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Qual é o futuro da fábrica da general Motors em Gravataí, no Rio Grande do Sul, considerada a mais produtiva, digitalizada e moderna da marca na América do Sul e uma das mais avançadas no mundo?
No futuro, a expectativa é pela possibilidade de receber uma plataforma de carro elétrico da GM. O vice-presidente da montadora na América do Sul, Marcos Munhoz, avaliou que a mudança ainda depende de condições de legislação do País e diz que a inovação vai chegar, talvez com prazo maior.
A General Motors foca a escalada da produção da nova plataforma de veículos na fábrica em Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA). O segundo modelo da família, o hatch, foi lançado nesta quarta-feira (27). Um ato simbólico marcou a inauguração da plataforma global, que teve investimento de R$ 1,4 bilhão desde 2017.
Pelo ritmo da produção, que chegou a 3,991 milhões de unidades em 19 anos de operação até a manhã dessa quarta-feira, a fábrica deve atingir a marca de 4 milhões de carros produzidos na planta gaúcha na próxima semana. Os 9 mil veículos que faltam devem ser rapidamente alcançados: a fábrica monta 65 carros por hora, em três turnos de trabalho. São quase 1,4 mil unidades ao dia. No ano, a capacidade é de 350 mil veículos, acima das 330 mil do complexo antes do novo investimento, que marcou a terceira ampliação.
O diretor-geral da fábrica, Luis Mesa, afirma que a unidade tem a maior produtividade de uma planta da GM no mundo, considerando a entrega em apenas uma linha de montagem, que é a característica da unidade gaúcha.
"Considerando apenas uma linha de produção, é a maior produtividade do mundo", informou Mesa, que acompanhou a implantação e o desenvolvimento da nova plataforma, que serve de exportação para a América do Sul e deve enviar unidades a mercados em outros continentes. Na América do Sul, é a maior em produção. A unidade também ganhou índice muito maior de digitalização e operação de robôs.
Mesa não quis dizer o dia que a montadora vai bater os 4 milhões, fazendo suspense. "É surpresa", despistou o engenheiro colombiano. A marca estreou a produção gaúcha para o mercado em julho de 2000. A primeira expansão foi anunciada em 2004 e a segunda, em 2010. A atual plataforma marcou o encerramento da fabricação do antigo Onix e do Prisma em Gravataí, que passaram para a planta em São Caetano do Sul (SP). São pouco mais de 19 anos de produção no Centro Industrial Automotivo de Gravataí (Ciag), que, em 2020, completa duas décadas.
A GM comemora que a versão sedã lidera as vendas, com 7 mil unidades em outubro, na categoria. "O Onix está há 52 meses consecutivos como o mais vendido do País", disse o vice-presidente da montadora na América do Sul, citando que os modelos estão maiores - mesmo o hatch, e com tecnologia de "carros de segmentos superiores que poucos têm". Sobre o recall, Munhoz considera "que é página virada". "A lição que fica é a atitude. Tomamos uma atitude rápida", afirmou o vice-presidente.
A falha ocorreu no software que gerencia o aquecimento do motor. Houve um caso de um veículo que incendiou. O recall foi anunciado no começo deste mês. O Jornal do Comércio apurou que o carro pegou fogo porque o motorista não teria parado quando o alerta de aquecimento surgiu no painel. Para prevenir futuros problemas, a montadora programou para o veículo parar quando há elevação da temperatura.
A chegada da nova versão deve impulsionar mais as vendas. Munhoz cita que sete de cada 10 unidades comercializadas são do hatch. O preço é mais em conta, e o perfil de uso muda. O executivo voltou a descartar que a marca possa voltar ao segmento de entrada, de carro popular, como ocorreu com o Celta, primeiro carro fabricado em Gravataí.
"Não volta. A experiências não foram boas, e o perfil de uso de carro no Brasil exige mais espaço", justificou. A GM também estreia a venda do carro elétrico, o Bolt, que teve todo o primeiro lote, de 75 unidades, vendido e chega ao Brasil em janeiro.
