A compra da operação acadêmica da Faculdade Rio-grandense (Fapa) pela Laureate do Brasil, anunciada nessa quinta-feira, agrega capacidade para quase dobrar as matrículas do grupo privado multinacional no Estado. Além disso, coloca a instituição de investidores americanos e um dos maiores players do emergente e lucrativo ensino privado brasileiro, no caminho de potenciais clientes para cursar Ensino Superior (ES) residentes na zona Leste e Norte da Capital e em quatro das principais cidades do eixo metropolitano - Alvorada, Cachoeirinha, Gravataí e Viamão. O foco é o estudante de famílias da classe C.
Oferta de financiamento federal pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e vagas do Prouni ajudaram a expandir matrículas na rede privada, que somava 5,3 milhões dos 7 milhões de universitários de graduações no País em 2013. Hoje, apenas 17% da população entre 18 e 24 anos frequenta o ES. A meta do Plano Nacional de Educação (PNE) é chegar a 33% até 2020. A Fapa soma carteira de 3 mil matrículas, número que reduziu nos anos recentes. Chegou a ter 5 mil alunos. Atualmente, apenas o turno da noite tem aulas. São 150 docentes.
A evasão e pouca atratividade dos cursos (quatro dos seis são de licenciatura) determinaram a venda. Na noite dessa quinta-feira, estudantes e funcionários seriam comunicados da mudança de comando. O diretor administrativo e um dos donos da Fapa, Iron Müller, não comentou valores envolvidos e garantiu que não havia decisão sobre venda antes da conversa com a Laureate.
Segundo o CEO da Uniritter e principal executivo da Laureate no Rio Grande do Sul, Eduardo Mendonça, a negociação começou há um ano. “Foi uma compra combinada com uma grande aliança”, definiu Mendonça, confirmando que a região onde fica a Fapa integra estratégia de expansão. O CEO negou que a Rede Laureate do Brasil teria interesse em comprar o IPA, centro universitário metodista. Também não comentou futuras aquisições no Estado.
A rede Laureate soma no País mais de 182 mil alunos. “A Fapa é uma instituição com potencial, situada em uma região que concentra 550 escolas de Educação Básica, e que vive forte crescimento imobiliário”, justificou Mendonça. O CEO descartou eventual endividamento na atual operação comprada e disse que, neste semestre, serão definidos novos cursos e como será o quadro de pessoal.
Cursos da saúde, como fisioterapia e enfermagem, podem ser levados à Fapa em 2015. A área, com sete modalidades na Uniritter, é prioritária e foi agregada pela Laureate na Uniritter. Medicina, que está no plano no Estado, depende de aval do MEC.
Hoje, a Laureate soma 14 mil alunos entre os três campi da Uniritter (dois em Porto Alegre e um em Canoas) e 6 mil com Fadergs, só Capital. Pela estrutura física existente na sede da Fapa, a aposta é de atender até 15 mil alunos. O negócio, cuja cifra não foi divulgada pela Laureate, não inclui os imóveis onde funciona a faculdade gaúcha, numa ampla área na avenida Manoel Elias, é a terceira aquisição da Laureate desde 2008.
A Esade, cujo nome mudou para Fadergs na gestão do grupo multinacional, foi a porta de entrada no Estado. Em 2010, foi a vez da Uniritter, centro universitário com mais de 40 anos e um dos mais tradicionais na rede privada confessional do Estado.
O centro universitário será o operador da nova integrante da família Laureate, levando à Fapa cursos existentes e novos que poderão ser criados no limite da autonomia da Uniritter, esclareceu o CEO. O atual reitor da Uniritter, Telmo Rudi Frantz, informou que acabará o vestibular como Fapa, com 80% dos 3 mil alunos matriculados em Administração e Ciências Contábeis.
Os novos ingressos, a partir de janeiro de 2015, ocorrerão para seleções ofertadas pela Uniritter. Na prática, Fapa vira o quarto campus do centro universitário. “Quem está cursando as graduações na Fapa poderá concluir ou optar por se transferir à Uniritter”, citou Frantz.