Caso a demanda por pacotes turísticos internacionais durante a temporada deste verão fique estável, já é lucro. Com esta frase, a diretora da Personal Turismo, Jussara Leite, resume o pensamento de algumas operadoras de viagens que atuam no Rio Grande do Sul com foco em destinos fora do País. “Neste ano tivemos um decréscimo de 18% em relação a 2011 na procura pelo segmento internacional. Acredito que em janeiro e fevereiro de 2013 o cenário seja semelhante ao de 2012”, afirma a empresária. “Esperávamos um crescimento de 20% nas compras de pacotes para o exterior para os dois primeiros meses do ano que vem, mas isso não aconteceu”, concorda a supervisora comercial da agência e operadora Unesul/UTL, Fátima Tubino. Segundo ela, a demanda começou a baixar há dois meses. “A alta do dólar contribuiu para que isso ocorresse.”
A queda na economia também colaborou para que os consumidores gaúchos puxassem o freio quando o assunto é viajar para fora do Brasil. Pelo menos esta é a visão do diretor da operadora Clipper Travel, Ricardo Fernandes. “O pessoal se endividou: comprou carro ou apartamento”, justifica o empresário, lembrando que viagens não são artigos “de primeira, nem de segunda necessidade”. “Ou seja, neste ano muita gente optou por economizar. Passado este período, a tendência é de se estabilizar, e, aí sim, programar-se para viajar novamente.”
Jussara concorda que as pessoas têm deixado de lado o lazer. “Não que estejam sem dinheiro, mas estão escolhendo outras coisas, como a aquisição de bens duráveis. Afinal, não é sempre que se tem IPI zero ou reduzido para carros e produtos linha branca. São opções pontuais”, observa a diretora da Personal. Ela frisa que isso acontece entre as classes B e C, que têm optado por destinos mais baratos e dentro do Estado. “No caso da classe A, eles continuam viajando para o exterior, mas isso está dentro do percentual normal, não tem acréscimo.” Acostumada a vender muitas saídas para Miami, Nova Iorque, Uruguai e Chile, Jussara aponta que um dos motivos da queda de demanda para os destinos na América do Sul foi a falta de oferta de voos. “A Pluna faliu, a TAM suspendeu o voo para Buenos Aires e a Gol não faz mais direto para Santiago e Montevidéu. Isso encarece os pacotes.”
Para se ter uma ideia do impacto, Jussara dá números: a Argentina, conhecida por ser um dos destinos preferidos dos gaúchos, sofreu queda de 50% na procura. “Isso é assustador.” A diretora da Personal aponta que Buenos Aires, para onde a demanda era alta, está perdendo para países da Europa, como Portugal, Espanha e França, onde a hotelaria está “mais em conta” e os passeios são menos caros. Fátima Tubino, da Unesul/UTL, confirma que “nem para a América Latina a procura está boa”. Segundo ela, antigamente era preciso antecipar reservas, coisa que não ocorreu para a temporada de verão. “No ano passado, Punta del Este (Uruguai) foi superprocurado. Agora, caiu.”
Na Unesul/UTL, que trabalha com foco maior nos Estados Unidos e Europa, os destinos que têm tido mais demanda são Portugal, Espanha e França. “Mas quem comprou para o verão de 2013 foi porque queria mesmo, pois não estava barato. Agora, com o câmbio baixando, esperamos que ocorra um crescimento mais para a metade do ano”, diz a supervisora comercial.
Jussara Leite frisa que, apesar da baixa na demanda, a procura “não está ruim”. “O segmento vinha registrando crescimento em torno de 10%, desde 2004. Parou de crescer, agora se espera uma estabilidade, mas está bom assim.” Segundo a diretora da empresa, em 2012 a Personal embarcou 2.589 pessoas entre janeiro e fevereiro. Para 2013, a previsão é de 2.100 embarques nesse mesmo período. Fernandes, da Clipper Travel, também encara o movimento deste verão como satisfatório. “Em 2011, a demanda por cruzeiros marítimos e destinos do Caribe cresceu. Para os primeiros meses de 2013, aguardamos um decréscimo (de menos 800 passageiros) em relação ao verão de 2012, mas o mercado ainda está aquecido.” Segundo ele, a operadora deve embarcar quase 2 mil pessoas entre dezembro de 2012 e março de 2013.
Destinos nacionais acabam fortalecidos na principal temporada de férias
Mesmo com a desaceleração da economia e o endividamento dos consumidores, que reduziu a procura por destinos internacionais entre os gaúchos, ainda há forte aposta de que o cenário seja revertido. Para se ter ideia, entre os meses de dezembro de 2012 e o Carnaval de 2013, a operadora CVC disponibilizou 1,2 milhão de lugares para vendas, especialmente para os destinos com praias no Brasil e no exterior. A oferta é recorde na empresa para a alta temporada. No mesmo período do ano passado, foram em torno de 1 milhão de lugares. O detalhe é que desta oferta, cerca de 70% é nacional e 30% internacional. Segundo a assessoria de comunicação da CVC, entre os destinos que estão sendo mais procurados para o verão, estão os pacotes para o Nordeste, especialmente para a Bahia, que lidera as vendas na operadora. Estão previstos 150 mil passageiros (via CVC) para este destino somente no verão de 2013. Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu, Florianópolis, Fortaleza, Natal, Maceió e Recife, entre outros, também lideram a procura dos consumidores.
Na contramão do que dizem algumas operadoras do Rio Grande do Sul, estudo do Instituto de Pesquisas, Estudos e Capacitação em Turismo (Ipeturis) diz que a maioria das agências e operadoras de turismo no País (50,5%) acredita que a movimentação será 26,8% maior neste verão, comparada ao desempenho alcançado na temporada anterior. Neste caso, o aumento do preço das passagens aéreas para voos domésticos ajudaria a explicar o equilíbrio na preferência dos turistas brasileiros por viagens organizadas nacionais e internacionais.
O motivo do crescimento esperado seria “o aumento de gastos” dos brasileiros com viagens. “Essa é a principal justificativa destacada pelas empresas (29,6%) como fator de motivação para o aumento no movimento de turistas”, destaca Marciano Freire, diretor do Ipeturis. “Ações empreendidas pelas próprias empresas (11,2%), o aumento do poder aquisitivo dos consumidores (9,2%) e a estabilidade econômica do Brasil (9,2%) são fatores que também ajudam a explicar o cenário de otimismo setorial”, emenda Freire.