'É a maior pprodutividade do mundo', diz diretor da fábrica gaúcha da GM
Diretor aponta a preparação das equipes para lidar com uma plataforma mais tecnológica
LUIZA PRADO/JC
Quando a plataforma de veículos da General Motors em Gravataí terá modelos elétricos? A pergunta é inevtiável em meio a mudanças que estão em ebulição em unidades pelo mundo, da marca e de concorrentes. A direção da GM no Brasil aponta a definição de legislação na área e incentivos como fatores que devem acelerar ou não a introdução da mudança. Hoje plataformas elétricas só as importadas. Mas a planta gaúcha de carros se habilita a ser uma das candidatas a desenvolver os primeiros modelos pelo alto nível de tecnologia, automatização e cultura digital. O diretor do Complexo Industrial Automotivo da GM de Gravataí (Ciag), Luis Mesa, quarto engenheiro de carreira da montadora a ocupar o posto desde a inauguração da fábrica no fim da década de 1990, detalha a seguir os atributos que fazem da unidade a mais eficiente do mundo para uma linha de produção de carros.
Jornal do Comércio - O que é esse estágio da fábrica?
Luis Mesa - É um momento emocionante. É uma nova geração de veículos que assegura a continuidade da era de crescimento. Não se trata apenas de produto, mas também de ter pessoas de qualidade. A fábrica tem uma vantagem competitiva enorme, diria que é a maior: as pessoas têm paixão por atuar nela.
JC - O que esta plataforma nova do Onix traz de avanço sobre a anterior que foi base para as outras ampliações?
Mesa - É um carro muito mais estruturado, de grande avanço tecnológico, não só do ponto de vista de conectividade e outras soluções, mas do ponto de vista de fabricação, pois é uma estrutura mais fácil de administrar. Embora o carro seja muito mais complexo pela quantidade de equipamentos embarcados, foi desenvolvido de um jeito que permite ser uma manufatura simples. Para a nossa planta, este detalhe é muito importante. Não necessariamente o modelo ser mais tecnológico, desenvovlido e avançado significa ser mais complexo. Nosso time ao desenvolver o produto conseguiu incorporar essas duas qualidades. O nível de tecnologia implica em equipamentos maiores dentro do carro, mas se conseguiu ter processos mais eficientes. Nossa fábrica é de alto volume, produzimos mais de 65 carros por hora. Para que isso seja possível, a manufatura precisa ser administrável, que permita eficiência. Hoje conseguimos alto nível de qualidade e produtividade para um veículo com tecnologia avançada para o cliente.
JC - Quanto o último ciclo de investimentos elevou a robotização da fábrica?
Mesa - O veículo incorporou muita tecnologia nova. Na área de solda, onde é feita a carroceria, são mais de 350 robôs novos. Antes eram 450 robôs somente nesta área. Na pintura, incorporamos muitos processos automáticos de aplicação de "siller". Na área de assemble, onde montamos os componentes do carro, adicionamos muitos avanços para montar o cockpit, motor e outros componentes que eram montados fora. Também há muita tecnologia na parte elétrica e de segurança. O Onix é um carro com alto nível de segurança. Isso exigiu mais tecnologia no carro para garantir esse patamar. Também incorporamos mais processos de controle de qualidade mais evoluídos. Funcionários da fábrica foram enviados para fazer treinamentos em equipamentos de manutenção nas unidades dos Estados Unidos e do México. Visitamos outras plantas pelo mundo, trouxemos técnicos mais evoluídos para treinar nossas equipes. Era um desafio enorme, mas a motivação era grande também.
JC - Como a unidade de Gravataí se situa frente a outras da GM pelo mundo em nível de robotização?
Mesa - É possível comparar com as maiores do mundo sim, como a de Tijuana, que lançou a nova pick-up nos EUA. A tecnologia e os equipamentos da fábrica de Gravataí estão no nível mais elevado de unidades da GM no mundo. É a mais avançada na América do Sul e está entre as cinco mais avançadas no mundo.
