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POLÍTICA MONETÁRIA

- Publicada em 28 de Fevereiro de 2014 às 00:00

Moeda de um centavo resiste em circulação


Jornal do Comércio
Quanto tempo faz que você não vê ou usa uma moeda de um centavo? Embora não sejam mais fabricadas desde 2004, elas permanecem em circulação e, conforme apurou o Jornal do Comércio junto ao Banco Central, não há previsão de que sejam retiradas do mercado. São mais de 1,2 bilhão de unidades, que correspondem a um valor superior a R$ 12 milhões.
Quanto tempo faz que você não vê ou usa uma moeda de um centavo? Embora não sejam mais fabricadas desde 2004, elas permanecem em circulação e, conforme apurou o Jornal do Comércio junto ao Banco Central, não há previsão de que sejam retiradas do mercado. São mais de 1,2 bilhão de unidades, que correspondem a um valor superior a R$ 12 milhões.
Mas, nas transações diárias, moedas dessa quantia praticamente inexistem. Um termômetro revelador da baixa circulação são os supermercados, onde tanto clientes quanto os caixas já se habituaram a arredondar valores. “Não vale nem mais as balinhas”, comenta a consumidora Lúcia Musskote ao passar as compras no caixa.
“Faz muito tempo que não vejo uma moeda de um centavo”, diz Silvio Pineda, ao pagar a conta do supermercado com cartão de crédito. Ele não reclama do troco nas compras, assegurando que o varejo tem sido coerente ao arredondar valores nas transações feitas em dinheiro. No caixa, a ausência de moedas de R$ 0,01 e a comprovação da atendente, que, assim como os clientes, não dispõe da quantia há tempos, mostram o desuso do numerário de menor valor da nossa economia. 
Essa não é condição ideal para o varejo, argumenta o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo. “É um dinheiro que é de direito do consumidor e o varejo fica desconfortável em não oferecer esse troco”, detalha. Longo explica que nem sempre é possível oferecer produtos a preços redondos, principalmente porque muitos deles são vendidos fracionados, como frios, exemplifica. “Um queijo pode ser vendido por R$ 10,00 o quilo, mas se o cliente comprar 198 gramas, o preço será R$ 1,98”, exemplifica. Longo reforça que o fato de as moedas não serem mais fabricadas gera impasse. “Elas deixaram de ser produzidas porque a fabricação é cara, mas a necessidade existe e sempre vai existir”.
Para o economista da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (FEE), Róber Ávila, o que justifica o desuso de uma moeda é o processo de perda de valor, causado, especialmente, pela inflação. Nesse sentido, o fato de apenas recentemente as moedas de R$ 0,01 perderem expressividade no mercado comprova a estabilidade da inflação, a partir do Real. “Com a inflação, a moeda vai perdendo valor e isso era algo muito comum no período de hiperinflação”, explica. O Real, vigente no País há quase 20 anos, tem mantido o processo inflacionário sob controle, pontua, lembrando que, antes da mudança monetária, a inflação no País alcançava percentuais de quatro dígitos, muito superior ao atual um dígito do Real.

Para economistas, inflação não é preocupante, mas não pode ser única meta

Lançado com o mote “moeda forte”, o Real nunca correspondeu de fato ao lema, avaliam os economistas Fernando Ferrari Filho, professor da Ufrgs, e Róber Ávila, da FEE. O conceito de moeda forte na economia, explicam, vai além da estabilização da inflação e ainda parece distante da realidade brasileira. “Uma moeda forte tem que ter poder de compra no mercado internacional”, define Ferrari Filho. Essa condição pressupõe colocar o Real no patamar de moedas como o dólar e o euro, que são transacionadas no mercado internacional.
“Quando o Real nasceu, com certeza, não era uma moeda forte, até porque não era conhecida no mercado. Hoje, ela está um pouco mais expressiva, mas ainda tem relevância pequena no cenário internacional, com poucos acordos firmados na moeda brasileira”, esclarece Ávila.
Do ponto de vista da estabilidade, é inquestionável o salto do País ao instituir o Plano Real. “A reforma monetária e a introdução do Real trouxeram para o mercado e para os agentes econômicos alguma credibilidade e estabilidade no poder de compra dos seus ativos, como salários e lucros”, dimensiona Ferrari Filho, que pondera, no entanto, que um plano de estabilização econômica carrega pressupostos mais abrangentes, que não têm acompanhado a preocupação mantida com o controle da inflação.
“Um plano de estabilização econômica não é só conter a inflação. É também ter equilíbrio no balanço de pagamentos, equilíbrio fiscal e uma taxa de crescimento, senão pujante, pelo menos com uma tendência de comportamento relativamente estável e que não tenha volatilidade”. O economista da FEE exemplifica a condição de crescimento instável do País contrapondo os resultados obtidos em 2010, com expansão de 7,5%, e 2012, de 1%. “Não dá para ter essa dinâmica de crescimento. Tem que ser estável.” Ferrari Filho argumenta que existe uma preocupação excessiva do governo federal e do Banco Central para manter a inflação sobre controle, enquanto outros aspectos importantes são negligenciados. “Não há preocupação central com o crescimento econômico, com o desequilíbrio das contas externas, com a taxa de câmbio que está fora do lugar, e assim por diante. Ou seja, nesse particular, em prol da estabilidade monetária, se negligencia a política macroeconômica para fazer a economia crescer”.

Início do plano monetário voltou-se para o fator psicológico do brasileiro

A Unidade Real de Valor (URV) completa, nesta sexta-feira, 20 anos. Foi o primeiro passo da transição do Cruzeiro Real para o Real e teve papel importante para trazer credibilidade à nova moeda e, principalmente, para orientar a população sobre uma mudança impactante: a moeda brasileira não sofreria mais flutuações diárias, como ocorria na época.
Habituados à inflação anual de quatro dígitos, como a registrada em 1993, ano em que o  Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou 2.477,15%, os consumidores passaram a se acostumar com uma moeda que oscilaria menos, como propunha o Plano Real, vigente a partir de junho de 1994, graças a URV, que passou a valer em 1 de março de 1994.
“A URV teve mais um papel psicológico, porque muito da estabilidade monetária tem relação com os hábitos das pessoas”, explica o o economista da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (FEE), Róber Ávila.
Nos supermercados, os preços eram indicados em quantidades de URV, índice que servia como referência da unidade de valor da moeda. “A URV teve o papel de quebrar o hábito de variação de preço diariamente”, detalha Ávila. Em 1 de março, uma URV valia CR$ 647,50. Um produto com preço de CR$ 1.295,00, valia, então, 2 URV’s, que não existia em papel, servia como parte escritural da moeda corrente, apenas.
Foi uma transição acertada, pontua o economista da FEE. Ávila esclarece que adquirir credibilidade, diante de mudanças constantes de moedas, que marcam a história monetária do Brasil, foi fundamental para consolidar uma nova fase. Em apenas sete anos, de 1986 a 1993, foram instituídas quatro moedas diferentes (Cruzado, Cruzado Novo, Cruzeiro e Cruzeiro Real – já sinalizando para o Real).
“Foi um processo bem implantado, bem pensado”, ressalta Ávila, destacando que a comunicação teve centralidade na mudança, preparando tanto os consumidores quanto o mercado para a moeda que prometia a estabilização tanto desejada. Em 1994, mesmo antes de o Real entrar em vigor, a inflação já atingia patamares menores. De janeiro a julho, durante a fase da URV, alcançou 757,29%. No segundo semestre daquele ano, já com o Real em circulação, acumulou 244,86%.
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