Quando adquiriu a gaúcha Mercúrio, no início de 2007, a gigante holandesa de transporte TNT certamente não projetou os efeitos reais da sua chegada ao negócio. Até então familiar e respeitada no mercado, a Mercúrio não adaptou-se à mudança de cultura e viu, aos poucos, seus resultados minguarem. A solução encontrada foi tão vitoriosa quanto surpreendente: chamar de volta a antiga dona, a família Fração, para reestruturar o negócio. Já reorganizada, a agora TNT Mercúrio recuperou terreno e tem como meta crescer 10% em 2015.
"Antes, os donos da Mercúrio falavam e negociavam diretamente com os proprietários das indústrias, o que se perdeu com a profissionalização da diretoria. Isso teve impacto, e a empresa perdeu muito em termos de receita e de clientes", conta Airton Levi, gerente regional da TNT Mercúrio para o Rio Grande do Sul. A mudança geraria desafios internos, com a saída de muitos funcionários, quase todos com mais de 10 anos de casa, como o próprio Levi. Nesse cenário, a solução encontrada pela controladora, no fim de 2010, foi, no mínimo, peculiar. A presidente global da companhia à época veio ao Brasil negociar com os antigos donos para o que seria, inicialmente, um acordo de consultoria. No fim, o que aconteceu foi algo parecido como uma "troca de controle". Os diretores Luiz Orlando Fração (comercial), Alcir Fração (operações) e Gilberto Fração (RH) reassumiram seus cargos.
O último presidente da Mercúrio, Ademir Fração, também retornou, dessa vez como conselheiro do presidente. "Com total autonomia, até o início de 2013, conseguiram atingir a meta de reestruturar a empresa, trazendo de volta alguns funcionários e reconquistando clientes perdidos", comenta Levi, também convidado pelos executivos a retornar. Quando deixou a empresa, a família ainda participou da escolha de seus sucessores.
Nos eixos, a TNT Mercúrio ostenta, atualmente, ser a única transportadora a atender a 100% do território nacional, resultado da aquisição da Expresso Araçatuba. Com atuação no Centro-Oeste e no Norte, a transportadora complementou a atuação. Em 2014, a subsidiária brasileira voltou a crescer, fechando o ano com faturamento na ordem do R$ 1,2 bilhão.
Procurado, Gilberto Fração afirmou não poder dar detalhes sobre a atuação da família por conta de uma cláusula de confidencialidade no acordo com a TNT.
Empresa investe mesmo em momento de crise
A TNT conseguiu consolidar o que se propôs a fazer no Brasil, que é oferecer solução logística de transporte em todos os segmentos viáveis, nos modais rodoviário e aéreo, tanto nacional quanto internacionalmente. No fim do ano passado, a empresa afirma ter investido R$ 37 milhões em renovação de frota e novas tecnologias, como o acompanhamento on-line pelo cliente da localização de cada volume transportado. "Estamos investindo para nos prepararmos para o crescimento no País, mesmo em um mercado pouco propenso", diz o gerente regional da empresa, Airton Levi.
Berço da companhia, o Rio Grande do Sul ainda atende, atualmente, a 11% do faturamento da transportadora, com 13 filiais e mil funcionários diretos no Estado. Os principais clientes da transportadora, que atua apenas com carga fracionada, são indústrias farmacêuticas, de confecção, calçados e autopeças, entre outros segmentos.
"Estamos trabalhando forte para recuperar a carteira de clientes que perdemos, ainda que o nível de clientes novos compense. Nosso foco é na qualidade do serviço, em mostrar que temos eficiência", contextualiza Levi, que percebe maior importância dos pequenos municípios nas entregas da companhia, o que atribui à capilaridade das 120 filiais pelo País.