JC - O número de carros montados por hora tem subido?
Mesa - Quando a planta de Gravataí começou, produzia entre 20 e 30 carros por hora. Em 20 anos, evoluímos para 65 carros por hora. Considerando apenas uma linha, é a maior produtividade do mundo. É a única que fabrica este volume em apenas uma linha. Há plantas que têm maior volume por hora, mas com duas linhas de produção. A fábrica gaúcha tem capacidade para fazer 350 mil carros por ano. Antes da terceira ampliação, a capacidade era de 330 mil unidades por ano.
JC - O que é mais complexo nessa operação?
Mesa - A área mais complexa é na solda, pois os equipamentos e a arquitetura do carro são completamente diferentes. Tem 70% de processos comuns. Essa transição começou em 2017.
JC - Houve expansão física da fábrica?
Mesa - Foi montada uma área completamente nova de motores e para cockpit. Também incoporramos a inversão de plástico. Pela primeira vez fazemos toda a injeção de para-choque traseiro e dianteiro dentro da planta. Antes isso era feito por sistemistas fora da planta, que entregavam pronto. Agora é tudo automático, com auxílio de robôs.
JC - Qual é o perfil de mão de obra acompanha essas áreas?
Mesa - Temos técnicos de manutenção muito mais evoluídos, capacitados há dois anos. Eles foram aos EUA e outras unidades fazer formação.
JC - Quanto a fábrica tem de operação digital, com processos inseridos no conceito de indústria 4.0?
Mesa - Não temos um percentual, mas temos muita coisa implementada, com salas de comando e controle integradas que conseguem monitorar todas as áreas de produção. As pessoas não fazem mais trabalhos manuais. Estão munidas de sensores e tablets, pois fazem tudo de forma automática no posto de trabalho. Vamos avançar mais, pois é o futuro. Olhando o indice de automação é de 100% na solda e de 95% na pintura. O setor de injeção, implantado agora, é 80% digitalizado. Na estamparia, o índice é de 60% a 70%.
Empresa e governo do Estado analisam viabilidade de usar porto e hidrovia
O governador gaúcho, Eduardo Leite, esteve no complexo da GM em Gravataí e comentou que espera novos investimentos no futuro. A empresa norte-americana deve definir, até 2024, um outro ciclo de aportes, que poderá contemplar a planta gaúcha. "Não tem nenhum investimento agora, mas tenho convicção que, em breve, a montadora vai demandar investimentos e queremos dar todas as condições para a empresa fazer aqui no Estado", aposta Leite.
"A ideia é criar todas as condições para que o Estado seja foco de investimentos da General Motors. Em quase 20 anos de fabricação, já houve ampliação da unidade e, por isso, todas as reformas que estamos empreendendo no Estado são para a GM e para outras empresas voltarem a olhar para o Rio Grande do Sul como acolhedor para seus aportes", destacou Leite.
Enquanto isso, governo gaúcho e GM conversam sobre como viabilizar o canal logístico da hidrovia, vindo de Rio Grande até a Região Metropolitana. A via foi utilizada para trazer componentes para construir a nova plataforma. A alternativa poderia ser usada para importar autopeças, que entram por outros hubs logísticos nacionais.
A operação depende de questões ligadas a custos tarifários e também à condição da hidrovia. O terminal de Santa Clara, que é privado e operado pelo Tecon e fica no Polo Petroquímico de Triunfo, foi usado na chegada de maquinário para a ampliação. Leite também diz que o Estado tentará recuperar a importação de carros da marca que são produzidos no exterior e que hoje entram pelo porto de Itajaí (SC).
A importação era feita por Rio Grande. Em 2018, a GM trocou para o estado vizinho, depois de conseguir incentivo fiscal. O contrato foi renovado até 2020, após fracassar na tentativa de obter vantagens no Rio Grande do Sul. O vice-presidente da GM na América do Sul, Marcos Munhoz, aponta que a busca de PPPs deve garantir condições para viabilizar a hidrovia.