigada, de coração, a todos. Foi maravilhosamente intenso. Todos os músculos e articulações funcionando normalmente e mega inspirada para a aula de hoje”, escreveu a professora universitária Lúcia Dillenburg.
 
Ponto de partida: Econsciência, primeiro passo para um projeto possível
Antes de começar a expedição no Morro São Pedro, os participante se encontram no espaço Econsciência, uma propriedade privada destinada a preservação ambiental do local, onde recebem caneleiras protetoras contra contusões ou picadas de insetos e peçonhentas e fazem uma rápida interação do grupo.
O Econsciência é um projeto do empreendedor Felipe Viana, dono da conhecida loja Banana Verde, no Bom Fim. A cabana do Econsciência possui diversas soluções sustentáveis para questões como esgoto e construção civil, além de um espaço para realização de encontros, retiros e oficinas.
Dentro do território que compreende o local, estão mais de 142 hectares de mata atlântica, onde uma trilha acessível está sendo desenhada. “Estamos criando uma estrutura para que famílias possam visitar o local. Queremos abrir o espaço para outras agências de turismo também”, comenta.
É nesta cabana que os trilheiros, depois de 14 km e, aproximadamente seis horas de desbravamento pelo Morro São Pedro, podem desfrutar de um creme vegano ou outra refeição inclusa no pacote da experiência. Faz parte da programação do dia, ainda, uma oficina de pão de fermentação natural.
Felipe ressalta que o lugar, hoje tomado pela natureza, já foi um descampado por conta da atividade bovina na região. “Setenta anos atrás isso aqui não existia. Mas quando adquirimos a propriedade foi com o intuito de deixar que a natureza fizesse seu papel e agora nosso objetivo é preservar. Se depender da gente, vai continuar assim”, reflete.
Uma vista deslumbrante entre o encontro de dois biomas: pampa e mata atlântica
Um dos grandes diferenciais do Morro São Pedro está no encontro de seus biomas, do pampa e da mata atlântica. Durante o percurso de 1600 hectares, é como se o participante estivesse percorrendo locais completamente diferentes. Isso porque, por diversas vezes, o grupo adentra a mata atlântica, onde há predominância de árvores com raízes mais superficiais, altas e com copas maiores.
Depois, quando a luz do sol penetra com mais facilidade a vegetação, é melhor reforçar o protetor solar, pois está na hora da caminhada no bioma pampa. É aí que entram as espécies de raízes profundas, mas de estatura menor, mais resistentes a um terreno um pouco mais seco.
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No pico do morro, a 280 metros de altura, é possível ter uma vista quase geral de Porto Alegre, com destaque para a Reserva de Itapuã, o Lago Guaíba, o Morro da Tapera e da Ponta Grossa. Larissa Wenner, servidora pública, afirma que ficou sabendo da trilha por meio do marido, que já havia feito outro trajeto no local. “Gostei que é um passeio acessível, você não precisa gastar tanto dinheiro para ter o contato com a natureza e uma vista assim”, reflete.
Ela conta que já conhecia outros morros em Porto Alegre, mas que o interesse cresceu com a pandemia. “Começamos a procurar locais, ter algo assim aqui na cidade é muito bom”, fala.
Já o analista de computação Paulo Weyne, acostumado a fazer trilhas, demonstra certa preocupação. “O que me deixa triste é saber que lugares assim são cada vez mais escassos”, reflete. O casal de professores da Ufrgs, Lúcia Dillenburg e Luis Mauro Rosa, eram iniciantes, mas saíram completamente apaixonados pela experiência.
“Eu trabalho com plantas em laboratório e estava sentindo falta do contato dessa forma”, ressalta Lúcia. Luis, por sua vez, aproveitou para levar seus equipamentos e tirar fotos da paisagem.
Volta por caminhos diferentes, desafios e superação
Quem opta por fazer o passeio pode contar com trilhas diferentes. “Minha preocupação é que a gente não faça o mesmo trajeto na ida e na volta”, revela Geovane. Por isso, para que tudo saia conforme o planejado, Geovane precisa refazer toda a trilha antes do passeio em grupo, a fim de ver como está o trajeto. Mas ele costuma gostar. “Tem vezes que venho sozinho, o corpo precisa disso.”
Durante a volta até o espaço Econsciência, os trilheiros devem cuidar com a passagem de motos, que também fazem trilha no local, com a diferença de que, segundo placas sinalizadas pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAM), a prática é proibida nas áreas.
“O que acontece é que, para preservar, é preciso interferir o mínimo possível. É claro que caminhar também interfere, mas muito pouco, o solo consegue se recuperar. Agora, quando você pensa em uma moto é diferente. Elas deixam crateras no solo, que, com a chuva, começam um processo de erosão”, explica o guia turístico.
E é nesse processo de erosão, onde existem buracos que dificultam a caminhada, que o grupo reforça o senso de comunidade e de parceria. “A trilha é puxada. A gente cansa, mas é um cansaço que faz bem para mente e para o corpo”, reflete Geovane.
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